Cidadeverde.com

Corpo de Inezita Barroso é velado em São Paulo

Imprimir

Amigos e familiares de Inezita Barroso se reuniram nesta segunda-feira, 9, na Assembleia Legislativa de São Paulo, para o velório da cantora e apresentadora, que morreu na noite de domingo, 8, aos 90 anos, deixando uma filha, Marta Barroso, três netas e cinco bisnetos. Inezita estava internada no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde o último dia 19, e morreu devido a insuficiência respiratória aguda. O velório foi aberto ao público às 8h30.

rta contou ao EGO como está sendo enfrentar o adeus. "Nos últimos momentos ela não sentiu dor, foi uma transição suave. Nos últimos dias ela estava bem, mas agravou a pneumonia. Ela tinha o sonho de completar 90 anos. Depois que realizou esse sonho, ela começou a declinar, declinar, declinar. Sedaram-na pra ela não sofrer. Aí ela foi apagando", relata.

A filha disse ainda que o tombo que levou em dezembro em Campos do Jordão ajudou a piorar. "O estado de saúde dela era normal, não tinha grandes problemas. Depois da queda, ela ficou com medo de cair e cada vez ficava mais deitada. O que foi agravando foi ficar deitada, muito na cama. Ela repetia muito: 'Estou cansada, já trabalhei muito. Quero descansar, já trabalhei muito, já trabalhei a vida toda'. Fica um buraco, fica um vazio.".

Mesmo enferma, ela queria retomar o trabalho. "Nos 30 anos do 'Viola, minha viola' (que apresentava na TV Cultura), ela estava no Sírio, aí o médico disse que ia ver se dava alta. Ela falou: 'Você já me deu alta. E se não der, eu vou sair do mesmo jeito'. Ela saiu do hospital e foi gravar. Todo mundo ficou impressionado. A força que ela tinha... Era um exemplo". Entre seus aborrecimentos estava uma canção em especial. "Não aguento mais (a música) 'Lampião de Gás', mas todo mundo gosta, tenho de cantar".

A artista plástica Paula Maia, neta de Inezita, também falou com saudade da avó. "Era uma pessoa muito divertida, sabe? Uma vida longa e muita história para contar. Ela queria se estender mesmo. Teve só uma filha, mas três netas e cinco bisnetas. Uma pessoa muito integra, autêntica conhecedora.Sou muito feliz por ter o sangue dela. Ela desafiou a família para trabalhar numa época em que as mulheres não trabalhavam. Minha avó era incrível à frente do tempo dela, foi pioneira. Lutou pelo que acreditava. Foi uma mulher guerreira e incrível. Uma mulher tão forte não é por acaso que morreu no Dia Internacional da Mulher".

Paula contou o que mantinha a avó na ativa com tantos anos de estrada. "Não fazia por dinheiro, ela gostava da música de raiz. Ela valorizava a cultura nacional, gostava de sertanejo raiz. Era essa a autenticidade dela. Ela preferia não ganhar dinheiro, mas preservar isso", completa a artista plástica, apontando o que quer herdar de Inezita: "A força dela eu acho que consegui herdar. Tenho orgulho inclusive de me parecer fisicamente com ela. Ela foi madrinha de muitos músicos. Abriu portas pra muita gente. Tenho certeza que muita gente a tem como madrinha".

Durante o velório, o caixão recebeu a bandeira do Estado de São Paulo e do clube Corinthians. O governador Geraldo Alckmin foi prestar seu apoio à família de Inezita, chegando ao velório por volta das 10h40, e falou sobre a importância da cantora na cultura brasileira: "Violeira, pesquisadora, uma figura admirável. Ela amava a música caipira. Gostava do que fazia e fazia bem feito. Ela recuperou as nossas raízes. É um momento de tristeza, saudade e homenagem. O Estado fará toda a homenagem merecida. Quando ela fez 88 anos fizemos uma homenagem a ela no programa e ela disse que o segredo da vida longa é que ela amava a música sertaneja". O governador ainda citou um trecho da música "Moda da pinga":  "A marvada pinga que eu me atrapaio não bebo de uma só vez porque acho feio. Tomo o primeiro gole inté no meio e é no segundo trago que esvazeio".

Amigos também foram se despedir da cantora, entre eles Nico Prado, o diretor do programa "Viola, minha viola", apresentado por ela, e o violeiro Joãozinho, que trabalhava ao lado dela na atração e também fazia shows com Inezita. "Este ano completaria 18 anos que trabalhamos juntos. Ela é um exemplo de mulher que se dedicou à música de raiz e ensinou tanto pra gente. Inezita era um ser humano incrível. Incentivadora ao extremo, autêntica. Deu oportunidade a muitos jovens. Ela era uma mulher incrível, incomparável. Inezita é a expressão máxima da música sertaneja de raiz", afirma o músico, emocionado.

A dupla Lourenço e Lourival também compareceu ao velório. "É como se fosse uma peça que quebrou e não tem reposição. Ela é a rainha e primeira dama do sertanejo. Não tem outra", diz Lourenço. "Foi uma coisa que chocou a gente demais. Ela sempre cantou a música raiz e nunca abandonou. Sempre estávamos no programa dela. É uma perda irreparável", completa Lourival. 

O cantor Donizete mostrou seu carinho por Inezita: "Falar sobre Inezita é um sinal de respeito. Ela é a força da música caipira. Ficou 30 anos à frente de um programa tradicional de música sertaneja. Meu respeito e tristeza são muito grandes. Perdemos um ícone ímpar da nossa música. Ela conseguiu provar a força da mulher e vai deixar muita saudade. A Inezita ajudou muita gente nova, muito artista que não tinha acesso. Ela deu muitas oportunidades para as pessoas. Um coração enorme, uma pessoa sensacional. Ela me chamava de bonitinho". O apresentador Rolando Boldrin lamentou a morte da amiga: "Ela era única mesmo. Fazia um trabalho contra a corrente, fazia o que tinha de ser feito, mostrava que a música caipira na era sertaneja. A verdadeira música caipira não é sertaneja. O Brasil chora muito".

Pela Assembleia Legislativa também passaram os fãs de Inezita, organizados numa fila ao lado do corpo da cantora. Maria Cabral acenou levou uma bandeira do Brasil e Maria da Glória Cesar de Brito se aproximou do caixão para dau um beijo no rosto de Inezita. Elas eram fiéis da plateia do programa e iam a todas as gravações.

Trajetória

Ignez Magdalena Aranha de Lima nasceu em 4 de março de 1925 na Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares. Formada em Biblioteconomia na USP (Universidade de São Paulo), Inezita foi uma grande pesquisadora da música caipira brasileira, percorrendo o interior do Brasil para resgatar histórias e canções. Recebeu o título de doutora Honoris Causa em Folclore pela Universidade de Lisboa.

O nome artístico foi criado aos 25 anos, quando juntou seu apelido de infância, Inezita, ao sobrenome do marido, Barroso. Além de cantora, era folclorista, atriz e professora. Começou a cantar e estudar violão aos sete anos. Depois, começou com viola e piano. Tomou gosto pelo universo rural já nos primeiros anos de sua vida e na adolescência, e sua carreira como cantora começou no início dos anos 1950, no nordeste, onde realizou recitais de grande sucesso. Durante sua trajetória como cantora, Inezita gravou cerca de 100 álbuns.

O primeiro DVD musical da dama da música raiz, Inezita Barroso – Cabocla Eu Sou, foi lançado em dezembro de 2013 e sintetiza os mais de 60 anos de carreira da artista.

Inezita ganhou mais de 200 prêmios, entre eles o Prêmio Sharp de Música na categoria Melhor Cantora Regional, o Grande Prêmio do Júri do Prêmio Movimento de Música, em homenagem aos 47 anos de carreira, e o Prêmio Roquette Pinto como Melhor Cantora de Rádio da Música Popular Brasileira e o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2010. Foi ainda escolhida para ocupar uma das cadeiras da Academia Paulista de Letras, em 2014.

Desde 1980 ela apresentava o programa "Viola, minha viola", na TV Cultura, somando mais de 1500 edições. A emissora ainda não definiu quem vai substituir Inezita na apresentação do programa.

Por volta das 16h desta segunda-feira, 9, o corpo de Inezita será levado em carro do Corpo de Bombeiros em um cortejo até o cemitério Gethsêmani, no Morumbi, Zona Sul da cidade. O enterro está marcado para as 17h.

Fonte: Ego

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais