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Fake News e Ciência

Nestes tempos de pandemia um dos maiores desafios dos divulgadores em ciência é tentar explicar coisas básicas para as pessoas com o objetivo de melhorar o grau de discernimento destas no momento de julgar se uma informação que recebeu por uma das redes sociais é verdadeira ou se é fake news.

Cena 1. Dia desses cheguei na casa dos meus pais e minha mãe estava vendo/ouvindo um destes “criadores de conteúdo” pelo YouTube. Antes de fazer qualquer julgamento e falar qualquer coisa, me pus a ouvir o emissor que falava de vacinas. Ouvi atentamente ele descrever sobre o vírus SARS-CoV2 com uma intimidade absurda: “a questão é que a Proteína S é formada por um DNA que é capaz de contaminar o DNA humano de forma irreversível...” Blá-blá-blá... E seguiu metendo a crítica nas vacinas. Naquele momento me subiu uma ampliação da ojeriza do mundo em que vivemos de forma absurda.

Cena 2. Tinha lido há uns dias uma crítica bastante interessante sobre o filme “Não olhe pra cima” escrito pelo autor do Blog 1000 coisas para fazer, aqui do Cidadeverde.com, e que foi um dos incentivos que me levaram a buscar assistir ao filme mais rapidamente. No filme estrelado por Leonardo DiCaprio, que faz o papel de um astrônomo, logo no início, ocorre a cena de uma entrevista na qual Randall Mindy (DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) foram convidados a falar sobre a chance alta de um cometa se chocar contra a Terra, provocando a destruição da vida no planeta. A entrevista sobre ciência é colocada no final do noticiário e os jornalistas aparecem completamente alheios a tudo que se passa, perguntando sobre temas genéricos e suscitando as falas dos cientistas como uma “atração” do programa. O filme é uma sátira perfeita de uma realidade cortante de total desprezo e maquiagem da informação que se repete de forma frequente, especialmente nos programas de TV.

O que a Cena 1 tem a ver com a Cena 2? O papel dos divulgadores de ciência. O mundo está repleto de bons divulgadores e me inspiro em nomes como os cientistas Stephen Jay Gould e Richard Dawkins nas abordagens que faço. Mas por aqui temos nomes que sublimaram bastante à mídia nestes tempos de COVID-19 como Átila Iamarino e Natália Pasternak. Átila Iamarino é um biólogo com Doutorado em Virologia e um dos donos do Canal Nerdologia no YouTube com mais de 3,2 milhões de seguidores. Natália Parternak é bióloga com Doutorado em Microbiologia atuando como colunista do Jornal O Globo e de outros veículos, tendo sido agraciada em 2021 com o Prêmio Jabuti pelo livro “Ciência no Cotidiano”. Foi indicada pela BBC uma das 100 mulheres inspiradoras e influentes do mundo pelo seu trabalho contra a desinformação no período crítico da pandemia de COVID-19.

Precisamos (nós, professores, pesquisadores e demais formadores de opinião) combater com veemência a desinformação instalada no país por pessoas mal-intencionadas. Isto não tem a ver com política. Se o camarada acha que colocar ozônio pelo reto ou se encher de remédio para malária (cloroquina) ou para piolho (ivermectina) cura COVID-19 é problema dele. Mas divulgar tratamentos inócuos e inventar situações e contextos e propagar isso pelas redes sociais só tem um nome: fake news. Pode achar ruim quem quiser, mas a pandemia está cedendo em função das vacinas. Enquanto a cobertura vacinal não for plena, a pandemia não nos deixará. As novas variantes irão surgir onde mais pessoas estão dependendo da imunização. Quanto mais pessoas vacinadas, menor será o espalhamento da doença. Simples assim. O que não é tão simples é convencer as pessoas mais velhas que, muito do que se propaga pelas redes sociais é fantasioso e danoso.

Em tempo: o divulgador de fake news que falei na cena 1, nesta única frase que pesquei da “palestra” dele, cometeu vários erros: Proteína não é feita de DNA, vírus SARS-CoV2 é um vírus de RNA etc.

Até a próxima...

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