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Por que a Sputinik V foi vetada pela ANVISA?

A tentativa de aquisição da Vacina Sputinik V produzida pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya por parte de um considerável grupo de Governadores de alguns estados brasileiros esbarrou no veto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão do Governo Federal responsável pela autorização da distribuição das diferentes vacinas no Brasil.

A ANVISA argumentou no seu relatório a falta de dados suficientes para atestar a segurança e a eficácia da vacina que, de acordo com os fabricantes apresenta 91,6% de eficiência, entre pessoas que não contraem ou contraem apenas uma forma leve da doença. Emissários da ANVISA não foram autorizados a visitar algumas das instalações russas de produção da vacina, o que aumentou as suspeitas sobre o que de fato se tinha para esconder sobre a eficácia e segurança do imunizante.

Desde quando começou esta pandemia, o país encontra-se imerso em uma campanha negacionista, por parte dos defensores e seguidores do Presidente da República, com eventos que vão desde a reprovação das medidas de isolamento social, passando pelo uso de máscaras e adoção de um protocolo com medicamentos inócuos para o combate a doença (seja fruto de automedicação até a indicação por médicos que esquecem que remédio para verme não destrói vírus, mas insistem em recomendar o uso “profilático”, o que na minha opinião é um absurdo). Do outro lado, um considerável número de Governadores e Prefeitos, muitos desorientados, outros com boas intenções, mas muitos sob suspeita de um comportamento nada republicano de aquisição de equipamentos, desvio de recursos públicos para construção de hospitais de campanha, dispensas de licitação suspeitas e outras oportunidades de desrespeito aos recursos públicos. Esta confusão de dois lados – direita e esquerda – piora bastante a situação dos brasileiros que estão apavorados com a doença e se sentem prejudicados pelos tomadores de decisão, tanto de um lado quanto do outro, ao tempo que o país ultrapassa a marca de 400 mil mortos.

As justificativas da ANVISA fazem todo sentido, especialmente pela estratégia usada pelos cientistas russos que utilizam Adenovírus no processo de fabricação do imunizante. A favor dos russos destaca-se um ensaio publicado pela revista científica The Lancet, no qual um estudo realizado com 20 mil pessoas, atestou, de certa forma a idoneidade da vacina Sputinik V.

Pelo sim, pelo não, como pesquisador, achei coerente o barramento do uso desta vacina aqui no Brasil, até que o Gamaleya consiga apresentar todos os dados para ANVISA. Já temos problemas demais para que a possibilidade de uso de um imunizante que não tem eficácia e segurança garantidos venha a nos causar mais problemas. A revista Science da semana passada traz detalhes sobre a possibilidade dos Adenovírus usados no imunizante e modificados, induzirem células do corpo a reproduzirem, podendo inclusive gerar a doença a partir da vacina, o que seria temerário.

Sou favorável ao uso de qualquer tipo de imunizante, mas o aval das agências reguladoras como a ANVISA do Brasil ou a FDA dos EUA, por exemplo, é essencial. A COVID-19, por si só, é uma doença excessivamente traiçoeira e não precisamos de mais nada para torná-la ainda pior. O Brasil, neste momento, desenvolve a Butanvac, cujos resultados têm sido bem promissores. Acho que esta vacina será a mais aplicada nos próximos anos por não depender de recursos externos. A campanha de vacinação de COVID-19 vai entrar definitivamente no calendário de vacinas do mundo inteiro, requerendo ministração anual.

Boa semana para todos (as).

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