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"Quando Eu Era Vivo" insere o terror num cinema brasileiro

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Os créditos iniciais subindo com o fundo de uma imagem feita em tecido colorido rendado e somado a uma música instrumental insinuante já são um sinal de que se trata de um filme nacional fora dos padrões atuais. "Quando Eu Era Vivo", que estreia nesta sexta-feira, 31 de janeiro, é uma das raras produções brasileiras de terror que chegam ao circuito comercial. Sem se utilizar de monstros ou assassinos, o longa de Marco Dutra aposta menos em sustos e mais no clima assustador para mexer com o público.

O diretor, que já havia dado pinceladas de horror em seus projetos anteriores ("Trabalhar Cansa", 2011), mergulha de vez no gênero, criando uma obra claustrofóbica nesta adaptação do livro "A Arte de Produzir Efeito Sem Causa", de Lourenço Mutarelli.

Júnior (Marat Descartes) é homem de meia idade, desempregado e recentemente separado da mulher, que decide ir morar na casa do pai (Antônio Fagundes) até que consiga ajustar sua vida. Dormindo na sala, uma vez que seu antigo quarto está sendo ocupado pela inquilina Bruna (Sandy), ele relembra do passado e percebe como as coisas mudaram desde a morte de sua mãe, tanto na decoração do apartamento como no comportamento de seu pai, que está obcecado pela modernidade e faz de tudo para parecer mais jovem do que é na realidade.

Foto: Divulgação

Na medida em que o sujeito vai resgatando móveis e objetos deixados pela matriarca, a rotina no apartamento vai mudando, ao mesmo tempo que a saúde mental de todos aos envolvidos também se mostra ameaçada. Através de flashbacks, que surgem na forma de gravações caseiras, as figuras materna, adepta do ocultismo, e do irmão, internado em uma clínica psiquiátrica, são relevadas.

Esse clima aterrorizante se deve muito às ótimas atuações. Se de Fagundes e Descartes já se esperava personagens fortes e bem representados, não há do que reclamar de Sandy. Mesmo que por vezes, principalmente no início do filme, o espectador possa enxergar em cena a cantora e não a personagem, sua atuação não compromete. O filme ainda traz Gilda Nomacce, numa personagem coadjuvante que representa bem o sincretismo religioso do brasileiro.

Além de brincar com elementos do horror brasileiro, Marco Dutra também apresenta referências diretas ao cinema de gênero. Talvez a inspiração mais latente seja "O Iluminado", obra-prima de Stanley Kubrick. Fora a atmosfera e a sensação de enclausuramento semelhante, o protagonista também se parece ao perturbado personagem de Jack Nicholson, tanto fisicamente, no uso de peruca e rosto mal barbeado, quanto na transformação de personalidade que sofre no decorrer da trama.

Dessa forma, "Quando Eu Era Vivo" cumpre o bem seu papel de apresentar uma alternativa ao cinema nacional, tão dominado por comédias. Prova também, antes de tudo, que não é preciso criaturas horripilantes e sustos gratuitos para se fazer um bom filme de terror. Mexer com o psicológico e deixar subentendido muitas vezes é mais aterrorizante do que escancarar e explicar tudo mastigado para o espectador.


Fonte: MSN
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