Tonny Kerley muda postura e vira ponto de tensão no núcleo silvista
Já dizia o mestre João Guimarães Rosa: “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa”. Pré-candidato a prefeitura de Teresina, o professor Tonny Kerlley (Novo) deu uma mudada de tom nos últimos dias ou é apenas impressão da coluna? Pragmático, bate menos no PT (e ele batia com força!) e muito mais em Jeová Alencar, o vice de Sílvio. Fica claro que Tonny é um ponto de tensão no núcleo silvista. Duas perguntas inocentes, por curiosidade: Tonny, que é de direita, toma votos de Sílvio ou Fábio? A candidatura de Tonny é crucial para quem?
Exercício de imaginação
Vamos, por um momento, acreditar no que dizem as pesquisas de intenção de votos divulgadas até agora em Teresina: o futuro prefeito deve ser (deve, a coluna falou “deve”!) Sílvio Mendes (União Brasil) ou Fábio Novo (PT). Ok, quem fica com o terceiro lugar? Tendo segundo turno, o terceiro lugar importa muito. E tudo terminado no primeiro turno, o terceiro lugar sai com cacife para disputar a eleição de 2026 (deputado estadual ou federal). Temos então, Tonny Kerley, o ex-senador João Vicente Claudino e o prefeito Dr.Pessoa, a depender da pesquisa, dividindo a preferência do terceiro lugar, correto?
Só um dos três chegará lá
Ora, o prefeito Dr.Pessoa ocupa o cargo máximo da política, tem recursos e visibilidade de sobra. João Vicente é empresário renomado e ex-senador. Tonny, por ser um nome novo (com o perdão da redundância partidária, inevitável), tem, teoricamente, menos amarras para bater (quer dizer, argumentar) em quem ele quiser. E foi assim, falando o que mais ninguém podia falar, com a credibilidade (atenção: credibilidade é tudo no mercado de opinião pública) que aquele momento lhe deu, que Gessy Lima saiu da eleição de 2020 em um surpreendente terceiro lugar, sendo fiel da balança na vitória de Dr.Pessoa, o apoiando. Esse papel está em disputa nesse momento.
A estratégia
Além dos inúmeros outdoors pela cidade, o pré-candidato do Novo tem apostado em uma estratégia de aproximação com o eleitorado pelas redes sociais. Fala de Economia, solta um deboche aqui e outro ali com os adversários, e tem uma pegada de humor que os concorrentes não conseguem encampar ainda. Inevitável falar que o nome de Tonny Kerley é sempre associado no mundinho da política - frequentado profissionalmente pela colunista - junto ao do pai, o respeitado médico Aloísio Luz. Dr.Aloisio foi/é médico dos políticos de vertentes ideológicas das mais diversas, e dizem que também entende muito de política.
Viemos cobrar in loco
A turma do PDT do Piauí foi em peso para Brasília participar de congresso político da sigla com o presidente nacional, Carlos Lupi. “Quando o Lupi esteve em Teresina, informamos pra ele o que precisávamos, agora em Brasília, estamos reforçando”, brincou um dos participantes da comitiva. Claro que a coluna não ficou satisfeita com a sucinta resposta e foi atrás dos bastidores. Adivinhe? Tem mais! Acompanhe.
Querem fortalecer ou enfraquecer?
Carlos Lupi quer que o PDT tenha chapas para federal e estadual no Piauí, mas como todo mundo sabe, há uma série de compromissos políticos do PDT com o grupo do governador Rafael Fonteles para 2026. Parte do grupo que hoje está no PDT, deve ir no futuro para o PT, como o presidente da Câmara de Teresina, Enzo Samuel. Haverá mudança de planos?
E os Flávios?
Há interesse real que os deputados Flávio Nogueira e Flávio Jr, hoje no PT (mas originalmente com carreira política no PDT), voltem a assumir oficialmente a legenda mais para frente? Se fosse apostar (e a colunista não aposta), a coluna diria que é melhor minimizar os núcleos de poder dentro de um grupo, ao invés de multiplicar. Mas é só uma hipótese…
Precisava tudo isso?
A coluna sabe que voto é um negócio que está mesmo disputado. Mas será que precisam ir três deputados e um suplente para um assentamento com 60 pessoas no mesmo dia para fazer uma entrega? Calma, galera...
A homenagem do Chico
Homenagens são pequenas e simbólicas cenas da política que ilustram contextos maiores: o tamanho do homenageado, seu prestígio, sua força, o quanto é querido ou apenas temido/tolerado. No discurso, sabe-se de cara se o alvo da homenagem tem mesmo oratória ou “deixa a vida me levar” e ataca de ChatGPT. Nesse quesito, o secretário estadual de Segurança Pública, Chico Lucas, pontuou em alta, já que sua homenagem na Assembleia Legislativa do Piauí foi disputadíssima (não tanto quanto o suposto almoço pós-homenagem que a coluna só ouviu falar, e não nega nem confirma que teve).
Tacou logo Montaigne
O homem citou logo o filósofo francês Michel de Montaigne, de cabeça, pois não leu o discurso que levou. Chico Lucas quis dizer que as homenagens definitivas são aquelas dadas com distanciamento temporal, pós-morte, pois assim é possível medir, de fato, a solidez das contribuições públicas do homenageado. A coluna acha que não é para tanto. Dá sim para homenagear o povo vivo. A “Medalha do Mérito Legislativo” foi proposta pelo deputado Marcus Vinícius Kalume (PT). Nos registros, Chico com a família: a esposa Rutheene e as três filhas do casal, e com os delegados Yan Brayner, Anchieta Nery e Matheus Zanatta, homens forte da Segurança Pública no estado.
Se conselho fosse bom
Ninguém, absolutamente ninguém, está nesse momento preocupado com o que você faz ou deixa de fazer. As pessoas estão preocupadas apenas com o que você pode fazer por elas. “O desejo de ser amado é a última ilusão. Desista e você será livre”, nos avisou, generosamente, a escritora Margaret Atwood. Invista em si próprio. Quanto melhor você está – emocionalmente, fisicamente e financeiramente – melhores são as coisas para você. Os despreparados são sempre punidos pela vida. Já sabemos que o final da jornada é o mesmo para todo mundo. Sua missão é exercer o bom senso, se autorregular e encontrar sua maneira única de contribuir no mundo. Isso é muito mais difícil do que parece.
Cifrada da Boiada
Um evangélico radialista está em vias de furar a bolha de uma sigla (vamos chamar aqui de partido X) muito visado nas eleições de Teresina. O homem tem uma lista do tamanho do mundo de reclamações, a começar com o fato de que “até um cachorro no meio da rua” consegue as coisas e ele não. A coluna faz um adendo, pois é defensora dos animais e acha que os bichos merecem tudo do bom e do melhor. Continuando. Será que se furar a bolha do partido X, passa logo a boiada? Ponto de atenção nível máximo!
Foto do dia
A coluna achou interessante publicar o casual registro do vereador Venâncio Cardoso (PT), com a mãe, a conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), Flora Izabel, e o filho de Venâncio, Venancinho, assistindo TV no sofá domingo à noite. Gente como a gente. Os amigos na Câmara chamam Venâncio de “embaixador” do Governo Rafael Fonteles na Casa, pois é um defensor apaixonado. Em uma gestão de Fábio Novo, se o petista ganhar, alguém duvida que Venâncio Cardoso estará numa pasta com obras? Ah, e ainda abre espaço para um suplente na Câmara Municipal. Todo mundo sai ganhando.
A frase para pensar
“Há homens que são de todos os partidos, contanto que lucrem alguma coisa em cada um deles”, Mariano José Pereira da Fonseca (1773-1848), marquês de Maricá, escritor, filósofo e político.
A música da semana
“Ouro de tolo” é uma expressão para designar a pirita, um metal que consiste numa liga de estanho e enxofre, parecido com o ouro: mesma cor e o mesmo brilho, mas o ouro conduz corrente elétrica e a pirita não. Parece ouro, mas não tem valor algum. Raul Seixas usa a expressão no título da música da semana da coluna: “Ouro de Tolo”, externando o cerne da política (e da vida): nunca estamos satisfeitos com nada. Aos eternos descontentes, em busca do novo, sob todos os riscos, lá vai:
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso, abestalhado
Que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção
De coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado
