Cidadeverde.com

Assassino confesso de cartunista ri durante depoimento no Goiás

Imprimir

Assassino confesso do cartunista Glauco, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, Cadu, de 29 anos, riu, foi irônico e até se irritou durante a audiência de instrução e julgamento do processo sobre os latrocínios do agente prisional Marcos Vinícius Lemes da Abadia, 45 anos, e do estudante de direito Mateus Pinheiro de Morais, 21 anos, em Goiânia. Ele disse que não se lembra de ter cometido os crimes em agosto do ano passado.

“A pancada foi tão grande [ao ser preso] que deve ser por isso que eu fiquei retardado e não lembro de nada", alegou durante o interrogatório na 5ª Vara Criminal de Goiânia, no Fórum.

Cadu foi detido na capital em 1ª de setembro do ano passado, um ano depois de ser liberado pela Justiça para conviver em sociedade. Ele havia sido submetido a internação em clínica psiquiátrica pela morte de Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni Vilas Boas, em Osasco, em 2010.

A audiência começou por volta das 9h e terminou cerca de 2h30 depois. Acusado de dois latrocínios, receptação e de porte ilegal de arma de fogo, Cadu só entrou na sala da sessão após o depoimento de parentes das vítimas. Algemado e escoltado, ele apresentou estar calmo até começar a ser questionado.

O réu disse que não tinha “nada a declarar” para a maioria das perguntas da juíza Bianca Melo Cintra, que presidiu a audiência. Cadu confirmou apenas que sabia que era roubado o carro que dirigia, no momento da prisão em 1º de setembro de 2014. O veículo pertencia a Mateus e foi levado durante o assalto, um dia antes.

Irônico

Na sessão, o promotor de Justiça Fernando Braga Viggiano apresentou uma carta apreendida com Cadu dentro do Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, onde está detido. Segundo o representante do Ministério Público de Goiás (MP-GO), o réu escreveu que tinha planejado um esquema de roubo de carros, os quais seriam levados para o Paraguai.

Interrogado sobre a carta, o acusado negou que a tenha escrito. “Não fui eu quem escrevi a carta, foi Chico Xavier que desceu e escreveu", disse, ironicamente.

Cadu também foi sarcástico em outros momentos. Questionado sobre onde vivia antes de ser preso, ele respondeu que “morava com o Gasparzinho”. Quando o promotor perguntou sobre seu pai, o réu disse apenas que ele era “amigo do Cebolinha”.

A promotoria também questionou a conduta de Cadu no presídio. Segundo Viggiano, o réu incendiou sua cela há 15 dias e entrou em conflito com os agentes prisionais. “Estou de saco cheio, você não sabe a desgraça que é lá, não sabe o tanto que é desumano", disse. Nervoso, ele completou: "Me condena a pegar 30 anos, porque 10 anos é pouco".

Por fim, o promotor pediu a condenação de Cadu nos quatro crimes. “Existem provas suficientes para a condenação dele. Não há dúvida que ele deve ser condenado. Ele se demonstra muito sarcástico, responde o que lhe interessa, gosta de confronto e o que não lhe interessa ele não responde”, acusou Viggiano.

Já o advogado de defesa de Cadu, Sérgio Divino Carvalho Filho, rebateu a acusação da promotoria. “As provas contra ele são fracas, pois, quando quebraram o sigilo telefônico dele, foi comprovado que no momento dos crimes supostamente cometidos por ele, ele estava em bairros diferentes de onde aconteceram os latrocínios”, alegou o defensor.

O advogado também pediu à juíza que Cadu seja acompanhado de um psicólogo e transferido do presídio para uma clínica psiquiátrica. A juíza ainda vai analisar o pedido.

Testemunhas

No total, 13 testemunhas foram arroladas, sendo que seis não compareceram e uma foi dispensada. A primeira a ser ouvida foi a namorada do estudante de direito e testemunha do crime, Paula Fernanda de Carvalho Faria. Ela disse que reconhece Cadu como o autor do crime. “Eu vi o rosto dele. Quando ele sacou a arma, eu firmei o olhar no rosto dele”, garantiu.

Em seguida, a mãe do agente penitenciário, Darlene Fernandes D´abadia, prestou depoimento. A mulher disse que o filho coordenava um organização não governamental e era uma pessoa muito boa, que nunca sofreu ameaças. "É muita dor e tristeza. Não sei nem o que falar de tanta saudade", disse a mãe.

O terceiro a depor foi Euriomar Rodrigues da Cunha, que testemunhou o momento em que o agente penitenciário foi baleado. "Não tenho dúvida que era o Cadu. Eu passei muito próximo dele", disse.

Depois foi a vez do delegado Thiago Damasceno ser ouvido. Ele foi o responsável pela prisão do réu, pois avistou o carro roubado de Mateus e iniciou perseguição ao veículo.

Cadu dirigia o automóvel e bateu em um muro. Ele tentou correr, mas foi detido pelo policial militar Wilson Luiz Ávila Júnior, que também prestou depoimento durante a audiência. Inclusive, o PM tinha estudado com Cadu anos antes. A última testemunha que depôs foi o guarda civil metropolitano Rodrigo César Costa de Moraes, que também participou da perseguição a Cadu.

Laudos contraditórios

Laudos médicos expedidos pela Junta Médica do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) consideram Cadu imputável, ou seja, capaz de responder judicialmente pelos seus atos. Em avaliação feita entre abril e maio pelos psiquiatras, o acusado explicou a sensação que sentiu quando cometeu os latrocínios na capital: "O crime é um vício melhor que cocaína".

A conclusão dos psiquiatras goianos é que, na avaliação de Cadu, “não foram verificados indicadores de doença mental que provoque alienação da realidade do tipo esquizofrenia”.

A doença - que não tem cura e provoca alucinações - foi diagnosticada, no entanto, pela Justiça do Paraná, para onde Cadu fugiu após matar Glauco e o filho. Por isso, entenderam, em laudo realizado em 2010, que ele era "inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato".

Por este motivo, Cadu não chegou nem a ser julgado. Por dois anos, ficou internado em clínicas psiquiátricas. A última foi em Goiânia, onde a família dele mora. Em 2013, a Justiça de Goiás decidiu que ele poderia voltar a viver em sociedade, vindo, posteriormente, a praticar os latrocínios.

Crimes

Marcos foi baleado no dia 28 de agosto do ano passado e morreu após ficar quase um mês internado. Câmeras de segurança flagraram o momento em que ele reage a um assalto e luta com o criminoso, que atira na cabeça do servidor e foge com a ajuda de um comparsa.

Sobre essa acusação, Cadu alegou aos psiquiatras que atirou porque a vítima reagiu. "Você não viu o que ele fez? Ele meteu a mão no meu revólver. Aí já dei dois tiros", afirmou.

Já em relação à morte do estudante de direito Mateus Pinheiro de Morais, de 21 anos, ocorrido em 31 de agosto de 2014, Cadu não explicou em depoimento porque atirou mesmo após a vítima não reagir. O jovem foi baleado quando deixava a namorada em casa, na Rua T-29, no Setor Bueno.

 

Fonte: G1.

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais