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Com volta da esquerda, expressões kirchneristas ganham força

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Foto: Cristina Kirchner/Instagram

Nas últimas semanas, conforme se aproximava a posse do novo presidente argentino, Alberto Fernández, e da vice, Cristina Kirchner, voltaram às ruas termos e expressões muito comuns quando o kirchnerismo estava no poder (2003-2015).

Entre os mais antigos estão o "nac & pop", que surgiu no governo do marido de Cristina, Néstor Kirchner (2003-2007), usado para se referir à cultura popular e tipicamente argentina -aquela que os jovens apoiadores preferiam.

Na gastronomia, por exemplo, estava simbolizado pelo "choripán" (um sanduíche de linguiça), e na música.

Outros termos estão vinculados à briga de Cristina com os meios de comunicação, iniciada em 2008, depois que o governo aumentou impostos dos grandes ruralistas. Começou a chamada "guerra com o campo", e jornais como "Clarín" e "La Nación" assumiram a defesa dos produtores.

Desde então, Cristina passou a se referir ao "campo" como uma força contra seu governo e contra a economia. O imposto aos ruralistas foi promulgado para aumentar a arrecadação e permitir que o Estado mantivesse gastos sociais.

Desde esse episódio, também ganhou projeção a agrupação La Cámpora, hoje influente na política e ocupando várias cadeiras no Congresso e ministérios -na época, era apenas uma organização de apoio composta por jovens.
Foi no ambiente do La Cámpora que ficaram famosas as canções como "Avante Morocha" ou "Soldados del Pinguino", que voltaram a ser ouvidas na praça de Maio na terça (10).

Foi o La Cámpora que difundiu as expressões que Cristina usava em seus discursos.
No livro "El Relato Kirchnerista en 200 Expresiones", de Pablo Mendelevich, esses e outros termos estão explicados.
Entre eles estão também referências ao "relato", ou seja, o modo peronista de contar a história. Durante a gestão de Cristina, comissões foram criadas para que livros de história de conteúdo revisionista fossem lançados, questionando os referências de pensamento liberal e elogiando os de perfil mais nacionalista.

Essa iniciativa era também chamada de "batalha cultural" -ou seja, apresentar uma versão alternativa da história em que heróis nacionalistas eram mais exaltados do que políticos do passado que valorizavam o livre mercado ou a aproximação com os EUA.

Essas palavras não estavam apenas nos discursos da presidente, mas eram usadas em programas de propaganda do governo na TV Pública.

O mais famoso era o "6,7,8", aos domingos, que se dedicava a juntar as reportagens e os títulos de jornais opositores, expor erros de edição, contradizer informações publicadas, falar de detalhes da vida pessoal dos jornalistas e convidar ministros ou integrantes do governo atacados pela imprensa para que se defendessem com amplo espaço.
É dessa época a disseminação da expressão "Clarín miente", em referência a um dos mais importantes jornais do país, que foi impressa em cartazes lambe-lambe espalhados por Buenos Aires.

Outra expressão que ganhou força recentemente é mais antiga: existe desde os tempos do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974). "Gorila" voltou a designar qualquer pessoa que não se identifica como peronista.
O peronismo, em geral, sempre gostou de cultivar símbolos. Não à toa na capital há um circuito de restaurantes e bares com temática peronista.

No dia da posse, o peronismo surgiu em símbolo improvável: um grupo de militantes do FeTraES (Federação de Trabalhadores da Economia Social) levou 200 panetones em embalagens com rostos de Perón, Evita, Néstor e Cristina.
As caixas traziam a frase: "Para o Natal dos pobres, dos humildes e dos descamisados [expressão que Evita usava] desde que Cristo, desprezado pelos ricos, que lhe fecharam todas as portas, teve de ir nascer num estábulo".

O dinheiro arrecadado com a venda do "Pan Dulce Peronista", que custava 180 pesos (cerca de R$ 12), iria para associações de caridade, segundo a organização. Todas as unidades disponíveis foram vendidas ali mesmo.

Fonte: Folha Press

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