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Justiça dos EUA condena Marin a 4 anos de prisão e multa de US$ 1,2 milhão

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Bruno Domingos/Mowa Press

DANIELLE BRANT
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - atualizada às 21h24

A Justiça americana condenou nesta quarta (22) o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, 86, a 48 meses de prisão e a pagar multa de US$ 1,2 milhão (R$ 4,8 milhões) por receber propinas e lavar dinheiro no escândalo de corrupção da Fifa.

Marin foi condenado pela juíza Pamela Chen em sessão que durou três horas na Corte do Brooklyn, em Nova York. Ela ainda ordenou o confisco de US$ 3,35 milhões (R$ 13,4 milhões) do cartola.

Do período de 48 meses estipulado como pena, Marin deverá cumprir mais 28. A defesa espera que sete sejam retirados da sentença por bom comportamento e outros 13 meses que o cartola já está preso devem ser considerados.

Depois, ele ficará dois anos em condicional, período no qual terá que prestar contas regularmente ao governo americano -mesmo que seja deportado ao Brasil ao fim do tempo na prisão.

Os advogados disseram que vão apelar da decisão.

Marin aguardará a definição do local onde cumprirá pena no presídio do Brooklyn, onde está detido. A defesa pediu que ele fosse encaminhado para uma penitenciária de segurança mínima, em recomendação que foi acatada pela juíza Chen -que, porém, não tem o poder de decidir para onde ele será enviado.

A multa de US$ 1,2 milhão será dividida em seis parcelas, que começarão a ser pagas seis meses depois de 20 de novembro, quando a juíza fará nova audiência para decidir sobre a restituição de valores a Fifa, Conmebol, Concacaf e ex-funcionários da Traffic Sports USA.

Em sua decisão, Chen diz ter levado em consideração a idade de Marin para determinar a sentença de quatro anos -a idade média de prisioneiros nos EUA é de 36 anos. Ela admitiu que qualquer pena muito extensa seria equivalente a uma "sentença de morte".

Mas a juíza lembrou que o ex-presidente da CBF já tinha 79 anos quando começou a conspirar para os crimes dos quais foi acusado. Chen também desconsiderou argumento da defesa, de que Marin teve papel secundário no esquema e foi vítima de um ambiente já corrompido.

"Ao tomar conhecimento da corrupção na Fifa, ele deveria ter falado não e exposto o esquema, em vez de se juntar a ele", afirmou a magistrada.
Marin esteve presente na audiência. Ele ouviu as argumentações com a ajuda de um intérprete. Antes de escutar a sentença, leu um texto no qual disse que sua vida virou um inferno após a prisão.

Ele pediu para que, na decisão, Chen considerasse sua idade avançada e a ligação que tem com sua esposa, Neusa, que "tem sofrido demais".

Marin apelou para que fosse liberado para que pudesse comemorar os 60 anos de casamento com a mulher. "Eu sou um homem sem futuro, mas estou preocupado com [a esposa] Neusa. Jesus carregou uma cruz, eu carrego duas cruzes. Ela não tem nada a ver com isso", disse, chorando.

Nesse momento, aparentou estar fortemente emocionado, o que fez a juíza ordenar um intervalo de dez minutos para que ele pudesse se recompor.

Ao lado do intérprete, Marin falou poucas vezes. Em uma das únicas ocasiões em que reagiu ao que a juíza dizia, mostrou irritação quando Chen questionou o serviço público prestado pelo cartola -um dos argumentos usados pela defesa para tentar evitar a imposição de uma sentença maior ao cartola.

A juíza levantou dúvidas sobre a contribuição de Marin à comunidade, lembrando que ele se afastou do serviço público na década de 1980 -ele governou o estado de São Paulo entre 1982 e 1983.

Marin assumiu o posto na condição de vice do então governador Paulo Maluf, que na época deixou o cargo para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.

"O bem que ele fez à comunidade foi ofuscado pelo mal que fez nos últimos anos", afirmou a juíza.

Ao ouvir a tradução, o ex-presidente da CBF murmurou "eu estava aposentado".

Em sua argumentação, a juíza afirmou que o espírito público deixou Marin em 2012, quando ele começou a fazer parte do que a Promotoria qualifica de conspiração para obter ganhos financeiros com a transmissão de partidas oficiais da Fifa.

"Ele não precisava do dinheiro, e é difícil de acreditar que ele não sabia que o que estava fazendo é errado. Não havia razão para que cometesse os crimes", afirmou a juíza.

A condenação foi mais branda do que a pena pedida pela promotoria, que era de dez anos de prisão e multa de cerca de US$ 7 milhões (R$ 28,4 milhões na cotação atual).

Marin foi preso em maio de 2015 na Suíça e extraditado em novembro do mesmo ano para os Estados Unidos.

Condenado nos EUA por seis crimes cometidos durante sua gestão na CBF, José Maria Marin assumiu o cargo em 2012, aos 79 anos, para cumprir o restante do mandato de Ricardo Teixeira, que havia renunciado.

Ele era o vice mais velho da confederação e, por isso, ficou com o posto, seguindo estatuto da entidade. Antes de ser presidente da CBF, foi vereador, deputado estadual e governador de São Paulo.

As acusações no chamado Fifagate englobam ações de suborno, fraudes e de lavagem de dinheiro. Os cartolas teriam recebido pagamentos ilegais, que começaram em 1991 e atingiram duas gerações de dirigentes e executivos, que movimentaram mais de R$ 564 milhões.

Empresários do marketing esportivo como Alejandro Burzaco, da Torneos y Competencias, J. Hawilla, da Traffic, e Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho donos da Full Play, teriam subornado os cartolas com viagens de jatinho, banquetes em restaurantes badalados e suítes de hotéis cinco estrelas.

O objetivo era obter vantagens na negociação de contrato para terem os direitos de transmissão de partidas de torneios no continente.

PERFIL - José Maria Marin, 86
Nascido em São Paulo em 6.mai.1932, foi jogador de futebol antes de formar-se em direito. Foi eleito vereador de São Paulo em 1963. Durante a ditadura militar, foi deputado estadual, vice-governador e, de 1982 a 1983, governador do estado. Vice-presidente mais velho da CBF, assumiu a entidade em 2012 após renúncia de Ricardo Teixeira. Ficou no cargo até abril de 2015. Um mês depois, foi preso na Suíça por envolvimento no Fifagate.
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