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Motorista é banido da Uber após gravação de passageira

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Uma adolescente de 17 anos gravou e divulgou um vídeo nas redes sociais em que mostra um assédio que sofreu de um motorista do aplicativo Uber. A abordagem ocorreu durante corrida realizada na tarde de domingo, na cidade de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre (RS).

A jovem se deslocava para a casa de uma amiga quando foi abordada pelo condutor. Ao perceber que estava sendo assediada, começou a gravar o diálogo com a câmera do celular virada para o próprio rosto.

O motorista diz que poderia namorar a jovem, ao que ela responde que é menor. O condutor insiste, dizendo que esse não seria um problema. "Problema seria se tu tivesse 13 anos. E eu acho que tu não tem 13 anos... De 14 para cima, tu já é responsável", rebateu.

Depois, ele diz que a namoraria, se ela não tivesse namorado. A jovem então diz que o motorista tem idade para ser o pai dela. Mas ele insiste: "Não sou teu pai nada". Ela continua: "Mas tem idade". E ele continua: "Eu faria coisas que teu pai não faria. Pode ter certeza".

A jovem, então, tenta colocar um fim na conversa. "Eu não tenho interesse, obrigada", disse. "Estou só brincando, eu não estou dizendo que você deveria ter interesse", é a última fala do motorista no vídeo.

Ao fim da viagem, ela denunciou o perfil do motorista no aplicativo e registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher de Viamão. A Uber informou que o colaborador teve a conta banida e não atua mais na plataforma.

Ao registrar a ocorrência ao lado da filha na delegacia, a mãe da jovem lamentou o episódio e disse ter ficado "enojada e indignada" com o assédio. Segundo a mãe da garota, o Uber era o meio de transporte utilizado para evitar assaltos em ônibus.

Responsável pela investigação do caso, a delegada Marina Dillenburg disse que o suspeito prestaria depoimento nesta terça-feira e poderá ser indiciado, futuramente, por ter cometido crime contra a honra. "Estamos em contato com as demais plataformas para verificar se já houve algum episódio similar com este motorista. Vamos colher mais provas e esperamos receber mais denúncias, pois já temos notícias, de redes sociais, de outros casos envolvendo este suspeito, porém nada formal ainda. Aproveito para pedir às demais meninas que sempre procurem as autoridades."

Inaceitável

Por meio de nota, a Uber informou que o motorista foi excluído do aplicativo. "A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita. A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro." 

Versão do motorista

"Fui vítima dela. Ela entrou preparada para a conversa, sorriu todo o tempo. Se fosse assediada, não estaria esparramada no banco dando risadinha. Isso prova a intenção dela", disse André Lopes Machado, 43, à reportagem da Folha de São Paulo.

"No vídeo estou rindo de nervosa, não estava sendo grosseira porque fiquei com medo de que ele fizesse algo mais sério. [Fiquei com] medo de ser grossa e que daí acontecesse algo comigo", disse a garota.

O homem disse ainda que o vídeo foi editado. "Minha ideia é que ela chamou o Uber para dar um golpe", disse Machado. "Eu me senti assediada por ele. Olha as coisas que me disse, inclusive muito nojentas. Ele ofereceu um serviço, o mínimo é respeitar. Não é Tinder, não é paquera, é um serviço", disse a menina.

Polícia

Apesar de ter se sentido assediada, o homem pode ser indiciado por perturbação da tranquilidade e não por assédio sexual, segundo a delegada do caso, Marina Dillenburg, da Delegacia da Mulher de Viamão. "O assédio sexual, como previsto no código, precisa hierarquia entre autor e vítima, como patrão e funcionária, professor e aluna. [Neste caso] não se vê. É uma relação de consumo, a passageira usando um aplicativo. É um tipo de assédio, obviamente, mas não o previsto no Código", disse Dillenburg. A própria delegada procurou a família da garota após a repercussão nas redes sociais, orientando para que registrassem a ocorrência.

Segundo a delegada, após a repercussão nas redes sociais houve relatos de outras jovens que afirmam terem sido abordadas por Machado em paradas de ônibus e em academias. Nenhuma delas registrou ocorrência até o momento, disse Dillenburg.

Anitta defende passageira

Questionado sobre o ter justificado a abordagem porque a garota usava um "short do tipo Anitta, uma miniblusa", Machado respondeu que "virou um monstro nacional" e que seu "erro foi ter elogiado a beleza da moça". A afirmação foi dada à imprensa local e divulgada em um vídeo compartilhado pela cantora.

"Acabei de receber esse vídeo onde o motorista de Uber que assediou uma passageira menor de idade tenta justificar o injustificável (seu assédio) dizendo que a menina estava usando um short 'tipo Anitta' e sentada numa posição favorável ao assédio", escreveu Anitta em rede social.

"Foi um absurdo. Sempre disse para ela não pegar ônibus por causa dos assaltos. 'Pega Uber para se sentir segura', dizia. Daí vem um sem vergonha e faz uma coisa dessas. A mulher tem o livre arbítrio de ir e vir, no momento que quiser. Não é por ter o braço e perna de fora que tem que ser ofendida, não está se oferecendo por estar assim. Estava um calorão! Tem que ter respeito e ele não teve com ela", disse a mãe da jovem.

Fonte: FolhaPress e Estadão Conteúdo

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