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Coluna 11/07/24

Por Sávia Barreto

Aborto e casamento homoafetivo: o fator pauta de costumes na eleição de Teresina

Eleição: temperatura de alto forno, hostilidades e paranoias de sempre. Campanhas precisam elevar a frequência cardíaca, todo mundo sabe. Apesar disso, a política no Brasil é aversa ao enfrentamento, como lembra o antropólogo Roberto DaMatta. Os brasileiros preferem subterfúgios e fingimentos. Como aparentemente, é assim que a banda toca, vamos adiante com isso. Qual lugar terá a pauta de costumes na eleição de Teresina? Essa é a faca de dois gumes de Fábio Novo (PT) e Sílvio Mendes (PSDB) rumo ao Palácio da Cidade? Se é uma faca, quem estará do lado do cabo?

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Assinei sem me ater aos mínimos detalhes

Essa é uma discussão interminável. Mas nem por isso a coluna se furtará a fazê-la. Nos últimos dias circulou, e bem, a assinatura de Sílvio Mendes em uma carta pró-evangélicos que tem, entre seus pontos, o apoio ao Estado de Israel, contra o aborto e a liberação de drogas, e o casamento apenas o padrão descrito pela Bíblia (tradução: heterossexual). A situação foi plenamente aproveitada pelos apoiadores de Fábio Novo para enquadrar Sílvio como "bolsonarista". Para ganhar, Mendes precisa do voto lulista - só desenhando pro leitor. Sílvio atacou (com os evangélicos), Fábio contra-atacou (pinçando trechos da carta). E agora? A coluna traz perguntas de praxe e, de brinde, algumas respostas.

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O tal lado B

“Então, essa pauta de costume está fora da nossa campanha, até porque ser favorável ou contra aborto nada tem relação com um prefeito. Ser favorável ou contra casamento homoafetivo, também. No nosso lado não falamos sobre isso, a não ser que ele seja perguntado. Do lado oficial do outro lado não vai ser falado sobre isso, a não ser que seja perguntado. O grande problema são os lados B da história”, argumentou à coluna um interlocutor privilegiado da mesa de decisões no entorno de Sílvio Mendes, em reserva. 

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Não vamos tocar nesse assunto

“O SM (Sílvio Mendes) assinou a carta de compromisso com a frente evangélica, qualquer candidato que se deparasse com essa carta na sua frente assinaria. Pergunte ao Fábio se ele se recusaria, pergunte ao Dr. Pessoa, FHC, Lula, Bolsonaro. Mas, de novo, não faremos ataques nem trataremos pautas de costume em nossa campanha”, completou o silvista à coluna.

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A gente vai tocar nesse assunto sim

Já um deputado federal pró-Sílvio pensa diferente. Ele revelou à coluna que o raciocínio é o seguinte: “O eleitor de Teresina é sim conservador e temos muito a falar sobre o aborto, banheiro unissex e pautas que a esquerda defende”, admitiu. Como há uma aparente contradição nas duas falas, o leitor fica livre para concluir: as campanhas oficiais, nem de Sílvio nem de Fábio, não pautarão agenda de costumes, pois ambos perdem com isso. Já os tais “lados B” (apoiadores e propagadores de informação)... três pontinhos!

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A aranha na teia

Um pré-candidato a vereador (apoiador de Fábio Novo) e que tem bastante experiência em gestão pública, acredita que ambas as campanhas erram ao operar nessa frente: “A população quer saber de saúde, transporte, limpeza, emprego... Quem discute costume é evangélico e intelectual. Eu iria atrás do eleitor do Bolsonaro, que em 2022 foi 30% em Teresina, sem se declarar Fabionaro, mas é importante conquistar esse eleitor”.

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Um tanto elementar, é verdade

Como Sílvio precisa congelar a perda de votos, já que seu piso era alto e tende a derreter, e como Fábio tem que conquistar não apenas os indecisos, mas os eleitores de Sílvio e Bolsonaro no passado, esse é um jogo de mexidas milimétricas. É uma campanha de agenda (quem pauta os temas do debate público) e de enquadramento (qual olhar se dá aos assuntos debatidos).

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A beleza da guerra

O leitor que quiser ler (por prazer) o historiador grego Heródoto, vai conferir essa passagem destacada pela coluna, que exemplifica o tipo de coragem que é necessária para vencer. Nas palavras de Diecenes, de Esparta:

Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que o sol seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o número deles, respondeu-lhe sem pertubar-se: ‘Nosso hóspede da Traquínia nos anuncia toda sorte de vantagens. Se os medos cobrirem o sol, combateremos à sombra, sem ficarmos expostos ao seu ardor”.

Belo, não é? Se o leitor discordar, a coluna não ficará ofendida. Afinal, para discordar é preciso ler a coluna. E se ela foi lida, a missão foi cumprida. 

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Se conselho fosse bom

Se você tiver um mínimo de êxito na sua carreira e projetos pessoais, a inveja será uma preocupação real na sua vida. Se seus superiores críticos lhe derem conselhos, agradeça e atribua seu sucesso a eles, mesmo que os conselhos sejam completamente inúteis. Ao falar, use sempre um certo humor depreciativo, minimizando seu papel e aumentando o de outras pessoas. Mascare seus níveis de inteligência e poder, pois até as pessoas de status elevado podem ficar ressentidas quando veem alguém de status inferior com mais capacidade que elas. Se camufle para sobreviver à selva.

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Cifrada das Contas que Não Batem

Um suplente de deputado estadual está intrigado com a divisão de votos de um colega deputado estadual, que caminha numa bem sucedida pré-campanha para prefeito de uma cidade acolá. É que o suplente tem a promessa, avalizada por dois cabeças do andar de cima, que parte dos votos do deputado vão para ele. O problema é que tem mais três vereadores que querem ser deputados, outros dois deputados que desistiram de pré-candidaturas próprias e um pré-candidato a prefeito do extremo Sul do Piauí que fizeram o mesmo acordo e estão esperando os mesmos votos. Vai dar para todo mundo? A coluna, que não é fã de Matemática, não sabe informar se as contas batem...

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Foto do dia

O Governo Lula tinha dois problemas (dentre outros, mas focaremos nos principais): economia e comunicação. A melhora nos dois índices ocasionou diretamente o crescimento na popularidade do presidente, medido pela pesquisa Genial Quaest divulgada essa semana. A aprovação do jeito de governar cresceu de 50% para 54% enquanto a reprovação desceu de 47% para 43%. Os motivos são esses: se as pessoas vivem melhor, dão crédito ao Governo. Se vivem pior (independente de ser culpa ou não do Governo de ocasião), culpam quem está sentado na cadeira.

Com a inflação dando trégua, o cenário positivo ficou completo com Lula rodando o Brasil, dando muitas entrevistas em cada estado (ou seja, pautando a agenda) e falando a tal “língua do povo”. Fechou a trinca escolhendo um vilão que não fosse Bolsonaro (este, cresce no enfrentamento): o “mercado” com o rosto de Roberto Campos Neto, e os juros altos. Não tem segredo. 

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A frase para pensar

“Um erro cometido duas vezes é uma lição que não aprendemos”, anônimo.

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