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Em Paris, Lula fala em voltar a ser candidato

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Atualizada às 10h11 do dia 14/12
Protegido por um forte esquema de segurança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pública e longamente nesta quarta-feira pela primeira vez, desde as novas denúncias de Marcos Valério que o envolvem diretamente no esquema do mensalão. E, um dia após a revelação do conteúdo do depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público, o ex-presidente afirmou que, se um dia voltar a ser candidato, quer o voto dos empresários. Ressaltou que os empresários não votaram nele por “medo”, mas que nunca ganharam tanto dinheiro como em seu governo.


- Espero que um dia, se voltar a ser candidato, eu tenha o voto deles - afirmou.

Na palestra, dedicou-se, porém, a discorrer sobre a crise econômica mundial, no Fórum pelo Progresso Social, em Paris. No final de sua apresentação de uma hora e 20 minutos, fez, aparentemente, uma referência ao destaque que a imprensa vem dando ao recente depoimento de Valério à Procuradoria Geral da República:

- Quando político é denunciado, a cara dele sai nos jornais. Sabe por que banqueiro não aparece? Porque é ele quem paga a publicidade dos jornais - afirmou.

Apesar da declaração de Lula - que em seus dois governos propiciou um lucro líquido recorde do setor bancário, de R$ 199 bilhões, numa amostra de nove bancos de 2003 a 2010, em valores corrigidos para 2011 -, o país já presenciou a punição de banqueiros em casos amplamente divulgados pela mídia.

Um deles envolveu Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do Econômico, em 1995, quando o Banco Central decretou intervenção na instituição. Em 2007, a Justiça Federal condenou o banqueiro a 13 anos e quatro meses de prisão por crime contra o sistema financeiro. Em 2000, foi preso Salvatore Cacciola, ex-dono do Marka, socorrido pelo Banco Central em 1999. Cacciola fugiu para Roma, mas acabou preso novamente em 2007 e deportado.

 Em 2006, Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, foi preso com o filho após serem condenados a 21 e a 16 anos de prisão, respectivamente, por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. E em 2008, Daniel Dantas, dono do Opportunity, foi detido por supostos crimes financeiros e tentativa de subornar um delegado federal da Operação Satiagraha.

Lula também fez um resumo dos seus oito anos de governo. E se desculpou antecipadamente por beber muita água durante a fala:

- Confesso que tenho um problema de tomar muita água. Porque, depois do câncer, tenho um edema na garganta que não está 100% curado. Tomo água exageradamente.

Lula contou um pensamento que teve em 2002, ao subir pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto como presidente:

- Perdi tanta eleição, tanta eleição, que, num dia, o povo brasileiro, com dó de mim, me elegeu. Os meus adversários, sobretudo no campo da sociologia, até votaram em mim. Achavam que eu iria fracassar, e eles poderiam voltar ao poder. Mas a História os enganou. E eu, muito mais.

Okamotto questiona depoimento de Valério

Presente no evento, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, questionou a validade da divulgação do depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público.

- Pelo que eu entendi, essas informações foram obtidas de forma ilegal. Perguntei de onde vieram, e me responderam: “Um jornalista conseguiu lá no Ministério Público”. E como conseguiu? “Ah, uma fonte”. É um material roubado. Se é que existe, foi obtido ilegalmente, e aí não vou ler. Mas se foi dado pelo Ministério Público, vou ler. Se tiver algo relacionado a mim, vou me manifestar no Brasil se for o caso – disse.

Na agenda do ex-presidente Lula ainda constava um jantar com o presidente da Assembleia Nacional francesa, o socialista Claude Bartolone, na noite desta quarta-feira. Na manhã desta quinta-feira Lula viajará para Barcelona, onde receberá o Prêmio Internacional Catalunha 2012 pela política de crescimento econômico justo de seu governo frente à globalização, dotado de € 80 mil. À noite, o ex-presidente embarcará de volta para o Brasil.


A assessoria de comunicação do grupo Opportunity enviou uma carta ao CidadeVerde.com através da qual presta esclarecimentos sobre o caso. Leia a seguir:

Desde o início da Operação Satiagraha, as ilegalidades foram identificadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Por duas vezes, o MPF pediu a descontinuidade da investigação, “já que dos autos não consta nada de concreto que sequer surgira a prática de crime por quem quer que seja”.
 
Seguem alguns exemplos da cena armada de um jantar que resulltou na prisão de Daniel Dantas.
 
O filme, sem qualquer áudio do jantar, foi feito por cinegrafistas de uma rede de televisão.
 
O áudio foi captado em separado do vídeo por meio do celular do delegado, que se passava por advogado, e era da equipe de Protógenes Queiroz.
 
Perícia feita pelo Instituto Brasileiro de Peritos em Comércio Eletrônico e Telemático revela que o áudio do jantar foi mutilado e tratado digitalmente. As transcrições foram distorcidas e as datas de arquivamento manipuladas. Em certo trecho, houve a inserção do nome de Daniel Dantas onde ele não era citado.
 
Laudo da Unicamp mostrou que a polícia deixou de transcrever 78,7% da conversa ocorrida no restaurante e atribuiu falas a Humberto Braz, à época um dos negociadores do Opportunity na venda de sua participação à Telemar, que não eram dele. 
 
E merece destaque: o dinheiro apreendido na casa do professor Hugo Chicaroni, um dos participantes do jantar, foi depositado pela PF, contrariando determinação do MPF, o que impediu o rastreamento e identificação do pagador – esse depósito, certamente, não foi feito para beneficiar o Opportunity.  
 
Prisões ilegais
As prisões de Daniel Dantas foram consideradas ilegais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por 9 votos a 1.
 
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por unanimidade, em junho de 2011, reconheceu que o juiz Fausto de Sanctis descumpriu as ordens do STF ao decretar a segunda prisão de Daniel Dantas. Não foi punido porque a Lei Orgânica da Magistratura permite a aplicação de censura ou advertência apenas a juízes de primeira instância e Fausto de Sanctis foi promovido, por antiguidade, para o cargo de desembargador do TRF-3 no final do ano passado.
 
A Satiagraha levou à condenação do ex-delegado Protógenes Queiroz, comandante da operação, à pena de três anos e 11 meses de prisão, por fraude e violação de sigilo funcional. O MPF entendeu também que ele deve responder pelos crimes de prevaricação e corrupção passiva por sua atuação na Satiagraha. Vai ser julgado pelo STF por ter foro privilegiado.
 
A Satiagraha foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) que acatou parecer do Ministério Público Federal (MPF). Houve recurso e caberá ao STF decidir.
 
Ainda estão em andamento inquéritos sobre a Satiagraha, no STF, que devem jogar luz, a operação, e deixar a mostra os interesses que a motivaram. 
 

Fonte: G1
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