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A história do “menino da internet”

Nestes tempos de pandemia observamos que as desigualdades se tornaram bastante acentuadas. Especialmente, quando falamos de educação. Enquanto estudantes de escolas privadas dividem o seu tempo entre videoaulas e lives com seus professores, muitos estudantes de escolas públicas aguardam o sinal de internet que não os alcança, ou tentam acompanhar os conteúdos por meio de material impresso. O mesmo ocorre nas instituições de ensino superior: enquanto estudantes de instituições privadas assistem aula de seus professores através de plataformas online, os de instituições públicas ainda esperam suas IES sinalizarem algo para a continuidade dos seus estudos.

O mundo acadêmico sempre teve este apartheid, especialmente quando nos referimos ao acesso às publicações científicas das grandes empresas de editoração de revistas científicas que cobram muito caro para que se alcance produções acadêmicas.

Muitos pesquisadores defendem que os dados científicos devem ser abertos, para que a ciência cresça de modo colaborativo. Mas as editoras dos principais periódicos acadêmicos têm políticas próprias de assinatura e acesso o que dificulta um acesso mais amplo, dificultando que mais pessoas possam deter mais conhecimento e interferindo até na reprodutibilidade da ciência, um dos seus pilares mais importantes.

Nos anos 2000 um jovem prodígio norteamericano chamado Aaron Swartz tentou mudar isso meio que na marra. Como um defensor de uma ciência de dados abertos, o jovem Aaron acessou o repositório de artigos da gigante Jstor a partir de uma invasão no sistema do MIT e foi pego pela segurança do instituto. Preso por violação dos direitos autorais, mas defendendo a bandeira de que os recursos arrecadados com o compartilhamento pago aos artigos deveriam ir para seus autores e não para as editoras, ao sair da prisão, Aaron comandou uma verdadeira cruzada pelo acesso ao conhecimento científico.

A história de Aaron que, aos 12 anos criou uma espécie de Wikipedia para acesso da sua família e seus amigos e aos 13 anos foi um dos criadores do RSS feed (RSS significa Rich Site Summary, ou Resumo do site completo, em tradução livre), mecanismo que permite que se colete rapidamente todas as atualizações sobre determinado tema na internet, aponta para um gênio em ebulição. Depois da prisão e de não aceitar um acordo onde ficaria preso por um tempo curto desde que deixasse a militância pelo acesso livre de dados, Aaron foi encontrado morto em seu apartamento em Nova York, aos 26 anos.

A história de Aaron foi contada em um vídeo que disponibilizo abaixo para quem quiser conhecer mais detalhadamente sua cruzada em defesa do acesso livre e ao compartilhamento de dados abertos, especialmente em nome da coletividade.

Em tempos de pandemia, a história de Aaron precisa ser difundida, pois a humanidade está correndo riscos de ser extinta. O desequilíbrio econômico provocado pela pandemia, a insegurança dos gestores nas tomadas de decisão, a corrupção dos aproveitadores no desvio de recursos públicos em razão da situação de calamidade, a falta de investimento na pesquisa científica, a desnecessária briga política (cenário exclusivo do Brasil), a desnecessária briga de egos e de recursos econômicos entre o uso de medicamentos patenteados e protocolos com medicamentos de patente quebrada, precisam ser revistos.

Boa semana para todos (as).

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