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Planalto mira cargos de deputados que votaram contra a reforma trabalhista

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Imbassahy e Padilha, os homens do Planalto responsáveis em analisar a lista dos infiéis nas últimas votações no Congresso


Cerca de 40 deputados — mais de 10% da base de apoio do presidente Michel Temer — vão começar a perder os cargos que comandam a partir de hoje por infidelidade política ao Planalto. As exonerações serão publicadas no Diário Oficial da União e servirão como um alerta para os aliados no debate da reforma da Previdência, a mais dura batalha que o governo terá pela frente. “Não estamos falando de perseguição ou revanchismo. Mas os deputados não podem deixar de votar em um projeto só porque ele é impopular”, afirmou um dos vice-líderes do PMDB, Lúcio Vieira Lima (BA).

Lúcio defende a estratégia, lembrando que esta não é a única ferramenta que o governo tem usado para buscar assegurar o votos dos parlamentares. “O presidente tem feito reuniões constantes com os líderes, apresentado as propostas, alterado pontos para atender as reivindicações dos deputados. Não é simplesmente toma lá, dá cá”, defendeu ele, acrescentando que, no ano passado, o governo do PT foi fisiologista ao nomear cargos para evitar o impeachment. “Não se trata disso neste momento. Trata-se de governar o país, o que só é possível com uma base parlamentar. Culpa de nosso sistema político”, criticou ele.

A estratégia de degola foi definida na quinta-feira passada, após reunião no Palácio do Planalto entre os ministros da articulação política e líderes de partidos aliados. “Essa pressão veio dos próprios deputados. Tem gente se questionando por que, mesmo sem ter qualquer apadrinhado na máquina federal, tem se exposto perante a opinião pública, enquanto parlamentares com cargos votam contra o governo nos projetos desgastantes”, disse um dos participantes da reunião.

O governo tem tido dificuldades em aprovar medidas de interesse. Mesmo com as ameaças de retaliação feitas na semana passada, o governo obteve 296 votos para aprovar a reforma trabalhista na Câmara. O escrutínio foi suficiente para a aprovação do texto, mas ainda abaixo dos 308 votos necessários para aprovar uma emenda constitucional — caso das mudanças propostas para a Previdência.

A questão precisa ser melhor trabalhada, especialmente nessas propostas mais complexas. Veja que, à exceção do DEM, em todos os partidos da base, tivemos dissidências nos debates da terceirização e da reforma trabalhista. Até no PMDB, que é o partido titular do governo”, reforçou o líder do PPS, Arnaldo Jordy (PPS-PA). “Não estamos dizendo que a Previdência não precise de nenhum tipo de mudança, porque ela precisa. A questão é qual a reforma necessária para este momento”, completou. “Mas estamos, sim, diante do mesmo mecanismo (de oferecer cargos em troca de apoio) adotado por todos os governos”, reconheceu ele.

Justificativas

A navalha, não necessariamente, cortará de uma vez só. Como as conversas ocorreram na semana passada, poderá haver ainda um prazo para que um ou outro deputado se justifique. Segundo articuladores palacianos, todas as mudanças foram avalizadas pelas lideranças partidárias para evitar surpresas quando os nomes começarem a ser publicados no Diário Oficial. E que a maioria daqueles que tiveram suas traições “justificadas” já expuseram as respectivas razões para a infidelidade.

O governo também não quer dar margens para que a base de apoio afirme que as pressões são feitas, mas que, ao fim e ao cabo, nada acontece com quem não segue as orientações do Planalto. Isso poderá servir, inclusive, no caso do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do partido no Senado e considerado um voto perdido na tramitação das duas reformas. “Tem gente dizendo que não vamos cortar cargos de peemedebistas alagoanos. Quem sabe esses dias não poderão ser didáticos?”, provocou um correligionário de Renan.

Se o Planalto aperta o cerco, o PSB não recua um milímetro de sua disposição em fechar questão contrária às reformas, como definiu o Diretório Nacional socialista na semana passada. Quatro presidentes de diretórios estaduais que votaram a favor da reforma trabalhista foram destituídos — Fábio Garcia (MT), Tereza Cristina (MS), Danilo Fortes (CE) e Maria Helena (RR). A partir desta semana, outros socialistas alinhados às reformas deverão perder espaço na burocracia partidária.

Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), essa pressão toda do Planalto sobre os infiéis tende a surtir pouco efeito. “Nosso partido fechou questão contra a reforma e o ministro (Fernando Bezerra Filho, Minas e Energia) segue no cargo. O que eles vão fazer com as outras legendas que tiveram uma minoria de deputados contrários às propostas?”, questionou Delgado.

Fonte: Correio Braziliense 

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