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Consumo das famílias volta a crescer após 2 anos e puxa recuperação da economia em 2017

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Após dois anos apertando o cinto, o consumo das famílias cresceu em 2017 e contribuiu para a alta de 1,0% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Apesar de o avanço dos gastos não chegar nem perto dos patamares de anos anteriores, a alta de 1,0% no ano passado mostra que os brasileiros estão voltando a comprar, ainda que de forma cautelosa. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O consumo das famílias tem forte peso no PIB brasileiro, de 63,4%. Ou seja, mais da metade do que é produzido no Brasil depende da demanda das famílias.

“Essa retomada do consumo permitiu que os setores da indústria e dos serviços ficassem mais fortes", diz a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro/Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo ela, os principais fatores que impulsionaram os gastos das famílias no ano passado foram:

- Inflação mais baixa – o IPCA fechou 2017 em 2,95%, menor patamar desde 1998
- Melhora do poder de compra com os ganhos reais nos salários (reajustes que foram dados com base na alta dos preços de 2016)
- Aumento da massa salarial (soma da remuneração de toda a população ocupada) com o crescimento da população ocupada e da renda média
- Liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que injetaram cerca de R$ 44 bilhões na economia em 2017, beneficiando 25,9 milhões de trabalhadores

“A inflação muito baixa ajuda no consumo e permite uma taxa de juros mais baixa, que melhora o emprego e a renda, que gera mais consumo, e volta a gerar mais emprego. É um processo cíclico muito favorável para a economia”, diz Silvia.

A demanda das famílias é o componente mais importante do bolo que também é dividido pelos gastos do governo, investimentos em bens de capital (máquinas e equipamentos) e comércio exterior. É ele que sustenta o crescimento do setor de serviços, o principal segmento do PIB pelo lado da oferta, que cresceu 1,0% em 2017.

FGTS inativo
Segundo a economista, o FGTS inativo ajudou a alavancar o consumo principalmente no 2º e 3º trimestres de 2017.

“Se não houvesse a liberação do FGTS, o consumo do 2º trimestre teria ficado estagnado. E esse dinheiro alavancou fortemente o consumo no 3º trimestre”, afirma Silvia.

No período de liberação do dinheiro, segundo a economista, cresceu principalmente a venda de bens não duráveis (alimentos) e semiduráveis (calçados e vestuário). Houve reflexo também, ainda que em menor proporção, nas compras de bens duráveis (eletrodomésticos e automobilísticos).

'Mimos' de volta
A dona de casa Maria Amélia Trigueiro Fernandes, de 37 anos, voltou a consumir em dezembro do ano passado, após dois anos comprando só o estritamente necessário. O corte dos gastos veio após o marido perder o emprego em 2015 e só conseguir voltar ao mercado de trabalho no segundo semestre do ano passado.

“Fiquei muito tempo com medo de gastar, economizava até no supermercado, procurando por marcas mais baratas”, diz.

O corte de gastos fez com que Maria Amélia não comprasse mais roupas e parasse de ir ao cabeleireiro e manicure. Para os filhos de 4 e 13 anos, só comprava o que realmente precisava, e sempre pesquisando preços.

Nesse tempo em que teve de segurar os gastos, Maria Amélia adquiriu novos hábitos de consumo que não pretende perder. Agora ela não vai mais em lojas que considera caras e procura comprar durante a época de liquidações, como fez neste começo de ano. Somente no supermercado que se permite não olhar mais tanto os preços como fez durante os dois anos de aperto.

“Agora que meu marido voltou a ter uma renda fixa a gente fica mais confiante para gastar, mas sem extravagância”, comemora.

Maria Amélia não é a única a ter cautela na hora de gastar - e é por isso que o avanço do consumo ocorre a ritmos modestos. Segundo Silvia, da FGV, o crédito voltou a crescer, mas as pessoas estão receosas para se endividar porque ainda temem o risco do desemprego, que atinge 12,7 milhões de pessoas.

O ano de 2017 teve a maior taxa de desocupação da série histórica (12,7%) e o desemprego alcançou 13,23 milhões de pessoas - o mais elevado em 5 anos.

“As famílias aprenderam a ser cautelosas com o cenário de recessão. O consumo voltou, mas o ritmo está mais modesto por conta das incertezas do contexto econômico”, diz Silvia.

Redução do desemprego
Para o economista Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, a melhora do mercado de trabalho foi o que mais contribuiu para a retomada do consumo das famílias em 2017.

“Em 2017 tivemos um ciclo descendente de desemprego, com todos os trimestres trazendo quedas efetivas. Isso deixou o consumidor mais confortável e confiante para gastar”, afirma.

Segundo ele, quando o trabalhador vê seus colegas sendo mandados embora, ele para de gastar, contribuindo para desacelerar a economia e aumentar o desemprego. “Quando o cenário começa a mudar, ele vê que não só sobreviveu, como começa a ver gente sendo contratada. Aí ele se vê num cenário de inflação baixa, com poder de compra. Então decide gastar aquele dinheiro que ele segurou quando a situação era de incerteza”, explica.

Vieira também aponta a queda nos preços dos alimentos como fator importante para impulsionar o consumo.

O economista afirma que o índice que mede os investimentos das empresas (a formação bruta de capital fixo) começa a dar sinais de reaquecimento, diante da melhora do consumo.

Redução da inadimplência
Além disso, a queda dos juros e a maior facilidade para renegociar as dívidas também foram fatores importantes, pois contribuíram para a redução do endividamento das famílias, segundo o economista. Com o nome limpo, elas têm condições de voltar a consumir e contratar novas linhas de crédito.

A secretária Rita de Cássia Sidney, de 51 anos, conseguiu realizar o sonho de voltar a viajar após três anos de contenção de gastos. Ela foi passar as férias no Chile em janeiro deste ano com o marido. A “rédea curta”, como ela define, já faz parte do passado.

Rita de Cássia conta que viajou porque conseguiu pagar dois terços de suas dívidas com o banco e o cartão de crédito no ano passado. O restante ela acredita que consiga quitar até o final deste ano.

“O que tem ajudado são as menores taxas de juros e a maior facilidade para renegociar as dívidas”, diz.
Além disso, o marido, que é corretor de imóveis, está retomando suas vendas após um período de desaquecimento no setor de construção civil. “Foi um período difícil para ele e por causa disso tive que arcar com a maior parte das despesas em casa”, diz.

Para a secretária, é nítido que a economia está melhorando. No final do ano passado, ela conseguiu concluir a reforma em sua casa que já durava dois anos. Além disso, voltou a comprar sapatos, roupas, cremes e perfumes e retomou as idas constantes ao cabeleireiro, manicure e podóloga.

E a secretária já tem planos para as próximas férias: pretende viajar com o marido para a Itália no final do ano. “É meu maior sonho”, revela.

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