Cidadeverde.com

Aos 77 anos, Jane Fonda retrata a terceira idade em nova série

Imprimir

Jane Fonda passou por muita coisa em seus 55 anos de carreira: de modelo e musa fitness a ativista política, de menina dos olhos do cinema americano a atriz reclusa, aposentando-se precocemente e voltando a atuar somente anos depois, a vencedora de dois Oscars acumula trabalhos como quem tenta compensar os 15 anos em que ficou afastada dos holofotes. A atriz ressurge como a estrela da série “Grace and Frankie”, que estreia na próxima semana. Na nova produção, assinada pela criadora de “Friends”, Marta Kauffman, Jane tem a chance de viver uma personagem idosa, condizente com seus 77 anos.

"Estava querendo fazer uma série de TV sobre uma mulher idosa já há alguns anos. Então quando Marta Kauffman apresentou o conceito para mim e Lily eu disse “bingo!” — conta Jane em entrevista ao GLOBO, por telefone.

"Uma das razões pelas quais eu queria especificamente fazer uma série sobre mulheres idosas é porque somos a faixa demográfica que mais cresce no mundo. Além disso, os idosos estão vivendo mais, e a cultura e a mídia não costumam contar histórias sobre pessoas mais velhas. Mas eu sou uma idosa, quero ver a televisão falando sobre pessoas mais velhas, os tipos de problemas que enfrentamos, como nossas vidas são", completou.

Nos 13 episódios da série, Jane e Lily (de 75 anos) revisitam a parceria que viveram há mais de três décadas, quando estrelaram (com Dolly Parton), o clássico “Como eliminar seu chefe”. Agora, elas dão vida às personagens-título da série, uma perua e a outra riponga, que descobrem que seus maridos têm um caso há 20 anos. Grace e Frankie, que nunca se suportaram, são obrigadas a se apoiar ao serem abandonadas pelos companheiros de uma vida inteira, vividos por Martin Sheen e Sam Waterston (este também de “The newsroom”), ambos de 74 anos. Para Jane, ter um núcleo de protagonistas como esse é um alento.

"Queria mostrar a realidade de ser idoso, e não o estereótipo. Pessoas idosas têm vida sexual. Ok, não estou dizendo que todo idoso faz sexo, mas muitos continuam sexualmente ativos se assim eles escolhem. Acho muito marcante que dois homens, que se amam há 20 anos, nunca tenham tido a oportunidade de ser honestos sobre isso. Tudo por causa da homofobia na nossa sociedade. É muito corajoso que esses personagens, interpretados por Martin e Sam, possam finalmente dizer 'isso é o que nós somos, e não podemos continuar escondendo isso'. É um tema muito bonito para abordar: mesmo quando se está velho você pode decidir quem você quer ser", disse a atriz.

E disso ela entende. Aos 53 anos, Jane resolveu largar uma bem-sucedida carreira, abandonando o ofício compartilhado por seu pai, Henry, e seus irmãos Peter e Bridget. Só aos 67 ela decidiu que o show tinha que continuar, inspirada pela separação traumática do magnata das telecomunicações Ted Turner, em 2001, e por sua autobiografia, “My life so far”, lançada em 2005. Valeu a pena. Pelo livro e pelo filme “A sogra”, que marcou sua volta ao cinema, também em 2005, tornou-se a primeira pessoa a ocupar simultaneamente os topos da bilheteria e do ranking de best-sellers.

Fonda e Jennifer Lopez no filme "A Sogra".

"No fim dos anos 1980, estava muito abalada como pessoa, infeliz como mulher, não queria mais atuar — relembra Jane — Mas esse período (de divórcio e de mergulho nas memórias) me deu confiança. Assim que terminei o livro, disse para mim mesma: 'Fonda, você está tão diferente, você pode voltar a ter prazer atuando'. Foi quando decidi que era hora de voltar. Meu primeiro filme foi “A sogra” (2005), um sucesso enorme, e eu já estava com 67 anos (apesar de espinafrada pela crítica, a comédia com Jennifer Lopez arrecadou US$ 155 milhões). Acho que isso nunca aconteceu antes, uma mulher deixar os holofotes e voltar com tanta idade, com a oportunidade de reconstruir a carreira. Tenho sorte, continuei em forma e pareço bem para a minha idade", afirma.

Apesar dos percalços e inseguranças do passado, Jane admite que se fosse jovem hoje seria ainda mais difícil lidar com a pressão da fama.

"Quando comecei, não havia paparazzi, não havia smartphones, não havia Twitter, não havia Facebook. Você tinha privacidade! E isso já não é mais uma realidade, sinto muito pelos artistas mais jovens, é muita pressão", disse.

A pressão, como ela faz questão de frisar, é ainda maior quando se é uma atriz jovem e mulher. Como muitas outras de suas colegas vêm reclamando, a feminista autodeclarada se junta ao coro que critica a falta de bons papéis femininos em produções hollywoodianas.

"Os filmes já não são o que eram nos anos 1970. Agora eles são imensos, multimilionários, com efeitos especiais, não são acolhedores para as mulheres. Não há tantos bons papéis para nós, estamos falando de uma indústria muito masculina. Os filmes independentes é que têm sido bons para as mulheres. Eles e a TV. É por isso que as mulheres estão migrando para a TV. Há mais boas oportunidades — conta ela, que prefere manter o mistério em torno de seu papel no filme de Sorrentino, pelo qual vem sendo elogiada nos bastidores, antes mesmo da primeira exibição em Cannes", informa.

De tema correlato ao de “Grace and Frankie”, “Youth” (“Juventude”) traz Michael Caine e Harvey Keitel como um regente aposentado e um cineasta tentando encerrar a carreira em grande estilo.

"Não posso falar sobre o meu papel no filme, é meio que um segredo. Mas adianto que é bastante dramático. Como atriz, é sempre bom poder ser desafiada a fazer coisas diferentes", conta.

Para o futuro, Jane torce para que ela e seus colegas de “Grace and Frankie” possam envelhecer mais e mais junto com os personagens da série. Se pensa em se aposentar de novo?

"Não. Nem posso parar agora, tenho muita coisa para fazer!", finaliza.

Fonte: O Globo

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais