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Parnaíba tem GAECIM para atendimento de grupos em vulnerabilidade

“Eu morei com um homem nove anos e ele bebia muito, quando bebia virava um monstro, chegava em casa e quebrava tudo, se ele chegasse 10h da noite, era até 5h da manhã isso aí: ele esbagaçava tudo de facão, de machado, de enxada, quebrava tudo, até gaiola de passarinho, matava cachorro enforcado.  Fui ficando nervosa, nervosa, nervosa, e foi o tempo em que ele me agrediu com um pau de jucá, quase que eu morro! Eu estava deitada numa cama num dia de tarde e ele chegou muito embriagado, invadiu a casa de uma vez e tacou a paulada de jucá na minha cabeça e, d’alí  pra cá, eu vivo tomando quatro tipos de remédio controlado, e eu vou tomar remédio controlado pelo resto da vida. Daí em diante eu tive que alugar uma casa fora a parte pra morar com meu filho e ele ficou na minha casa. Quando eu chegava perto da casa, ele me expulsava, me chamava de todo nome, só nome feio, e eu tive que pegar uma Medida Protetiva para que ele não viesse a me matar".

Essa é a história da D. Maria*, que possui uma Medida Protetiva contra seu ex-companheiro e tem sido acompanhada por uma nova filosofia de policiamento implantada na cidade de Parnaíba.  O 2° Batalhão da Polícia Militar do Piauí, comandado pelo Tenente-Coronel Lucena, conta com o trabalho do Grupamento de Atendimento Especializado à Criança, à Mulher e ao Idoso – GAECIM – que atua desde o dia 1° de dezembro de 2015. A idéia da criação desta unidade surgiu da constatação do elevado número de casos em que esses três grupos são vitimas dos mais diversos aspectos de violências, bem como a urgência de uma forma de atendimento diferenciado, já que muitas vezes essa violência acontece no âmbito familiar.

A proposta do GAECIM é garantir a proteção de crianças, mulheres e isodos através de um atendimento mais ágil e com planejamentos específicos e direcionados, atuando de forma integrada com as Instituições Públicas, tais como: Polícia Civil (Central de Flagrantes, Delegacia Especializada da Mulher e Instituto de Medicina Legal); Ministério Público; Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania da Prefeitura de Parnaíba – SEDESC – (Conselho Tutelar, CREAS, Núcleo de Enfrentamento à Violência e Conselho do Idoso); Defensoria Pública; Secretária Estadual de Saúde através do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde –  HEDA – e do Serviço de Atendimento a Vitimas de Violência Sexual – SAVVIS –  e outros órgãos a fins.

Para isso, os policiais que fazem parte do grupamento participaram de um curso de capacitação baseado nos Direitos Humanos e nos princípios de Polícia Comunitária, para que estes tivessem mais conhecimentos sobre como agir durante o atendimento e sobre as legislações pertinentes a esses casos, tais como Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e do Adolescente e Estatuto do Idoso, agindo como elementos pacificadores e solucionadores de conflitos e crises. Além disso, a viatura do GAECIM também faz o trabalho de fiscalização de medidas protetivas, com visitas periódicas nas casas de vítimas que estão sendo amparadas judicialmente, como é o caso da D. Maria, exposto acima.

Para que as mulheres que sofreram violência sintam-se menos constrangidas e revitimizadas ao relatar suas queixas, principalmente no que se refere aos crimes sexuais, cada guarnição tem a presença de uma policial militar feminina para facilitar a coleta de informações. Além disso, a Base do GAECIM possui uma brinquedoteca para o acolhimento tanto de crianças que sofreram abusos quanto de filhos de mulheres que procuram ajuda da Polícia Militar. 
A Capitã Leoneide, comandante do GAECIM, avalia o trabalho desenvolvido como de extrema relevância para a sociedade, principalmente para as vítimas, que agora contam com o apoio de um grupamento especifico que as empodera, encoraja, orienta e protege. Para que o atendimento seja desencadeado, a unidade conta com uma rede de parceiros e, assim, diminuem-se as chances de reincidência e evolução das agressões em virtude da atuação em diversas frentes que culminam num melhor amparo às vitimas.

“Para a Polícia Militar do Piauí, essa é uma nova visão de atendimento e acompanhamento na administração de situações conflituosas, destarte, o GAECIM se torna operativo, competente e apropriado, pois evita atuações repetitivas por parte das guarnições de serviço, minimizando o retrabalho, otimizando os recursos humanos e materiais da instituição, propiciando que outras ocorrências potenciais possam ser atendidas”, afirma a Capitã.

Ainda segundo a comandante do GAECIM, os policiais do grupamento, quando ainda na capacitação, puderam compreender a complexidade deste tipo de atendimento, fato verificado no reflexo das ocorrências atendidas cotidianamente.

“Esta qualificação os instrumentalizou no combate a violência contra vulneráveis gerando assim uma maior sensibilidade e humanização à causa. Dessa forma, os policiais compreenderam que esses atos praticados por pessoa conhecida e estimada é emocionalmente mais avassalador porque abrange a violação da confiança e muitas vezes incluem vitimização repetida. Ao longo desses cinco meses a atuação do grupamento aperfeiçoou os atendimentos, evidenciando excelentes resultados no combate a violência contra esses grupos em situação de vulnerabilidade”.

O trabalho do GAECIM está apenas no começo, mas tem sido reconhecido por representantes de outros órgãos que já trabalham a mais tempo na área. Para o Gestor Operacional do NEV – Núcleo de Enfrentamento à Violência –  Sr. Raimundo Santos, os resultados levam a acreditar em um futuro melhor para nossas comunidades.

“O Grupamento veio como um grande parâmetro para o cumprimento de medidas protetivas às vítimas de violência doméstica. Para nós do Núcleo de Enfrentamento à Violência, isso é um resultado de um dos nossos objetivos que é criar a política de atendimento às vítimas de violência doméstica. E a Polícia Militar do Piauí está de parabéns por esta ferramenta de trabalho que é o GAECIM, que está tendo esse respaldo muito grande dentro da sociedade por esse atendimento especializado e por esses homens e mulheres que resolveram realmente se capacitar para enfrentar esse fenômeno.”

As famílias que são acompanhadas pela rede de atendimento que o GAECIM se propôs a integrar também aprovam a iniciativa. “É muito bom porque, que Deus defenda, chegue a hora de um perigo, pode salvar a vida da gente. Se ele souber que a Polícia está frequentemente fazendo visitas, ele não vem”, afirma D. Maria, referindo-se ao seu agressor e às visitas domiciliares de fiscalização que recebe semanalmente.

A Base do Grupamento está aberta 24 horas por dia e localiza-se na Av. Dr. João Silva Filho, nº 2530, bairro Piauí em Parnaíba-PI. Os telefones de contato para denúncias são 98858-1388, 98858-1376 e para mensagens via whatsapp 98858-1269. O Email é [email protected]. A unidade também possui página no Facebook www.facebook.com/pmpigaecim e blog para divulgação das suas atividades gaecim.blogspot.com.br .

*D. Maria é um pseudônimo utilizado na matéria como medida de segurança para proteger a privacidade da vítima.

 

Da Editoria de Cidades
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