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O maior de todos os desafios

Desde 16 de março começamos uma nova jornada nas nossas vidas. O início da pandemia e das medidas adotadas para evitarmos um desastre maior começaram neste dia e vamos passar muitos anos para superar os problemas decorrentes de todas as decisões adotadas, derivadas do medo da proliferação da doença. De todos os segmentos afetados, sem qualquer dúvida, o que mais sofreu foi a educação.

Daqui para frente a ideia será a de tentar minimizar o prejuízo causado com o fechamento das escolas e a suspensão das aulas presenciais. Aqui no Piauí o fechamento e a suspensão das aulas presenciais atingiram de cheio alguns segmentos como creches, infantários, escolas de educação infantil, escolas de ensino fundamental, 1º e 2º anos do ensino médio e universidades públicas. O problema tem diferentes aspectos.

Para as crianças menores a estratégia de aulas remotas não surte o mesmo efeito da escola presencial. As escolas se desdobraram na produção de aulas para aplicação assíncrona, bem como nas aulas ao vivo. Escolas privadas se esmeraram em produzir cenários, vinhetas e professoras para lá de estimuladas na gravação das aulas com os pequenos. Entretanto, nada substitui o contato da professora com os pequenos e principalmente a socialização destes com os coleguinhas. Ouvi de alguns pais que no começo até funcionou muito bem, mas depois as crianças já estavam enjoadas das aulas televisionadas. Um amigo chegou a dizer que a filha só queria assistir as aulas ao vivo, uma prova de que a interação faz muita falta. Já nas escolas públicas o que aconteceu mesmo foi a suspensão total de atividades, embora os conselhos de educação tenham se desdobrado em regulamentar as atividades remotas para que pudessem valer como atividades letivas.

Para o ensino fundamental, as aulas remotas já apresentaram outro resultado. Algumas crianças, embora reclamando, continuaram suas aulas, fazendo atividades síncronas e assíncronas. Os pais estranharam o comportamento de algumas. Mas são aqueles pais que, em geral, não conhecem os filhos que tem, ou pelo menos até antes da pandemia, não conseguiam acompanhar ao ponto de conhecê-los e saber quando se comportam quando estão em atividades de aprendizagem. Neste caso algumas verdades sublimaram.

Os maiores, do ensino médio, especialmente os da série terminal, tiveram a possibilidade de concluir seus cursos de forma presencial. Mesmo com adiamento do ENEM, as atividades desenvolvidas vão deixar poucas sequelas. Exceto para os que, naturalmente, já apresentam algumas dificuldades.

No ensino superior, valeu a máxima de que quem paga sai de fato na frente. As instituições privadas rapidamente adaptaram suas aulas por meios remotos. As diferentes plataformas viraram rotina para professores e estudantes e apenas as aulas práticas ficaram prejudicadas, e só agora, no final do ano, estão se desenvolvendo, mas observando os protocolos de saúde. Nas instituições públicas ficou patente o lado mais obscuro da inoperância. As atividades de pesquisa continuaram, com algumas restrições. O ensino de pós-graduação sofreu um adiamento inicial, mas logo em seguida, ajustou-se de forma remota, o que incluiu atividades de orientação e até defesas de qualificações e de dissertações e teses. Já o ensino de graduação permaneceu cambaleante. As universidades federais voltaram de forma incompleta. Muitos professores alegaram não possuírem condições para ministrar aulas de modo remoto, e a grande maioria dos estudantes não tem condições de acompanhar aulas por meio digital, seja pela falta de equipamentos ou por deficiência da internet. A pandemia escancarou as dificuldades que já existiam e expôs a incompetência de muitos gestores universitários.

E 2021?

O ano que vem será uma continuidade do ano de 2020. Os sistemas educacionais esperam que as escolas e redes entendam que o biênio 2020-2021 seja um continuum. De fato, o mais importante será diagnosticar o que as crianças aprenderam em 2020. E 2021 deve tentar recuperar o que não ficou bom em 2020 e complementar com o que vem pela frente. A ideia é de que o ensino será híbrido. Seja porque muitos pais não confiarão em mandar seus filhos para escola, seja porque as escolas estarão incumbidas de fazer esta transição. Neste sentido, o uso de plataformas e metodologias ativas pode ser um diferencial.

O melhor de tudo é que para professores, escolas, pais e, principalmente, estudantes, a travessia desta pandemia separará os resistentes e resilientes num outro patamar. Em essência é a teoria da seleção natural posta à prova. Escapar vivo e ajustado é o maior de todos os desafios.

Boa semana a todos (as)

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