Quando eu era criança pequena e íamos passar férias lá no interior de Valença do Piauí, algumas coisas chamavam minha atenção: primeiro como era viver num lugar sem energia elétrica e depois os mistérios das noites sem iluminação artificial.
O céu era mais estrelado e lá conheci também um inseto que piscava a noite, como se a estrela tivesse voando baixinho (era o meu pensamento de criança). E meus pais esclareciam: é um vagalume.
Muitos anos depois, quando já estudava Ciências na UFPI conheci a coleção do Prof. Almeidinha que tinha milhares de exemplares de insetos de todos os tipos. Lá vi de perto o vagalume. Trata-se de um tipo de besouro (Ordem dos Coleópteros, o mais numeroso grupo de espécies da Classe dos Insetos) que pode pertencer a pelo menos três famílias distintas onde a mais comum no Brasil é a família dos Lampirídeos.
A curiosidade é que os vagalumes produzem luz própria. Este fenômeno de produzir luz própria é chamado de Bioluminescência e também é realizado por fungos, bactérias e várias espécies de animais marinhos, com o objetivo principal de se comunicar. No específico do Vagalume é o de atrair parceiro sexual.
A reação de bioluminescência envolve a proteína Luciferina por ação de uma enzima chamada Luciferase (numa referência a Lúcifer, que em latim quer dizer “o portador da luz”). Embora se conhecesse algumas coisas sobre o processo, informações sobre a coloração da luz e detalhes químicos eram totalmente desconhecidos.
O grupo do pesquisador brasileiro, bioquímico Vadim Viviani do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e atual presidente da Sociedade Internacional de Bioluminescência e Quimioluminescência matou a charada. A bioluminescência é fascinante: em condições variáveis de pH, temperatura e na presença de metais pesados, a cor da luz que as reações emitem pode ir do verde ao vermelho. O mecanismo que permite essa variação, misterioso há décadas, agora fica mais claro a partir do artigo publicado este mês na revista Scientific Reports pelo grupo de pesquisadores.
O grupo de Viviani examinou a interação entre as moléculas responsáveis pela produção de luz e mostrou que na família dos vagalumes mais comuns, a conformação do sítio ativo da enzima luciferase é responsável por prender a substância luciferina. Há uma reação de oxidação que gera luz, as partes ricas em cargas positivas das duas moléculas são forçadas uma contra a outra, gerando uma luz de alta energia na região do espectro verde. Mas a medida que o inseto vai envelhecendo a luz vai mudando de cor. Por vezes, o brilho laranja ou vermelho liberado pelo vagalume, indica que o mesmo está à beira da morte.
Espécies diferentes de vagalumes produzem coloração diferente de iluminação, o que evita erros nos encontros nupciais.
O vídeo abaixo, produzido pela Pesquisa FAPESP traz explicações sobre o fenômeno com o próprio Dr. Vadim Viviani.
Os mistérios da natureza, gradativamente, vão sendo esclarecidos pela ciência.
(Com informações da Pesquisa FAPESP)