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Elefantes e sinuca: a improvável história do plástico

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No século XV, no norte da Europa, surgiu nos palácios reais o jogo de bilhar. A ideia foi levar o croqué, esporte desenvolvido ao ar livre, para ser jogado em ambientes fechados, em razão da necessidade da nobreza em continuar sua vida “esportiva”, protegida dos invernos.

O bilhar, que recebe por aqui outras denominações ou variações entre elas a sinuca ou “snooker”, se joga em uma mesa verde (daí a associação com o campo de croqué), tacos de madeira e bolas de marfim. O marfim, extraído das presas de elefantes era o elemento raro que tornava o jogo de bilhar caro, uma particularidade apenas para filhos da nobreza, ricos.

No século XIX, o jogo foi se tornando tecnicamente refinado e ao mesmo tempo popular. Bolas de marfim garantiam ao mesmo tempo a dureza e a ausência de deformações, em razão das colisões próprias do jogo. Mas, devido à origem do material, garantia também  a restrição do público usuário do jogo.

Esta introdução toda foi para contar um pouco sobre a necessidade de falar sobre a relação entre ciência e desenvolvimento econômico. Mas qual a relação entre ciência, desenvolvimento econômico e o jogo de bilhar?

Ainda no século XIX o Jornal The New York Times publicou a seguinte nota: “Phelam & Collender, maior fornecedor de bilhares do Estados Unidos, oferecem uma importante fortuna de US$ 10.000 (dez mil dólares) a qualquer inventor que conseguir criar um material substituto para o marfim”. O anúncio tratava de uma recompensa comercial para qualquer inventor capaz de criar algum material que pudesse substituir o caro marfim, usado para fabricar bolas de bilhar.

John Wesley Hyatt, um jovem químico dos EUA, em um barracão em Nova York, com este anúncio do NYT, convidou o General Marshal Lefferts, um militar aposentado, conhecido por financiar inventores, a conhecer o celuloide, uma mistura de nitrocelulose e cânfora. Lefferts foi uma espécie de Mecenas das Ciências no séc. XIX, apoiava vários inventores, inclusive o jovem Thomas Alva Edson, o maior inventor do Mundo.

Hyatt pegou bolas de madeira e as banhou com uma mistura de nitrocelulose e corantes, gerando bolas muito parecidas com as de marfim, em termos de resistência e dureza, que poderiam substituir o caro material original das bolas do jogo de bilhar. Com o aperfeiçoamento surgiu neste momento, uma forma de plástico: o celuloide. Algumas modificações foram necessárias para emplacar o novo material na então indústria de jogos e entretenimentos (o celuloide também foi usado para fabricação da película do cinema), uma vez que ao colidirem no jogo, as bolas banhadas por nitrocelulose podiam pegar fogo (a nitrocelulose é quimicamente semelhante à nitroglicerina).

O que podemos extrair como lição desta história?

1) A necessidade de se desenvolver novos produtos pode ser estimulada por investidores que podem bancar inventores;

2) Nem sempre quem têm recursos têm boas ideias e, na contramão, mas no mesmo artifício lógico, quem têm boas ideias, por vezes, não têm recursos;

3) A Inovação precisa ser estimulada. Ao propor uma recompensa para quem criasse um substituto para o marfim, a indústria de bilhar gerou, potencialmente, um material resistente, versátil e que mudou o mundo, inclusive com a poluição: o plástico. Os elefantes agradeceram!

P.S.: Pena que ainda hoje os elefantes são mortos por suas presas de marfim. Não mais para que sejam produzidas bolas de bilhar.

Até a próxima!

(Com informações extraídas do livro De que são feitas as coisas: as curiosas histórias dos materiais que formam o mundo dos humanos, de Mark Miodownik, Editora Edgard Blucher, 2015).

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