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Por que a crise na pesquisa pode afetar nosso futuro?

O Brasil é um gigante adormecido. O Brasil é uma das maiores potências mundiais, sem qualquer dúvida, mas possui muitos indicadores que o colocam como um dos piores países em qualidade de vida. Somos um dos maiores países em área contínua do planeta. Situamo-nos numa faixa da Terra onde a natureza nos favorece, pois além de apresentarmos a maior biodiversidade do planeta, temos um clima adequado para agricultura e pecuária. Temos riquezas minerais pujantes como ferro, bauxita, nióbio, petróleo, ouro e muitas outras riquezas. Um lugar de infinitas riquezas, mas de uma pobreza latente relacionada à forma como trata seu povo.

Apesar de acumularmos muitas riquezas, apresentamos índices educacionais vergonhosos. No Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes, o PISA, que comparou o desempenho de estudantes de 70 países, amargamos a 58ª posição no item Letramento, a 63ª em Ciências e 65ª posição em Matemática. Enquanto a média obtida na prova de Ciências pelos estudantes brasileiros foi de 401 pontos, a média dos demais estudantes que fizeram a prova foi de 493 pontos, ou seja, estamos bem abaixo da média. É como se a média da escola fosse 7 e estivéssemos com 5,5.

Como se isso não fosse um grave problema, refletido em nota de uma avaliação internacional, o atual governo anuncia cortes sobre cortes nas verbas referentes a bolsas para estudantes da educação básica, estudantes de graduação e da pós-graduação. O sistema brasileiro de pesquisas científicas é um dos mais frágeis do mundo, com bolsas de estudo com valores ínfimos. Para se ter uma ideia uma bolsa de Mestrado sai por R$ 1.500,00 e a de Doutorado, R$ 2.200,00. Estes valores são os mesmos praticados há mais de 10 anos. Mas cabe a pergunta: por que devemos nos preocupar com estes cortes?

Cerca de 99% da pesquisa no Brasil advém das universidades. Nas universidades que se prezam pratica-se o tripé de pesquisa, ensino e extensão. A pesquisa é responsável pela produção do conhecimento. O ensino é responsável pela reprodução do conhecimento para a formação de pessoas, enquanto a extensão é responsável pela disseminação/popularização deste conhecimento. Assim, tudo o que se produz de novo, em diferentes áreas do conhecimento advém da pesquisa. Ao cortar bolsas o governo está tirando oportunidades de novos talentos no Brasil se engajarem na produção de novos conhecimentos.

Praticamente tudo o que usamos no mundo atual advém de alguma pesquisa que avançou, resultando em um produto e na sua evolução. Do pão e da manteiga que comemos no café, passando pelo smartphone que não largamos, o transporte que nos conduz, enfim, tudo o que usamos. A pesquisa é a responsável por tudo isso. A pesquisa de melhoramento que gerou a variedade de trigo que faz o pão ou a linhagem das vacas que produziram o leite que foi usado para manteiga, passaram antes por um laboratório e pelas mãos de um ou mais pesquisadores, que empenharam seu tempo e, na grande maioria das vezes, foram remunerados pelas bolsas que citei acima. Mas basicamente, das coisas que citamos, quase tudo vem de fora. Os smartphones, por exemplo, resultaram de parcerias entre grandes empresas que os lançaram comercialmente com universidades que geraram recursos como o touchscreen, por exemplo, bem comum nos aparelhos que se usam na atualidade, em algum lugar nos Estados Unidos, Japão ou Coreia do Sul.

Um exame rápido na balança comercial brasileira vai nos mostrar o quanto nossa economia se vincula as nossas riquezas particulares desta nação-continente: dos 10 principais produtos que mais vendemos apenas um advém do conhecimento científico: aviões produzidos pela EMBRAER. Os demais são resultado do favorecimento da natureza que falamos lá no primeiro parágrafo.

Os cortes das bolsas não vão comprometer a geração atual. O corte vai comprometer as próximas gerações de brasileiros.

Até a próxima...

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