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Zezé diz que baixar músicas pela internet "ajuda mais do que atrapalha"

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Depois de 26 milhões de discos vendidos em 17 anos de carreira, a dupla Zezé di Camargo & Luciano volta às lojas com o lançamento de seu 20º álbum, o homônimo "Zezé di Camargo & Luciano". Em entrevista Zezé di Camargo diz que o disco segue a linha dos anteriores porque só um "louco" mudaria de fórmula depois de tamanho sucesso.

Ele fala sobre a "angústia" de quase ter perdido a voz, diz que está "viciado" em discos de hinos nacionais e conta que não pode se dedicar à leitura porque tem de cuidar da dupla. "Eu fico dois, três meses dentro do estúdio fazendo arranjo, produzindo. Ele [Luciano] fica três dias."

Leia a entrevista

Folha Online - Este é o 20º álbum da dupla. O que os fãs vão encontrar de diferente em relação aos 19 discos anteriores?

Zezé di Camargo - É difícil mexer em uma fórmula que vem dando certo há tanto tempo. Nós somos cantores de música romântica, só um louco para mudar as características radicalmente. Mesmo assim, a gente tentou colocar pinceladas diferentes daquilo que a gente já fez. Nesse disco, a gente fez um reggae e um axé com percussão baiana e tudo, bem axé. Tem um grande percentual de música alegre, com sanfona, acordeão e levada de música gaúcha. Temos um xote, quase um vanerão.

Folha Online - Você acha que a música sertaneja precisa passar por alguma renovação?

Zezé - O gênero vem passando por uma renovação, principalmente se formos comparar com os discos de 20 anos atrás, como os do João Mineiro e Marciano, por exemplo. Naquele tempo, todo disco tinha de ter três ou quatro canções rancheiras. Depois ela caminhou para o chamamé, criado pelos argentinos e que entrou no Brasil pelo Mato Grosso. Depois foi entrando as baladas românticas, parecidas com as músicas americanas: contrabaixo explícito, guitarra, bateria. Antes o ritmo era mantido só pelos violões e contrabaixo.

Folha Online - Sua música é mais popular hoje do que nos anos 90?

Zezé - Sim. Vou fazer uma analogia com o futebol. O Pelé conseguiu seu sucesso no mundo inteiro sem a força que a mídia tem hoje. As pessoas conheciam o nome Pelé, mas não sabiam quem ele era. Já o Ronaldinho todo mundo conheceu mais rápido porque a mídia é maior hoje. A música sertaneja passava por isso. Hoje faz sucesso na rádio e na semana seguinte você está no Faustão.

Folha Online - Você ouve sertanejo universitário?

Zezé - Eu acho que é um rótulo que criaram para justificar o injustificável. Quando a bossa nova surgiu no Brasil, criou-se um ritmo novo. Quando o rock apareceu, também era novo. Quero saber o que tem de novo no sertanejo universitário. Eles regravam músicas da gente. No show eles tocam as músicas de sucesso. Eu acho que é uma mentira musical.

Folha Online - Como a dupla se mantém conectada com os jovens?

Zezé - As FMs tocando no dia-a-dia aproximou. Mas, hoje, qualquer artista tem o seu site. Isso funciona muito. No Orkut, tem muitos perfis falsos se passando por mim. E nas comunidades há tópicos com perguntas como quem é mais bonito, se eu ou o Luciano.

Folha Online - Você é favorável ao uso da internet para baixar músicas?

Zezé - Baixar a música pela internet é danosa, mas ajuda a divulgação da música. O formato [MP3] é bom, mas a maneira como está fazendo é ruim. Música é fonte de renda para muita gente. Tem muitos profissionais por trás da música. O cara baixa a sua música e não vai comprar seu CD. Por outro lado, ajuda com a divulgação. Eu acho que, fazendo um balanço, ajuda mais do que atrapalha.

Folha Online - O que você gosta de fazer entre a gravação de um disco e outro?

Zezé - A não ser cantar, quase que nada. Nós fazemos uma média de 130 shows por ano. Quando chego em casa quero é descansar. E eu vivo música 24 horas por dia. Eu sempre penso num projeto novo, ouvindo artistas diferentes.

Folha Online - O que você tem ouvido ultimamente?

Zezé - Comprei um CD com hinos nacionais. Os que eu mais gosto são os da Alemanha, Itália, dos Estados Unidos e da França. Cada um te remete a uma situação. Quando ouço o da Alemanha, me remete ao Holocausto, não que eu goste do Holocausto, de jeito nenhum. Mas ela te remete àquela imagem do muro de Berlim caindo, ao Hitler. Te remete a uma época do mundo que te impressiona. Eu sou muito musical. Eu escuto tudo, como música clássica para dormir. Strauss, Beethoven. Eu ponho no ouvido até pegar no sono.

Folha Online - Fora o CD de hinos, qual foi o último que você comprou?

Zezé - O último foi do [americano] Aeron Neville. Eu adoro a voz dele. Não é pop, não é folk, não é country. Parece grupos negros que a gente vê em filmes raciais. Eu gosto muito de voz negra.

Folha Online - Qual foi o último livro que você leu?

Zezé - Não consigo lembrar. Eu li muito pouco na vida. Eu leio muito factual. Pelo menos três revistas semanais, jornais todos os dias. Já o Luciano é um devorador de livro. Ele tem tempo, eu sou muito envolvido com a dupla. Eu fico dois, três meses dentro do estúdio fazendo arranjo, produzindo. Ele fica três dias. O Luciano fica em casa cuidando dos cachorros, em lua-de-mel com a mulher.

Folha Online - Você passou por um problema na voz. Já está resolvido?

Zezé - Tinha um cisco congênito na corda vocal. Ele não interferia, mas há um ano e meio ele começou a me deixar rouco, não conseguia chegar no agudo. Fiquei um ano e meio tentando resolver sem precisar operar. Foi um ano e meio de angústia, desespero total.

Folha Online - E como está a sua relação com o presidente Lula?

Zezé - Eu o apoiei mesmo naquela época de intempéries [como a crise do mensalão]. Foi o Luciano que o criticou. Ele tem uma parte irreverente. Mas não é porque o Lula está vivendo um momento bom que eu estou apoiando. Eu penso assim: o Brasil está melhor ou pior? Está bem melhor. Então está dando certo. Ele é forte até na sorte. Na vida, a gente tem de ter competência e sorte.

Folha Online - Ele erra em algum ponto?

Zezé - Falar de fora é muito fácil. E ele teve essa prova. Quando estava do outro lado, ele bateu. Agora que está lá ele viu que não é tão fácil assim. Ele foi criado no meio de sindicalistas, que via o patrão como inimigo, querendo transformar o Brasil em um país socialista. Esses companheiros que tinham essa visão xiita ficaram no tempo. Uma ala continuou nessa esquerda radical. Quando se está dentro do furacão, a atitude tem de ser outra.

Folha Online - Nas eleições americanas você torceu por Barack Obama ou por John McCain?

Zezé - Eu vi que o Obama tem uma política protecionista demais. O McCain, em termos de Brasil, seria mais liberal, um mercado mais aberto. Mas em termos de política externa e esperança, Obama é com certeza muito maior do que McCain. Ele tem uma visão mais catedrática, de universidade. [Se eu fosse americano] teria votado no Obama. A gente corre o risco de cair no conto do vigário, mas a gente tem de se agarrar em alguma coisa.

 

Fonte: Folha Online

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