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Relatório do Banco Mundial é mais um desmonte para universidades brasileiras, de acordo com cientista.

Relatório recente do Banco Mundial aponta que o ensino superior do Brasil deveria deixar de ser gratuito. A lógica do relatório é até interessante, pois acha que os recursos públicos gastos com o ensino superior no Brasil são gastos com a parcela mais rica da população e que, portanto, poderia pagar pelo “serviço”. O problema é que não é verdadeiro.

Na avaliação do Prof. Peter Schulz, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o relatório do Banco Mundial é uma grande falácia, apoiado não por dados concretos, mas por uma opinião de seus autores.

No seu conteúdo o relatório aponta como ideal o modelo existente nos EUA onde as universidades públicas são financiadas pelo pagamento de anuidades de seus estudantes, desde a década de 1960. Esquece, entretanto, de apontar o relatório que, a grande maioria das universidades europeias mantêm modelo similar ao adotado no Brasil.

O relatório coloca como grande fonte de desperdício de recursos o que se aplica nas universidades e compara com o segmento privado do setor. Todavia, esquece o relatório de informar que, no Brasil, atividades de pesquisa praticamente inexistem nas instituições de ensino superior privadas. Na grande maioria das instituições universitárias, são os professores doutores com dedicação exclusiva os que gastam parte do seu tempo aprimorando o conhecimento científico e conduzindo a pesquisa, elemento importante da tríade universitária ensino-pesquisa-extensão. Estes profissionais são os que formam a base das universidades públicas. No segmento privado apenas aproximadamente 25% dos professores tem este regime de trabalho e, portanto, seria os que estariam envolvidos diretamente com pesquisa nestas instituições.

No Brasil, atualmente (dados do Censo do INEP de 2016), mais de 75% dos estudantes da educação superior estão matriculados em instituições da rede privada. Nestas instituições, segundo o mesmo levantamento, o perfil profissional típico é de professores com Mestrado, apenas. O que significa, a grosso modo, que grande parte dos estudantes de graduação no país não tem acesso à pesquisa. Ou seja, são apenas agentes receptores de conhecimento, acessando apenas o Ensino, elemento do tripé do grau universitário.

O que se observa, na prática, é que a maior parte das instituições de ensino superior no Brasil são privadas e lidam apenas com a reprodução do conhecimento: o ensino.

Como dizia o Mestre Paulo Freire “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”.

A sociedade precisa compreender um pouco mais o papel da Universidade pública. Assim poderá cobrar dos políticos o seu direito de ter universidades financiadas com recursos públicos e sua correta aplicação.