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Coluna 05/07 e 08/07/2024

Me gravaram, mas vão levar o troco

Um político que costuma ser bem votado em Teresina descobriu esses dias que foi gravado enquanto estava jogando conversa fora na Câmara da capital. Questionado pela coluna sobre o teor da conversa, respondeu: “Eu lá sei o que eu disse... acho que falei que o X e o Y (dois pré-candidatos a vereador) iam gastar de 3 a 4 contos (milhões de reais), não foi nada demais”, pontuou o parlamentar. Apesar de não ter falado “nada demais”, ele garante que quando descobrir a identidade do autor da gravação irá “mandar dar uma taca nele depois da eleição”. A coluna enfatiza ser totalmente contra a violência como forma de resolução de conflitos. Essa pequena e singela história real reflete o clima tranquilo da eleição na capital, leitor.

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Ninguém pode descobrir que eu te apoio I

Assim como um vereador deve anunciar apoio a Fábio Novo nos próximos dias, outros dois estão com Novo, mas sem perspectiva de anúncio formal. Funciona assim: eles indicam as lideranças para votar no petista, mas preferem não publicizar o fato para não perderem o que possuem no bom lugar onde estão hoje. O chato é se o pré-candidato a prefeito “enganado” da história descobrir e retaliar antes...

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Ninguém pode descobrir que eu te apoio II

Claro que não é apenas Fábio Novo que têm conseguido adesões. A coluna sabe de pelo menos dois vereadores no exercício do mandato que já realizaram até reuniões para defender o nome de Sílvio Mendes nas comunidades onde são votados. Eles, no entanto, também não vão fazer nenhum anúncio. As defecções, por coincidência (ou não), são de um mesmo partido. Nessa eleição, os amadores estão vetados. Só entra profissional!

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Diga ao Mário Rogério que ele está fora

A adesão do presidente do Cidadania no Piauí, Mário Rogério, ao petista Fábio Novo, pode ser punida? Segundo o presidente da Federação PSDB Cidadania Jorge Lopes, sim. Lopes alega que Mário Rogério violou um dos artigos do Estatuto da Federação. “Por conta da decisão considerada ilegal, ficam instáveis as candidaturas dos pré-candidatos a vereadores do Cidadania que não seguirem a decisão do projeto nacional do PSDB, que definiu candidatura própria nas 200 maiores cidades do País”, disse Jorge Lopes à coluna.

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Pois diga ao Jorge Lopes que ele é que está fora

A colunista, fazendo o mínimo do jornalismo, que é checar, encaminhou a nota de Jorge Lopes a Mário Rogério. A resposta, sem tirar nem pôr uma vírgula, foi essa: “Sávia, boa tarde. Essa nota foi enviada do Meduna (antigo manicômio de Teresina)?”. E completou, questionando se Jorge Lopes “não sabe ainda que os pré-candidatos do PSDB já estão todos com o Fábio Novo? Ah, uma coisa ele sabe, mas não conta pra ninguém: o Perillo já despachou ele faz é tempo”. A coluna suprimiu alguns termos da última fala, pelo bem da política! Com a tréplica, Jorge Lopes!

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O sentimento da eleição de Teresina

Quem vive no mundinho da política (como a colunista e o leitor), gosta de especular as razões do voto, mas no final o que vale mesmo é a contagem de cabeças. O voto é o último ato de um longo processo de persuasão e deliberação. A decisão de cada um é: quem atende aos meus melhores interesses? Nas eleições, as forças políticas processam seus conflitos seguindo algumas regras e equilibram os sentimentos de desapontamento e esperança vindos do eleitorado. Dito isso, qual é o sentimento da eleição de Teresina?

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Queremos mudar, mas mudar pra onde?

O sentimento da eleição de Teresina é “nenhum”. O pleito de 2024 difere de maneira significativa do de 2020, quando havia o sentimento de experimentar o que seria uma gestão diferente daquela então conhecida, a do PSDB. Essa é uma eleição sem sentimento, em que o leitor flerta com o passado, olha para o futuro, mas não tem certeza de nada. Se for para arriscar um sentimento, poderia ser esse: a incerteza. 

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Tudo que é sólido se desmancha no ar

A incerteza dos números das pesquisas de intenção de votos, que diferem de maneiras tão díspares a ponto de o eleitor não saber mais qual é a realidade do cenário (e talvez seja essa a intenção). A incerteza do poder da estrutura, de até onde vai a transferência de votos e se aquilo que funcionou antes ainda vale para hoje. Vence quem transmitir confiança, vence quem errar menos. E é nisso que os dois lados estão apostando para minar no adversário. É um jogo com clara tendências, com um favorito, mas também é um jogo em aberto, um jogo para ser jogado. 

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Para ler, ver e ouvir

Está disponível para aluguel nas plataformas digitais de streaming (a colunista assistiu na Apple TV) o documentário “Partido”, que mostra os bastidores da campanha presidencial de 2018 no PT. Na época, o leitor deve lembrar bem, o candidato no lugar de Lula (que estava preso em Curitiba) foi o ex-ministro da Educação e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em uma das cenas, sem que o interlocutor seja identificado, Haddad reclama das “quintas colunas” (traidores) dentro do PT. 

O documentário tem viés favorável a Haddad, mas mesmo o leitor mais crítico ao PT deve assisti-lo, seja pelos momentos de intimidade que revelam o personagem Haddad fora das câmeras, seja porque a obra aponta alguns dos motivos implícitos não só da derrota petista naquele momento, assim como a vitória contra o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. 

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Se conselho fosse bom

Como ter “sorte”? Talvez começando a cuidar da sua própria vida em vez de emitir qualquer juízo de valor sobre a vida alheia. Tome a decisão de nunca corrigir ninguém que esteja errado, a menos que você seja pago para isso. Pratique essa pequena atitude e encontrará a paz instantaneamente. Você nunca pode ensinar a ninguém nada que essa pessoa já não esteja predisposta a aprender. Complete o ciclo nunca se vitimizando (80% não se importa e 20% fica feliz pelos seus problemas). Você nasce para um novo tipo de despertar quando abre mão de controlar bobagens externas e foca em alocar sua consciência em um estado interno de confiança, presença e amor.

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Cifrada do Rei Amarelo e do Rei Branco

Era uma vez, em um reino distante, dois soberanos, um mais velho e outro mais jovem, que governavam terras vizinhas. O primeiro, o Rei Amarelo, mesmo com o reino em declínio, com campos secos e sorrisos escassos, ainda tinha força. O Rei Branco, por sua vez, dominava terras maiores, com ideias inovadoras e popularidade crescente. Para o monarca maduro, o jovem rei o persegue, não dorme sem pensar nele e sonha em destruí-lo. Vendo conspiração em cada gesto, rivalizava em eventos e agendas com o outro monarca. A disputa unilateral seria inócua, se uma guerra com consequências maiores não estivesse esperando mais a frente, no horizonte de ambos...

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Foto do dia

Registro do ex-senador João Vicente Claudino (ex-PSDB) após declarar apoio à vereadora Fernanda Gomes (Solidariedade) na disputa eleitoral na capital. Os fios tecidos nos bastidores apontam a interlocução do pai de Fernanda, o deputado Evaldo Gomes, vice-presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, na costura do apoio de peso. Além de reforçar a pré-campanha de Fernanda, que trabalha para estar entre as mais votadas (coisa de 8 mil votos), o gesto deixa claro que o passo natural para JVC ao apoiar uma vereadora da base de apoio ao deputado Fábio Novo (PT) é, logo à frente, apoiar o próprio Novo à prefeitura de Teresina. Questão de horas ou de dias?

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A frase para pensar

"Quando você joga com Bobby [Fischer], não é uma questão de ganhar ou perder. É uma questão de sobreviver”, Boris Spassky (1937), grande mestre de xadrez russo, comentando as partidas contra Bobby Fischer, o primeiro e único campeão nascido nos Estados Unidos e tido como um dos maiores da história.

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Música da semana

O violoncelista brasileiro Antonio Meneses, de 66 anos, se afastou dos palcos e cancelou todos os compromissos após descobrir um tumor cerebral agressivo em junho. Ele vivia na Suíça, onde lecionava. Em homenagem a Meneses, à música brasileira e à vida - que passa veloz - a coluna deixa o leitor com a gravação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, das obras do compositor carioca Heitor Villa-Lobos, o nome mais conhecido internacionalmente da música sinfônica brasileira. A interpretação é de Antonio Meneses sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky. Para a apreciação: