Alguns amigos têm me abordado sobre o porquê de não dedicar mais textos do Ciência Viva sobre Biodiversidade, já que esta é uma das áreas nas quais atuo e formo pesquisadores. Explico-lhes de pronto que o CV é voltado para um apanhado geral de todas as ciências. Falar só de Biodiversidade poderia cansar os leitores que se interessam por temas mais amplos.

A semana que passou tive a oportunidade de participar de uma mesa redonda na 38ª Reunião Nordestina de Botânica que aconteceu na cidade de São Luís (MA), mas foi um evento on-line o que facilitou a participação de muita gente de diversas partes do Brasil. Na mesa em que participei estavam a Dra. Maria Regina de Vasconcellos Barbosa (UFPB) e a Dra. Valéria Sampaio (UECE). Achei bem interessante as falas das pesquisadoras apontando alguns avanços nas descobertas das plantas em algumas regiões no Nordeste. E um resumo de que a pesquisa precisa avançar mais rápido porque o processo de degradação da nossa Biodiversidade não é fácil.

Apesar da mídia concentrar esforços para “acabar” com a Amazônia, falo isso por causa do exagero anunciado pelas redes nacionais de televisão (já cheguei a ver matérias dizendo que o desmatamento e as queimadas alcançavam uma média de 11 mil campos de futebol por dia e assim, matematicamente, nesta marcha não teríamos mais Amazônia), o Cerrado não se compara a degradação da Amazônia porque é bem maior, mas não interessa “dá IBOPE” (O IBOPE acabou, mas a expressão ficou) para a degradação do Cerrado. E para os cidadãos comuns é preciso que se diga que o Cerrado é um dos Hotspots mundiais!

Por definição, Hotspots são área com diversidade biológica bem elevada, com um número muito grande de espécies endêmicas (espécies que surgiram na natureza naquele lugar) e que sofrem ameaça constante. O Cerrado ocupa 23% do território nacional, e é alvo constante de processos de desmatamento para instalação de pastos e plantação de monocultura, principalmente. A função de sustentar o mundo de alimentos, que coloca o Brasil entre os principais, arrasta pro buraco nossa Biodiversidade, sem qualquer dúvida. E isso tudo, antes que sejamos capazes de conhecer esta biodiversidade e de propormos estratégias para sua proteção ou pelo menos para proteção das espécies mais frágeis. Além do Cerrado o Brasil possui outro grande Hotspot que é a Floresta Atlântica, atualmente reduzida a 6% do seu tamanho original.

Há um grande interesse para o que resta da nossa natureza. O Brasil ainda é um celeiro de espécies do mundo: só para se ter uma ideia 25% de todas as espécies do planeta são daqui. E ainda temos muita área a ser preservada e garantida para as próximas gerações. É só tomarmos cuidado, especialmente com aqueles nos quais depositamos nosso voto na época das eleições.

Na revista Science que começou a circular esta semana há uma nota crítica sobre nova lei aprovada na Índia que interfere diretamente na Biodiversidade daquele país. A Índia, atualmente, tem a maior população do planeta (quase 1,5 bilhão de habitantes), é uma das economias em crescimento e possui quatro grandes hotspots mundiais. Pela nota, o parlamento indiano, afrouxou as leis ambientais. Ou seja: abriu a porteira!

Cuidado com o seu voto. Ele é uma arma que você pode estar usando contra você e contra o futuro da sua família!

Bom domingo e Feliz Dia dos Pais!!!

 

P.S.: No plano pessoal estou muito feliz. Vou ser avô de duas netas!!! Este foi o melhor presente de Dia dos Pais que ganhei nos últimos tempos!