Cidadeverde.com

Coluna 29/05/24

Filme de terror, dívidas e promessas: o acirrado mercado de votos em Teresina

Uma coisa é a teoria. Outra coisa completamente diferente é a prática. Um pré-candidato a vereador de Teresina que trabalhou cerca de 20 anos num grupo político, decidiu sair dos bastidores e tentar um lugar ao Sol. Só não pensava que a escalada seria atroz. “É um filme de terror”, resumiu, para surpresa da colunista. “Tu vai numa reunião com 30 pessoas, tem 20 pedindo um milheiro de tijolo, aluguel atrasado, consulta no nutricionista, energia cortada, certidão de divórcio que é 200 reais. O povo não quer saber de creche nem de dipirona no posto, quer saber é do dinheiro!”, desabafou o político, em reserva. 

______________________

Como criar um vínculo em 5 min

A coluna então fez uma pergunta, ingênua: “Quer dizer então que não dá para visitar o povo em casa sem levar nada?”. Após gargalhar por 15 minutos, a fonte respondeu: “Você tem que dar. É uma realidade. Tu fica encurralado ou tu dá pra criar um vínculo com aquele povo, mesmo sabendo que as pessoas vão te trair, se não elas não vão te receber de novo. Não posso só confiar no dia da eleição pra minha quebra (de votos) não ser tão grande”, analisou, pragmático como nunca, o pré-candidato.

______________________

Vai dar namoro

Segundo outro pré-candidato ouvido pela coluna, fatos inusitados são colecionados em sequência nessas visitas: “Cesta básica, é o mínimo. O povo está passando fome. Fui oferecer uma cesta pra uma senhora de 48 anos, ela disse que preferia uma dentadura: ‘Preciso dos meus dentes pra namorar!’”, relatou o pré-candidato. P.S: Ele garantiu que daria a dentadura da eleitora. Mas só em agosto...

______________________

Cotação de mercado

O voto em Teresina está custando, em média e por baixo, segundo cinco pré-candidatos (com e sem mandato, de três grupos políticos diferentes), R$ 200 em Teresina. Isso não é generalizado. “Na reta final, sei que 30% dos meus votos vão sair de R$ 300 a R$ 400. Pensava em gastar R$ 300 mil na última semana, mas vou dobrar para R$ 600 mil”. Já outro pré-candidato, coloca na planilha o preço do voto em R$ 100. Depende muito. 

______________________

Custe o que custar

Um vereador de mandato alegou à coluna que seus cálculos são mais modestos: “Se eu gastar R$ 1,5 milhão sou um abençoado. Tenho muita promessa de ajuda e estou tentando vender um terreno. Não sou igual ao Y (suplente de vereador) que tem R$ 4 milhões pra gastar...”. Se não está fácil pra eles, imagine pra nós, não é mesmo?

______________________

Cheque especial

Claro que nem tudo são flores. “Já gastei 20 mil reais de cesta básica. Prometo dar uma cesta todo mês, nem que eu me acabe. Deixo empenhado apartamento, carro e vou pedir dinheiro emprestado. Peguei R$ 30 mil segunda e hoje não tenho um centavo”, desabafou o pré-candidato a vereador que decidiu: ou vence ou vence! 

______________________

E surge a campanha semi-orgânica

Um vereador trouxe à coluna um novo conceito. Segundo ele, há a campanha do voto livre (voto de opinião, como o da causa animal), e o de estrutura. Mas ele diz não se encaixar em nenhuma das categorias. “Minha campanha é semi-orgânica. Tenho muito voto barato, do meu bairro, que gostam de mim. Problema é passar de 2,5 mil voto. Chegando em 4 mil votos, até 5 mil, não tem mais ligação com o povo, aí a quebra é grande”. 

______________________

Nem eles sabem que vão votar em mim

As pesquisas de intenção de votos para vereador também têm deixado muita gente chateada. “Quem não tem voto orgânico (sem pagar), não aparece nas pesquisas e o povo do voto do dinheiro não tá gastando muito. Só aparece quem está na mídia, forte na rede social, quem é bonita...”. O político ouvido pela coluna aparece vez ou outra nas pesquisas, mas não acha que isso é parâmetro: “O povo ainda não sabe que vai votar em mim. Vou chegar junto na reta final”. Ah, então tá bom...

______________________

Ele foi quem não entendeu nada

A coluna perguntou ao presidente estadual do Cidadania, Mário Rogério, o motivo do rompimento da sigla com o PSDB de Teresina, afinal, os partidos são federados e demonstravam bastante afinação (até ontem!). A resposta: “Acredito que ele (Jorge Lopes, presidente da federação PSDB/Cidadania) não está entendendo. O Cidadania não rompeu. A gente concluiu que o ex-senador João Vicente Claudino não será candidato, logo acreditamos que a federação não terá candidato próprio”. Ihhh...

______________________

Acertos, desacertos e sucessos

Com o Cidadania fora (pelo menos informalmente), restam pelo menos três opções para JVC: iniciar, de fato, o movimento de pré-campanha (reuniões com classes profissionais, comunidades e eventos públicos), anunciar a desistência ou um anúncio duplo, com a desistência e o apoio a um outro nome. De qualquer forma, o lançamento do ex-senador à Prefeitura de Teresina teve um resultado colateral concreto: impedir que o número 45 do PSDB embarcasse com os firministas no barco do petista Fábio Novo. Essa parte foi sucesso, sem dúvidas!

______________________

Se conselho fosse bom

Na Grécia Antiga, os covardes, que fugiam dos combates, não podiam votar nas eleições. Tinham que raspar a cabeça e metade da barba, deixando a outra metade crescer, além de aceitar serem espancados por qualquer cidadão que os encontrasse, sem reagir. No Coliseu romano, muitos gladiadores eram voluntários, por incrível que pareça. A coluna é terminantemente contra agressões físicas, mas de fato há uma sabedoria embutida aí. Você não precisa ser um destemperado, que toma a frente de tudo para se mostrar corajoso. As pessoas só vão lhe odiar. Na vida, há duas posturas. Você pode perguntar: “O que vai acontecer comigo?” ou “O que eu vou fazer?”. Dê o salto no escuro. Não há outra maneira.

______________________

Cifrada da Fábula da Troca

Em uma terra distante, existia um imponente e resiliente rei. No entanto, o tempo, implacável, começou a pesar. Seu sub-rei, um vigoroso cavaleiro, cogitava assumir a frente de uma empreitada de vida ou morte. Uma mudança traria um fato novo, criando uma nova conjuntura em um terreno com viés de declínio? É melhor estar num patamar menor e crescer, ou começar grande e diminuir? As perguntas rondavam, em sussurros no reino, pois nenhum dos cavaleiros tinha coragem de admitir abertamente a hipótese de mudança. Algum dia, em algum lugar do mundo, o velho e o novo estarão em profunda harmonia. Esse dia não é hoje. 

______________________

Foto do dia

O que será que os comandantes do PRD no Piauí, os vereadores de Teresina, Marquim Costa e Bruno Vilarinho, irão fazer em Brasília na semana que vem? A única coisa que a coluna sabe é que o partido deve definir um rumo no dia 05 de julho e anunciar a decisão no dia 25. O “rumo”, no caso, seria não dar a legenda para o prefeito Dr.Pessoa e apoiar o pré-candidato do PT, Fábio Novo? “Até o X (ex-secretário forte de Dr.Pessoa) está puxando pro Fábio. Mas tem dois lá que puxam pro Sílvio (Mendes)”, analisou uma fonte que orbita na sigla, sobre a incógnita. A turma tem mandado sinais ao Palácio da Cidade: “Queremos que o prefeito faça um movimento grande também para se contrapor ao Fábio e Sílvio. O combinado desde sempre era chegar aos dois dígitos para disputar!”, frisou um emissário, em reserva. E agora?

______________________

A frase do dia

“A arma mais inexorável com que Getúlio Vargas trucida os adversários é o perdão das injúrias. Nenhum homem matou tanta gente no Brasil só com o emprego da misericórdia cristã quanto ele”, Assis Chateaubriand (1898-1968), jornalista.

______________________.

*A coluna não é de ferro e, portanto, não circula no feriado de Corpus Christi. Ao leitor, paciência, sexta-feira, 31, estamos de volta.