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Genes para sementes já existiam nas samambaias

A maior parte das plantas que conhecemos apresentam raiz, caule e folhas como órgãos vegetativos e flores, frutos e sementes como órgãos reprodutivos. Mas nem todas as plantas têm todas estas estruturas reprodutivas. As Angiospermas (Angio=vaso; Spermae=semente – sementes guardadas em um “vaso”, alusão ao fruto) são as que possuem o conjunto completo (flor, fruto e semente). Fora as angiospermas temos vários grupos de plantas que, didaticamente, são chamadas Gimnospermas (Gimno=nu; Spermae=semente), que possuem semente, possuem estruturas que fazem o papel da flor, mas não possuem frutos. As plantas que possuem sementes são chamadas de Fanerógamas ou Espermatófitas.

Completam o Reino Vegetal as plantas que não possuem sementes, chamadas didaticamente de Criptógamas, que reúnem grupos chamados de Briófitas (conhecidos popularmente como Musgos) e Pteridófitas (as mais conhecidas destes grupos são as samambaias). Feitas as apresentações iniciais voltamos para o título: samambaias – plantas sem sementes – forneceram os genes para produção de sementes das plantas com sementes!

Artigo publicado na revista Science sob o título “Genes for seeds arose early in plant evolution, ferns reveal” (Genes para sementes surgiram no início da evolução das plantas, revelam samambaias, em tradução livre) mostra que ao se montar o genoma de três espécies de samambaias e uma espécie de Cycas (um tipo de Gimnosperma) foram encontrados genes que nas samambaias participam da produção do esporo (suas estruturas reprodutivas) também estão presentes nas angiospermas atuando na estrutura das sementes e do pólen. Ou seja: o mesmo gene que regula a reprodução nas samambaias também atua nas angiospermas.

A descoberta reforçou uma ideia que já existia, mas que nunca tinha sido provada, pois praticamente não se investe na pesquisa de genomas que não tenham finalidades com aplicações comerciais. A descoberta reforça o mecanismo de linhagem evolutiva entre as plantas, especialmente no sentido de confirmar que as estruturas mais primitivas derivam estruturas mais complexas, mas visando funções similares: reprodutivas. A descoberta foi do biólogo chinês Hongzhi Kong, um dos líderes da pesquisa, pela Academia Chinesa de Ciências. Os quatro novos genomas também estão mudando as visões sobre se as plantas experimentam a transferência horizontal de genes. Sabe-se que os micróbios trocam genes o tempo todo, ajudando-os a se adaptar a novas condições, mas os organismos multicelulares pareciam emprestar genes apenas raramente. No entanto, os genomas das samambaias e cicadáceas contêm um número surpreendente de genes de bactérias e fungos. “É notável que vemos genes de origem bacteriana e fúngica em plantas vasculares”, disse Kong à Science.

Aos poucos o que antes era uma forte suspeita vai se confirmando. Assim caminha a ciência.

Boa semana para todos (as).

 

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