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Filha de desembargador faz homenagem ao pai que completaria 100 anos

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Se fosse vivo o desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí, Vicente Ribeiro Gonçalves estaria completando 100 anos neste 5 de maio de 2017. Para homenageá-lo sua filha, Alice Ribeiro Gonçalves Ibiapina, escreveu uma carta resgatando memórias vividas com o desembargador.

Nesta sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Piauí fará uma sessão especial em homenagem ao desembargador que morreu em 31 de dezembro de 1995. 

Veja na íntegra a carta: 

CARTA DA ALICE A SEU PAI

Hoje, dia 5 de maio de 2017, meu pai completaria 100 anos de nascido. Minha relação com o Desembargador Vicente Ribeiro Gonçalves ultrapassou os limites pai/filha, mais que amigos, éramos cúmplices e a admiração que sinto por ele cresce a cada dia, mesmo após quase 22 anos de falecido. 
Grande magistrado, magnífico marido, avô companheiro e reconhecido conselheiro, foi, àquela época, o mais novo Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, nomeado para tal cargo aos 38 anos de idade. O Desembargador Vicente, que tinha o dom da oratória, apesar de excelente ouvinte, me ensinou que fazer o bem deve ser prioridade e que nem sempre fazer somente o que está ao alcance é suficiente para fazer o seu melhor. A saudade, hoje, virou companhia fiel e ela todos os dias me relembra o quanto eu amo meu pai.

Quando criança, meu pai me instruiu a brincar, me falava que isso curaria as minhas ânsias e os meus desejos referentes àquele período. Quando jovem, meu pai me orientava a amar, amar o outro como eu amava a mim mesma, seja o outro quem ele for. Foi nessa época que o meu orientador-mor me ensinou, com bondade e humildade, uma de suas maiores lições: bem melhor que dar o peixe, é ensinar a pescar. Lembrei-me nesse momento de um episódio que me marcou muito, e mesmo jovem, à época, pude mensurar a dimensão da sabedoria de meu pai. Um rapaz, desempregado, adentrou a nossa casa pedindo ajuda para o Desembargador Vicente Ribeiro Gonçalves, questionou se ele, com seu vasto e grandioso círculo de amizades, conhecia alguém que procurava um motorista, disse que era moço esforçado, justo e trabalhador, que não decepcionaria aquele que lhe desse a oportunidade de um emprego. Não sei se por coincidência ou por pura obra divina, um velho amigo de meu pai, que naquele momento estava realmente procurando um motorista, se encontrava na nossa casa no exato momento da visita do então rapaz. Meu pai mediou aquela negociação frutífera e o rapaz estava empregado, mas o Desembargador Vicente deixou ressalvada uma observação, que chamou a atenção de todos nós que observávamos a cena: "amigo, peço-lhe que o empregue por apenas 2 meses". Na noite daquele dia fui questionar meu pai a respeito de tal ressalva e ele me disse: "filha, se esse rapaz me falou a verdade ao dizer que era esforçado, justo e trabalhador, tenho certeza que não será somente por dois meses que meu amigo o contratará". No final da história, me perdi na contagem e creio que, se fossem vivos, o rapaz ainda estaria trabalhando para o amigo do meu pai. 

A casa em que vivíamos, localizada na rua Acre, estava sempre cheia, e meu pai fazia questão de mantê-la assim. As visitas eram diversas: amigos, filhos, netos e bisnetos e aqueles que o procurava apenas em busca de um ombro amigo. Em 1962, essa casa nos serviu de apoio para a visita do ilustre Presidente Juscelino Kubitschek, já que naquela época não existia em Teresina hotel com aparato suficiente para tamanho evento.
O dia 5 de maio sempre me trouxe uma nostalgia grandiosa, e hoje, especialmente, o meu coração se enche de amor, de saudade e de admiração pelo meu pai, que foi um grande homem e que para sempre será lembrado como tal. 


Da Redação
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