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Obama promete justiça, após atentado na Líbia

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O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta quarta-feira (12) que será feita "justiça" no caso dos quatro norte-americanos mortos em um ataque na cidade líbia de Benghazi na véspera, por conta de um filme produzido e divulgado nos EUA e considerado ofensivo à fé islâmica.


"Não se enganem: a justiça será feita", disse Obama, que prometeu trabalhar em conjunto com o governo líbio para trazer os responsáveis à justiça.

Em um discurso no jardim da Casa Branca, Obama homenageou o embaixador J. Christopher Stevens e seus três colegas, mortos em um ataque de manifestantes islamitas ao consulado americano na cidade, que estavam revoltados com as informações sobre o filme "A Inocência dos Muçulmanos".

"Os Estados Unidos condenam nos termos mais fortes este ataque ultrajante e chocante", afirmou o presidente democrata.

"Não se enganem, nós vamos trabalhar com o governo líbio para levar à justiça os assassinos que atacaram nosso povo", disse.

O filme que provocou a revolta dos islamitas foi realizado por um israelense-americano, que chama o islamismo de "câncer", e promovido pelo polêmico pastor evangélico da Flórida Terry Jones, famoso pelas posições contrárias ao islamismo.

O presidente lembrou que desde sua independência, "a América é um país que respeita todas as crenças".
"Rejeitamos qualquer tentativa de denegrir a fé religiosa de outros. Mas não há absolutamente justificativa nenhuma para este gênero de violência sem sentido, nenhuma", destacou.

O ataque

As mortes coincidiram com o 11º aniversário dos ataques do 11 de Setembro, lembradas discretamente pelos americanos na terça.

O ataque ao consulado americano ocorreu na noite de terça. Manifestantes armados cercaram o prédio, informaram fontes líbias.

Embaixador americano sendo socorrido

Segundo o porta-voz da Alta Comissão de Segurança do Ministério do Interior, Abdelmonoem al-Horr, as forças de segurança tentaram controlar a situação quando foguetes RPG foram disparados a partir de uma propriedade próxima.

"Dezenas de manifestantes atacaram o consulado e incendiaram o prédio", disse Omar, um morador de Benghazi, que escutou tiros em torno do edifício.

Outra testemunha confirmou os disparos em torno do consulado e revelou que homens armados, incluindo militantes salafistas, bloquearam as ruas que dão acesso ao prédio.

Stevens teria morrido atingido em seu carro, quando tentava deixar o local.

Seguranças líbios também morreram ao defender o prédio, segundo o diplomata do país na ONU.
Fontes americanas afirmaram à rede CNN que o protesto contra o filme teria sido usado como pretexto e distração para os agressores.

Desculpas

O governo da Líbia pediu desculpas aos Estados Unidos pelas mortes.

"Apresentamos nossas desculpas aos Estados Unidos, ao povo americano e ao mundo inteiro pelo que aconteceu", afirmou em Trípoli Mohamed al-Megaryef, presidente do Congresso Geral Nacional (CGN), principal autoridade política da Líbia.

"Estamos ao lado do governo americano em relação aos assassinos", disse Megaryef, que classificou o ataque de "covarde".

O ataque aconteceu na véspera da eleição do chefe de Governo do CGN, que terá como missão criar um exército e uma polícia profissionais.

O vice-premiê líbio, Mustafah Abu Shagur, denunciou o que chamou de "atos barbárie".

A Líbia enfrenta instabilidade política desde a revolta popular que, no ano passado, com apoio ocidental, derrubou e matou o ditador Muammar Kadhafi.

A cidade litorânea de Benghazi foi o foco da rebelião anti-Kadhafi.

Protestos árabes

Protestos contra o filme ocorrem também em outros países muçulmanos.

Horas antes, no Cairo, milhares de manifestantes, a maioria salafistas, protestaram diante da embaixada dos Estados Unidos.

Os manifestantes arrancaram a bandeira dos Estados Unidos e em seu lugar colocaram uma imensa bandeira negra com a frase: "não há mais Deus que Deus e Maomé é o seu profeta".

Nesta quarta, a Irmandade Muçulmana, principal força política egípcia, convocou "protestos pacíficos" conra o filme para esta sexta-feira.

O movimento fundamentalista do Talibã prometeu mover uma "guerra" aos americanos no Afeganistão em decorrência do filme.

O governo do Irã criticou o filme e acusou o governo americano de silenciar diante do caso. A chancelaria iraniana não citou os incidentes violentos.

Ocidente condena

Outros países ocidentais também condenaram o ataque, a começar por França e Reino Unido, que lideraram a missão militar ocidental contra Kadhafi em 2011, assim como Alemanha, Itália e Canadá e organizações como a Otan e a União Europeia.

"A França pede às autoridades líbias que esclareçam esses crimes odiosos e inaceitáveis, identifiquem os responsáveis e os levem à justiça", declarou o presidente francês, François Hollande, ao condenar "firmemente o ataque".


A Itália também reagiu: "Nós condenamos com o máximo de firmeza este gesto atroz", declarou o chefe de Governo italiano, Mario Monti. Ele disse estar convencido de que as autoridades líbias "não pouparão esforços para impedir que o novo governo líbio seja refém" de forças opostas à democracia.

Em visita ao Cairo, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, condenou "o ataque brutal e sem sentido ao Consulado Geral dos Estados Unidos em Benghazi".

"Esse tipo de ataque não levará a nada", acrescentou Hague. "Esses diplomatas não servem apenas ao seu próprio país, os Estados Unidos, mas também ao povo líbio. Eles trabalharam pela paz e pela estabilidade na Líbia".

Já o Vaticano condenou as ofensas injustificáveis e as provocações contra os muçulmanos, considerando a qualquer violência inaceitável, em clara referência ao atentado na Líbia depois da apresentação do filme.

O porta-voz do Vaticano, Francisco Lombardi, lamentou, em um comunicado, "os resultados trágicos" provocados por essas ofensas, e condenou "uma violência completamente inaceitável" depois do assassinato do embaixador americano em um atentado em Benghazi.

"O respeito profundo pelas crenças, pelos textos, pelos grandes personagens e os símbolos de diversas religiões é uma condição essencial para a coexistência pacífica dos povos", afirmou Lombardi, lamentando "as consequências gravíssimas das ofensas injustificáveis e provocações à sensibilidade dos fiéis muçulmanos".

A secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, também condenou "nos termos mais enérgicos este ato de violência sem sentido".

"Expressamos nossas condolências aos familiares, amigos e colegas daqueles que perdemos", disse.

"A amizade entre nossos países, nascida de uma luta comum, não será outra baixa deste ataque", afirmou a chefe da diplomacia americana.

Maomé caricato

O filme, com o título "Innocence of Muslims" ("A inocência dos muçulmanos"), foi realizado pelo americano-israelense Sam Bacile. Cenas já divulgadas mostram o profeta Maomé como uma figura caricata.

Depois da manifestação no Cairo na terça-feira, Bacile declarou ao "Wall Street Journal" que o Islã "é um câncer".

Campanha eleitoral nos EUA

Os ataques na Líbia e Egito tiveram repercussões na campanha eleitoral nos Estados Unidos, onde o candidato republicano à presidência, Mitt Romney, acusou o presidente Obama de simpatia pelo extremistas muçulmanos.

O incidente provoca questionamentos sobre a política de Obama com relação à Líbia na era pós-Kadhafi.
Obama elogiou a eleição da Líbia em julho como um marco na transição democrática e prometeu que os EUA agiriam como parceiro, mesmo advertindo que haveria desafios difíceis pela frente.

Na série de levantes da Primavera Árabe no ano passado, Obama optou por uma estratégia cautelosa que provocou críticas do Partido Republicano.

Fonte: G1
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