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Quando a tecnologia pode atrapalhar(*)

Imagine que você é professor de Redação e chega na sua sala de aula com a ideia de pedir aos seus estudantes que escrevam sobre um determinado tema. Imagine que cada estudante, de posse de notebook ou tablet se ponha a trabalhar no que pediu. E depois, cada estudante, envia os textos para você proceder correções. Esta poderia ser a cena comum, em um cenário de aprendizado sobre letramento, em uma escola com bons recursos tecnológicos disponíveis. Mas também pode ser um desastroso cenário de enganação!

A tecnologia tem avançado a passos largos no desenvolvimento de produtos e processos que possam ajudar muito a humanidade a resolver determinados problemas. Mas estas soluções podem ser danosas aos processos de aprendizagem também.

O departamento de Educação da cidade de Nova York bloqueou em dispositivos e redes escolares o uso do programa ChatGPT. Este programa é um tipo novo Chatterbot. Chatterbots são muito usados pelas empresas de telemarketing para substituir pessoas. São programas desenvolvidos com a habilidade de reproduzir diálogos com respostas factíveis e organizadas, simulando pessoas. Estes programas à base de Inteligência Artificial (AI), substituem pessoas em conversas corriqueiras como na apresentação de produtos ou em serviços de atendimento. São capazes de perceber o que o interlocutor humano fala e de formular respostas, sendo normalmente usados nos atendimentos mais genéricos.

O que o Departamento de Educação de Nova York notou é que ChatGPT consegue produzir respostas de redação perfeitas ou bem próximo disso. Reúne informações atualizadas sobre temas diversos e consegue organizar respostas, sobre quaisquer temas usando, inclusive, diferentes estilos de escrita. As autoridades educacionais entenderam que o recurso pode impactar negativamente no aprendizado dos estudantes e estimular trapaças e plágios.

O problema maior, na minha visão pessoal, é a destruição do processo de aprendizagem da escrita. Escrever já não é uma tarefa muito fácil. Temos visto, de modo deliberado, a turba de estudantes que chegam ao ensino superior com déficits nos fundamentos básicos de escrita e de matemática. Imagine o efeito deste software em uma escola de educação básica, onde o processo de escrita está sendo gestado? Seria catastrófico.

Já tinha lido sobre Chatterbots e suas aplicações em nível empresarial, o que me deixou preocupado com a possibilidade de eliminação de muitos empregos em países do Terceiro Mundo, nos quais a baixa escolarização permite proliferar postos de empregos para serviços de teleatendimento. A tecnologia pode substituir ou até eliminar a possibilidade de várias pessoas terem seu primeiro emprego neste tipo de empreendimento. Trazer a tecnologia para escola pode ser extremamente danoso, não somente nos processos de aprendizado básico, como também nas etapas finais do processo de formação, como na escrita de uma Dissertação ou Tese. A terceirização destes processos de escrita já causam um dano considerável, pela formação deficiente de profissionais, de diferentes áreas, que terceirizam, por exemplo, a escrita dos seus Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC). Conheço pelos menos uma meia dúzia de profissionais que tiram um sustento extra escrevendo TCCs para estudantes incautos.

Isto pode virar um grande problema para educação, em nível mundial.

Até o próximo post...

 

(*) Gratidão ao Prof. José Machado Moita Neto por ter compartilhado a matéria “NYC education department blocks ChatGPT on school devices, networks

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