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Escritora e jornalista Svetlana Alexievich vence Nobel de Literatura

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A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich, de 67 anos, foi anunciada na manhã desta quinta-feira (8) vencedora do Nobel de Literatura 2015. Ela é a 14ª mulher a vencer o prêmio. A escolha foi divulgada em um evento na cidade de Estocolmo, na Suécia. Além do título, a escritora ganha 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,75 milhões).

Segundo o comitê da premiação, Alexievich foi escolhida por sua "obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo". Ela é uma das raras autoras de não ficção premiadas com o Nobel.

A cerimônia de entrega acontecerá em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel.

Sem títulos publicados no Brasil, o livro mais famoso da autora é "Voices from Chernobyl", que reúne entrevistas com testemunhas da maior catástrofe nuclear da história.

"Acabo de informá-la", afirmou Sara Danius, secretária da Academia Sueca, ao canal público SVT. "Ela disse apenas uma palavra: Fantástico!", completou. "É uma grande escritora, que encontrou novos caminhos literários", disse Danius.

Entre seus livros traduzidos para o inglês, estão "Zinky Boys: Soviet Voices from a Forgotten War" (1992), "Zinky Boys: Soviet Voices from the Afghanistan War" (1922), "Voices from Chernobyl: Chronicle of the future" (1999) e "Voices from Chernobyl: the Oral History of a Nuclear Disaster" (2005).

Cronista implacável da URSS

Svetlana Alexievich retrata o império soviético de Chernobyl ao Afeganistão em livros que não são encontrados em seu país. A escritora não perdoa a visão do "homo sovieticus", incapaz de ser livre.

A obra da escritora é rica em depoimentos ouvidos com paciência ao longo do tempo. O título "O fim do homem vermelho ou a era do desencanto", um retrato sem concessões mas compassivo do "homo sovieticus", que saiu mais de 20 anos depois da implosão do império da União Soviética, recebeu em 2013 o prêmio Medicis de ensaio na França.

"Conheço bem aquele 'homem vermelho': sou eu, as pessoas que me cercam, meus pais", explicou Svetlana em uma ocasião. Mais tarde, completou: "Não desapareceu. E o adeus será muito demorado", disse em outra oportunidade.

Por este motivo, a escritora diz que tem muito respeito pelos ucranianos que, com seus protestos, expulsaram do poder o ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014.

"Hoje o modelo para todos é a Ucrânia. Seu desejo de romper por completo com o passado é digno de respeito", opinou a vencedora do Nobel sobre o país devastado pelo conflito entre separatistas pró-Rússia e as forças ucranianas.

"Penso que o império ainda não desapareceu. E, pessoalmente, tenho a inquietante impressão de que não desaparecerá sem derramamento de sangue."

Biografia

Vinda de uma família de professores rurais, Svetlana Alexievich nasceu em 31 de maio de 1948 na cidade de Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, mas cresceu na Bielorrússia. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk entre 1967 e 1972. Após a graduação, trabalhou num jornal local na província de Brest.

Depois ela voltou para Minsk, onde trabalhou na "Sel’skaja Gazeta", jornal das fazendas coletivas soviéticas. Lá, ela reuniu material para seu primeiro livro "War's Unwomanly Face" (1988), baseado em entrevistas com centenas de mulheres que participaram da Segunda Guerra Mundial.

Este trabalho é o primeiro do grande ciclo de livros de Alexievich, "Voices of Utopia", em que a vida na União Soviética é retratada a partir da perspectiva do indivíduo. Por causa de sua crítica ao regime, Alexievich viveu periodicamente no exterior, na Itália, França, Alemanha e Suécia, entre outros lugares.

Não ficção

O Nobel para Svetlana Alexievich representa uma exceção porque é bastante incomum a Academia Sueca premiar um autor que escreva, predominantemente, não ficção. O prêmio é entregue desde 1901.

Antes da bielorrussa, raros exemplos de escritores do gênero a levar o Nobel foram Theodor Mommsen (1902), Bertrand Russell (1950), Winston Churchill (1953) e Jean-Paul Sartre (1964). O francês também escreveu romances, peças de teatro e crítica literária, mas foi reconhecido sobretudo por sua atuação como filósofo.

Outro vencedor do Nobel que, apesar de ter escrito ficção, se destacou com ensaios e memórias foi Elias Canetti (1981).

Voz das mulheres

Svetlana Alexievich é a 14ª mulher a ganhar o Nobel de Literatura. Em 2013, a escritora canadense Alice Munro recebeu o prêmio.

A proposta do livro de estreia de Svetlana – "War's unwomanly face", algo como "A guerra não tem uma face feminina – era registrar relatos de mulheres que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial.

"Tudo o que sabíamos da guerra foi contado pelos homens. Por quê as mulheres que suportaram este mundo absolutamente masculino não defenderam sua história, suas palavras e seus sentimentos?", questionou a escritora certa vez.

Abaixo, veja os vencedores do Nobel de Literatura dos últimos anos:

2014: Patrick Modiano (França)
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Mario Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia)
2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007: Doris Lessing (Reino Unido)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Reino Unido)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: J. M. Coetzee (África do Sul)

Veja a lista das mulheres que já receberam o Nobel de Literatura:

2015: Svetlana Alexievich (Ucrânia)
2013: Alice Munro (Canadá)
2009: Herta Müller (Alemanha)
2007: Doris Lessing (Grã-Bretanha)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
1996: Wislawa Szymborska (Polônia)
1993: Toni Morrison (EUA)
1991: Nadine Gordimer (África do Sul)
1966: Nelly Sachs (Suécia)
1945: Gabriela Mistral (Chile)
1938: Pearl Buck (EUA)
1928: Sigrid Undset (Noruega)
1926: Grazia Deledda (Itália)
1909: Selma Lagerlöf (Suécia)

Fonte: G1

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