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Desmatamento não prejudica comércio com EUA, diz ministra

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Foto: FramePhoto/Folhapress

 

A ministra Tereza Cristina (Agricultura) afirmou nesta segunda-feira (18) que "não faz o menor sentido" dizer que o aumento recorde do desmatamento na Amazônia poderia prejudicar a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, já que a produção para exportação brasileira se concentra em outras regiões do país.  Em visita a Washington para reuniões com analistas, empresários e integrantes do governo americano, a ministra admitiu ver problemas no avanço da destruição da floresta, mas disse que a expansão da agricultura brasileira "não depende do bioma amazônico."  

"De jeito nenhum. Não faz o menor sentido [dizer que o aumento do desmatamento poderia prejudicar as relações comerciais com os EUA]. A agricultura brasileira que exporta não é a agricultura da Amazônia de jeito nenhum. A gente precisa parar de falar isso. A agricultura brasileira que exporta está no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste do país." A Amazônia Legal, porém, abrange o estado do Mato Grosso, localizado no Centro-Oeste e um dos recordistas em desmatamento.
Nesta segunda-feira (18), o governo brasileiro divulgou dados consolidados que mostram o aumento recorde, de 29,5% em 12 meses, do desmatamento na Amazônia. 

Foram destruídos 9.762 quilômetros de floresta, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Juntos, os estados de Pará, Rondônia, Mato Grosso e Amazonas representam 84% do total desmatado no período, cerca de 8.213 km². Somente o Mato Grosso é responsável por 17,2%. A ministra afirmou ainda não ter visto os números em detalhes   –somente as declarações de Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) sobre o tema–, mas afirmou que é preciso avaliar os índices "com conhecimento exato, sem achismo", como um reforço de seu argumento para minimizar qualquer impacto dos índices na relação comercial entre Brasil e EUA, por exemplo.

Deputados americanos de oposição ao governo de Donald Trump, porém, já se manifestaram contra a política ambiental de Jair Bolsonaro –aliado do republicano– e chegaram a apresentar uma resolução no Congresso que pode dificultar os laços entre os governos.  Após o discurso do brasileiro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, em que o presidente exaltou a ditadura e negou o aumento das queimadas na floresta, democratas pediram que os EUA se opusessem a financiamentos do Banco Mundial e do BID a "projetos que possam contribuir com o desmatamento ou incêndios em florestas tropicais da região amazônica". 

Ainda pediam que o país cancelasse a designação do Brasil como aliado preferencial extra-Otan, que fora acertado em março durante visita de Bolsonaro a Washington. Investidores estrangeiros também usavam os dados sobre o aumento da destruição da floresta como mais uma justificativa para atrasar o aporte de dinheiro no país –além dos baixos índices de crescimento. Ao ser questionada sobre a disposição de Bolsonaro, que já questionou a veracidade dos dados sobre o desmatamento, usar os números desta segunda para investir em políticas públicas específicas na região, a ministra foi interrompida por Orlando Leite Ribeiro, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura.

Ele disse que a reportagem estava "equivocada" ao dizer que o presidente questionou dados sobre o desmatamento. "Ele não questionou a autenticidade dos dados, mas como esses dados foram avaliados." O presidente, porém, afirmou em julho que os dados sobre desmatamento da Amazônia divulgados pelo Inpe eram incorretos, exagerados e prejudicavam a imagem do país. Ele também sugeriu que o então diretor do órgão, o engenheiro Ricardo Galvão, poderia estar "a serviço de alguma ONG" e que os números crescentes de desmate não condiziam com a realidade.  "Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo", disse o presidente à época. Galvão acabou demitido.

Entre outras medidas de sua política ambiental, Bolsonaro criticou fiscais do Ibama (e exonerou o funcionário que lhe aplicou uma multa ambiental em 2012), sinalizou que deve atender aos anseios de garimpeiros cujo maquinário foi destruído pelo Ibama, flexibilizou medidas de fiscalização, transferiu órgãos do Ministério do Meio Ambiente para outras pastas e a paralisou o Fundo Amazônia, que recebia dinheiro da Noruega e Alemanha para estimular ações de controle sobre desmatamento e uso sustentável do bioma.

Fonte: FolhaPress

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