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Não há nada de errado com o que funciona bem

Observei atentamente dois fatos relacionados à educação e o fechamento de escolas que merecem a atenção daqueles que se preocupam com as gerações futuras. O fechamento das escolas do campo e a extinção das escolas cívico-militares. As duas ações têm, ultimamente, dividido opinião dos educadores. Quem é de esquerda é contra o fechamento das escolas do campo e a favor do fechamento das escolas cívico-militares. Quem é de direita é a favor da manutenção das escolas cívico-militares e, principalmente por omissão, é a favor do fechamento das escolas do campo (digo isso porque não vi ninguém falar sobre isso, mas a omissão, neste caso, joga contra as escolas). Eu sou contra o fechamento das duas.

Antes que falem qualquer coisa, parto da seguinte premissa: não há nada de errado com o que está funcionando bem! Ponto. Tenho ressalvas que norteiam os dois modelos, mas precisamos entender o papel destes dois entes escolares.

As escolas do campo foram iniciativas da década de 1960 com o objetivo maior de universalizar a educação, especialmente para as populações que viviam mais afastadas dos centros urbanos e que, como qualquer cidadão, merecem a ascensão promovida pelo acesso à educação. Estas escolas nunca receberam a atenção merecida, mas de uns tempos para cá, até as academias se preocuparam com este segmento que pode modificar muito a vida das pessoas e pescar talentos fabulosos que não tiveram a oportunidade de alcançar os melhores centros de ensino no mundo. Defendo ardorosamente que todos tenhamos oportunidades e por isso sempre me posicionei a favor destas iniciativas. Inclusive, quando estive em postos de comando dentro da universidade que trabalho, fui um dos agentes proporcionadores da possibilidade de que cursos superiores fossem promovidos em assentamentos rurais, ajudando a implantar uma boa relação entre o INCRA e a UESPI lá em 2012. Depois tive a oportunidade, como Presidente do Conselho Estadual de Educação de assinar o ato reconhecendo estes cursos. Mas porque as escolas do campo estão fechando?

Como qualquer coisa mantida pelo Governo, seja na esfera municipal, estadual ou federal, as escolas seguem alguns parâmetros necessários para receberem financiamento. O que muitas prefeituras vêm fazendo é a chamada Nucleação, ou seja, fundindo escolas de determinadas localidades, sob a alegação que não existem alunos suficientes para povoá-las. Mas algumas perguntas são necessárias: a região atendida pela escola foi pesquisada para verificar se realmente não existem mais estudantes? Foi realizada busca ativa de crianças para estudarem naquela escola? Foram colocados atrativos para que aquela escola consiga trazer novos alunos? Fechar porque não tem aluno não é a solução primeira. Deve ser a última.

As escolas cívico-militares são instituições que focam em premissas da disciplina militar. Baseiam-se em modelos de escolas que são segmentos das forças armadas ou das forças de segurança pública, e estas, existem há muitos anos no Brasil. Estas escolas ganharam força no último governo que as usava como vitrines de uma boa prática educativa. Os resultados destas escolas são bem diferenciados, mas já se reconhece que utilizam somas mais vultosas de recursos para prestação do serviço. Além disso, mobilizam uma mão de obra educacional que também trabalha em outro segmento bem importante, que é a segurança pública. Não sei ao certo se, trabalhando nas escolas, estes profissionais da área de segurança, se desligam de suas funções enquanto agentes de segurança pública. Se se distanciam das funções para as quais foram contratados, então há prejuízo para o segmento original. Todavia, observa-se uma grande aceitação por parte de estudantes e dos pais de estudantes a forma como estes estabelecimentos programam suas atividades educacionais. Tive a oportunidade de conhecer uma escola de Teresina com esta característica e, sem medo de errar, afirmo que está entre uma das melhores do Sistema Estadual. E por que acabar com uma escola que funciona bem? Não vejo qualquer sentido, se não houver uma boa justificativa, pautada na metodologia, nos gastos ou em qualquer outro motivo. Sei que, em nível nacional, políticos vem trocando farpas sobre o tema, o que para mim é uma discussão desnecessária, mas que se move com desenvoltura na mídia por que fortalece a polarização.

Sou a favor de que todos merecem uma educação de qualidade, inclusive (e principalmente) as pessoas do campo. Uma educação que prime pela equidade. Sou a favor da escola que prime pela disciplina e pela qualidade no que ensina. Estas características estão nas duas escolas que estão sendo sujeitas a serem extintas: seja pela passividade das pessoas que deveriam estar atentas à dinâmica das populações e dos seus interesses, seja pelo excesso de atividade em defender o que acreditam, sem considerar que o que pregam como antimodelo também funciona.

A premissa norteadora está no título: não há nada de errado com o que funciona bem.

Boa semana para todos (as).

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