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“Isto tem uma solução trivial!”

Costumo sempre a dizer para meus alunos da Graduação que a formação de um professor não se dá somente na universidade. O professor é um misto de tudo o que ele experimentou na vida em termos de modelo de docência. Sou professor há 35 anos e nunca tive uma aula ensinando sobre como me conduzir como professor. Esperava algo mais prático da disciplina de Didática que está na estrutura de todos os cursos de Licenciatura.

Gosto muito de dizer que somos a imitação dos melhores e dos piores modelos de professores pelos quais nós passamos. Isso não aconteceu somente comigo e continuará acontecendo com todos os que um dia tentarem entrar em uma sala de aula, de qualquer nível, em qualquer lugar e com estudantes de qualquer idade. Ao longo da construção do meu modelo peguei o que existia de melhor de todos os que professaram para mim e observei bastante o que existiu de pior, para que eu soubesse o que “não fazer”, por experiência própria, também. E posso me definir como um apanhado de grandes mestres pelos quais passei, ao longo de uma trajetória de estudante da educação básica, dois cursos universitários (sendo um abandonado no meio do caminho) e mais a pós-graduação (mestrado e doutorado). Esta semana que passou perdi um dos meus professores-modelo: Professor José Nunes de Sousa. Vítima de um câncer de cólon, Professor Zé Nunes foi um gigante na sua prática docente.

Conheci o Professor Zé Nunes através de meu pai, que deu a ele a primeira oportunidade de lecionar, na época em que a carência de professores era muito grande e os diretores de escola faziam, do seu próprio modo, a seleção de quem daria aulas na escola que dirigia. Anos depois, quando ingressei no Ensino Médio, tive a oportunidade de estudar do Colégio Sinopse, do qual Zé Nunes era sócio. Lá fui aluno de Zé Nunes no segundo e terceiro anos do ensino médio.

Era uma aula com começo, meio e fim. Me espantava com a didática dele e com a forma como finalizava o seu quadro: sempre finalizava aula na última linha, do último quadrante do quadro, no lado direito. Como se a aula tivesse sido calculada para finalizar exatamente com o espaço no quadro. Uma aula perfeita. Entendi muito bem sobre Matrizes, Determinantes e outros temas da Matemática ensinados por ele. Aulas dinâmicas, recheadas de paciência e exemplos objetivos.

Depois encontrei o Prof. Zé Nunes pelos corredores da UFPI. Era sempre muito requisitado pelos estudantes, pela facilidade com que conseguia transmitir temas considerados complicados para a maioria. Certo dia o encontrei em um evento e perguntou o que eu fazia. De pronto disse que já estava no mercado de trabalho sendo professor. Me chamou para uma oportunidade na sua escola, mas o tempo já não me favorecia, dados os compromissos profissionais que já tinha na época.

Com tristeza vi o anúncio da sua morte. Ele se junta a tantos outros professores que pude eleger como modelos a exemplo do Prof. Marcílio Rangel, Prof. Ozias Lima, Prof. Afonso Sena que também já nos deixaram. Ao ver suas fotos, nas redes sociais, ao lado dos filhos e netos, fiquei reflexivo. Há um fim em tudo, especialmente no legado que se consegue construir. Manter-se vivo não é tão fácil, mas como dizia o Prof. Zé Nunes ao finalizar um problema de Matemática, deixar um legado: “isto tem uma solução trivial!”

Até o próximo post...

 

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