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?Virei um escritor popstar?, diz Paulo Coelho em entrevista

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Paulo Coelho, 60 anos, diz-se ?excitado? com o lançamento de O Vencedor Está Só, seu 12o romance, que acaba de chegar às livrarias brasileiras. ?Se eu perder essa sensação, perco a alegria de viver?, afirma. No livro, o escritor penetra no universo da moda, mostrando, paralelamente, os bastidores do mundo das celebridades por meio da história de um serial killer, que, alucinado para reconquistar o amor de sua vida, dissemina o pânico em Cannes, na França, durante um dia do famoso festival de cinema. Paulo está confiante no sucesso da publicação, mas diz que só espera retorno de seus leitores. ?A crítica é que nem eunuco de harém: está ali, sabe como se faz, mas não consegue fazer?, afirma o autor, que já vendeu 100 milhões de livros em mais de 160 países. A marca levou-o ao Livro Guinness dos Recordes como o escritor vivo mais vendido em todo o mundo.

De seu apartamento em Paris, uma das quatro residências que mantém pelo mundo e que divide com a mulher, a artista plástica Christina Oiticica, com quem está casado há 28 anos, Paulo concedeu uma entrevista a Simpático, falou sobre sua biografia, O Mago, escrita por Fernando Morais, e, claro, sobre sua vida de celebridade. ?Virei um escritor popstar?, diz ele, que também escreveu, com exclusividade para a revista, um texto em que apresenta seu novo romance.

Qual é o lado bom e o lado ruim de ser uma celebridade?
O lado bom é ter as portas abertas. Para escrever um livro desses, por exemplo, eu conhecia 90% do assunto, mas não conhecia o mundo da moda. Então, dei meia dúzia de telefonemas e resolvi o problema conversando com dois ou três dos grandes costureiros franceses, assisti à Semana da Moda de Paris e tive todas as informações de bastidores necessárias. Fora esse lado profissional, quando você viaja, fica sempre bem, porque as pessoas já te conhecem e te mostram uma cidade que não veria como um turista comum. Dá para se sentir em casa. O lado mais chato é que acabo sendo convidado para muitas coisas, às vezes não dá para dizer não, e não sou de muita badalação. Mas isso é quase nada perto da alegria de ver o meu trabalho reconhecido. O lado positivo supera, disparado, qualquer aspecto negativo. Até entendo que algumas celebridades se isolem, mas qual é a graça?

No livro, um ator famoso, personagem que você chama de A Celebridade, fala dos momentos em que é preciso sorrir, mesmo quando não se está com vontade. Você já passou por situações assim?
Não. Mas há uma hora em que o personagem diz ?Não consigo comer?, e isso acontecia muito comigo. É claro que já tenho bastante jogo de cintura para lidar com momentos que começam com perguntas como: ?De onde vem sua inspiração??. Digo: ?Não vamos começar com entrevistas aqui porque não é o caso. Vamos falar da sua vida, de como está a minha?. Assim, sem ser rude ou indelicado, mudo rapidinho a situação.

Em sua biografia, O Mago, escrita por Fernando Morais, fica claro que, por mais que tenha alcançado sucesso e dinheiro em outras áreas, seu foco sempre foi ser um escritor reconhecido. Isso não significa perseguir a celebrização?
Virei um escritor popstar. O meu pensamento era levar as minhas histórias aonde tivesse que levar. Como eu, deve ter uns dois ou três no mundo ? virei uma celebridade mesmo. As pessoas me reconhecem nos lugares. Nem nos meus sonhos mais delirantes eu imaginava que chegaria nesse ponto.

Qual é sua opinião sobre programas como o Big Brother, do qual despontam celebridades instantâneas?
Isso também é visto na internet. Todo mundo pode escrever, pintar, mostrar um filme. Sou extremamente a favor, acho que as pessoas se identificam com pessoas normais, entendem que todas elas têm um potencial, e isso, ao contrário de muitas críticas que ouvimos, dá uma força extra para se ir além.

Você gostou de sua biografia?
Sim. Achei muito factual, e desse aspecto gostei.

E do que não gostou?
Não que eu não tenha gostado, mas acho que falta o lado do crescimento espiritual. Mas não tinha como. Acho o Fernando o biógrafo ideal, pois, como bom comunista, não acredita em nada disso, então ele foi muito coerente com ele mesmo, além de ter feito uma biografia não tendenciosa.

Você não interferiu?
Eu queria muito ter interferido (risos). Porque, quando abri meu baú de diários, não tinha a menor idéia do que ia sair dali. Primeiro vi a capa do livro, pensei: ?Meu Deus do céu?. Depois recebi a prova, morrendo de medo de achar que faltava algo, mas o livro já estava impresso. Aí, veio o medo: ?Como vão reagir?? E reagiram otimamente.

Mas fica parecendo que você interferiu no livro, porque sua vida pessoal foi mais exposta antes de seu casamento com Christina.
É porque dali em diante não escrevi muitos diários (risos). A partir do casamento passei a relaxar mais.

Lendo O Mago fica claro que você é a favor de casamentos abertos. A sua união com Christina é assim?
Não. Isso foi só no começo.

Há uma passagem no livro sobre um menino que você atropelou quando era adolescente e não lhe prestou socorro. Pensa nisso?
Quando li a biografia, até rezei muito pela alma do rapaz, que terminou morrendo, pelo que entendi torturado, muitos anos depois. O que me lembro é que aquilo me marcou muito, a ponto de eu só voltar a dirigir muitos anos depois. Esses são erros que acontecem na vida, que não há muito como corrigir... É assim.

Há quanto tempo você não vem ao Brasil? 
Estive no Brasil entre os dias 12 e 21 de abril. Tenho ido muito ao Brasil, só que não vou para aí, nem para lugar nenhum, para badalar. Só para Cannes (risos).

Comenta-se que você está com problemas com o fisco brasileiro, e que por isso não viria aqui.
Isso não é verdade.

Você foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2002 e, na época, disse que seria enriquecedora a convivência com os acadêmicos, mas não convive com eles. Por quê?
Ontem mesmo estava conversando com o presidente da ABL (Cícero Sandroni), e continuo achando a convivência com aquelas pessoas enriquecedora. Só que raramente vou lá, até porque o Brasil é o meu jardim secreto. Quando estou no país, quero mesmo é ficar na minha, andar no calçadão, encontrar os amigos, ficar relaxado.

O que espera da crítica de O Vencedor Está Só?
A crítica é muito distante da realidade. O que espero da crítica é que ela faça cursos no MySpace, blogs, Orkut, entende? Para saber o que está acontecendo no mundo atual. Hoje em dia, os críticos escrevem para os outros críticos, as pessoas não dão a mínima para o caderno cultural ? o que é uma pena. O que eu espero mesmo vem dos meus leitores. A crítica é que nem eunuco de harém: está ali, sabe como se faz, mas não consegue fazer.

O vencedor está só?
O perdedor é o coitadinho, está sempre com um monte de gente em volta. Detesto isso. E as pessoas não se solidarizam com a derrota porque querem consolar, mas porque têm o prazer mórbido de ver alguém em pior situação. Então, de certa forma, o vencedor fica só, sim.
 
 
 
Fonte: Revista Quem
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