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Cientista piauiense descobre variações celulares nos pulmões asmáticos

Durante os 12 primeiros anos da minha vida sofri de bronquite asmática. É difícil tentar respirar e não conseguir encontrar o ar com facilidade. Foi um período terrível. A asma é a doença crônica mais comum do mundo. Além da dificuldade de respirar os asmáticos apresentam tosse, dor no peito e respiração ofegante. As vias aéreas ficam obstruídas e encharcadas de muco produzido nas células que as revestem.

Em artigo publicado esta semana na importante Revista Nature Medicine, com o título “A cellular census of human lungs identifies novel cell states in health and in asthma” (“Um censo celular de pulmões humanos identifica estados celulares na saúde e na asma”, em tradução livre) pesquisadores investigaram o perfil de células dos pulmões (parênquima pulmonar), das vias aéreas superiores e inferiores de pacientes asmáticos e de pacientes normais, para fins de comparação.

Locais de coleta das amostras celulares. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine.

A experiência usou como amostra pacientes entre 40 e 65 anos, com histórico de uso de menos de 10 maços de cigarro/ano divididos em dois grupos: pacientes sem histórico de asma e pacientes com histórico de asma e uso de corticosteroides inalatórios. A coleta de material se deu a partir das paredes nasais e procedimentos de broncoscopias (retirada de amostras de tecido dos locais pesquisados mais profundos como vias aéreas inferiores e do parênquima pulmonar). As amostras de materiais foram submetidas a uma preparação para análise usando técnicas avançadas de citologia e sequenciamento do RNA em quase 37 mil células. O grupo de pesquisadores identificou o Transcriptoma das células das vias pulmonares. Transcriptoma é o estudo detalhado das sequências dos diferentes tipos de RNA (ribossômico, mensageiro, transportador e microRNAs). A pesquisa resultou num Atlas abordando aspectos morfológicos das células do sistema respiratório e detalhes em nível de RNA destas células.

Amostras de tecido pulmonar. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine. 

A frente desta jornada está Dr. Felipe Augusto Vieira Braga, piauiense de Teresina, graduado em Farmácia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) com Mestrado pela Radboud University Nijmegen Medical Center e Doutorado pela Universidade de Amsterdan, ambas na Holanda. A publicação é fruto dos resultados de sua pesquisa durante o Pós-Doutorado na Universidade de Cambridge na Inglaterra.

Dr. Felipe Augusto Vieira- Braga. Fonte: Arquivo pessoal.

Eu conversei com o Felipe, através do aplicativo Whatsapp, que me explicou que este projeto é resultado de uma parceria entre as Universidades de Cambridge (Inglaterra) e Groningen (Holanda) e é financiado pela Indústria Farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) e que, com os resultados obtidos, torna-se possível a formulação de drogas mais eficazes para o tratamento da asma. Os resultados obtidos permitiram determinar um perfil que combina dados morfológicos das células e o perfil genético, com base na tipologia de RNA das células de quem apresenta problemas com a asma. A pesquisa também resultou na descoberta de um tipo de célula específico nos pulmões asmáticos responsável pela produção de muco. Trata-se do estado celular muco-ciliado, responsável por produzir o excesso de muco nos pulmões dos asmáticos.

Tipos celulares encontrados nos pulmões e vias aéreas. Fonte: Vieira-Braga et al. (2019). Nature Medicine.

A asma afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. Somente no Brasil estima-se que existam mais de 6,4 milhões de pacientes asmáticos. Pesquisa publicada na revista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, por pesquisadores da PUC-RS, em 2017, aponta que entre os anos de 2008 e 2013 quase 1,1 milhões de internações em todo o país foram motivadas pela asma, com uma despesa de quase 170 milhões de dólares com estes pacientes, o equivalente hoje a 646 milhões de reais. Esta mesma pesquisa encontrou um gasto médio de 160,48 dólares por paciente, porém com tendência ao crescimento. Vale lembrar que a pesquisa utilizou apenas dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, não estão contabilizados recursos dispendidos por fontes privadas como planos de saúde e custeio direto com recursos particulares.

Já dá pra ver de cara que a pesquisa desenvolvida pelo Felipe Braga e outros colegas terá um impacto positivo muito grande no tratamento dos asmáticos. Os que acordam a noite procurando ar e uma bombinha para poder continuar respirando vão agradecer imensamente o trabalho de mais um piauiense que faz a diferença por onde passa...

Boa semana para todos (as)...

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