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Bombeiros retomam buscas por 11 vítimas ainda não localizadas em Brumadinho

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Bombeiros Minas Gerais

 Angelita. Cristiane. Juliana. Lecilda. Luis Felipe. Maria de Lurdes. Nathália. Olímpio. Renato. Tiago. Uberlândio. A lista de pessoas ainda não localizadas na área de rompimento das barragens da Vale, em Brumadinho (MG), ficou congelada com esses 11 nomes desde o dia 28 de dezembro, quando foram feitas as últimas duas identificações.

Depois de cinco meses suspensas, devido à pandemia do novo coronavírus, com duas previsões de retorno adiadas e receio das famílias, as buscas no local foram retomadas nesta quinta-feira (27).

Patrícia Borelli, 38, espera pelo corpo da mãe, Maria de Lurdes, que estava em Brumadinho para visitar o Instituto Inhotim, com o marido Adriano, os filhos dele, Camila e Luiz, e a noiva de Luiz, Fernanda, grávida de cinco meses de Lorenzo. Todos morreram no desastre.

"É incrivelmente importante que encontrem todas as vítimas, porque é muito difícil para nós, familiares, saber que eles ainda estão lá na lama", diz ela.

O planejamento da nova fase leva em conta o período de estiagem na região, que deve durar três meses, e contou com obras de infraestrutura para drenar o terreno, cortado por cursos d'água.

Até o momento, foi removido 1,7 milhão de metros cúbicos de rejeitos -a estimativa da Vale é que nove milhões de metros cúbicos tenham vazado no rompimento.

"Esse período que ficou paralisado, todo o terreno foi trabalhado para que as buscas fossem mais eficazes. Nunca tivemos um terreno tão propício a buscas como agora", avalia o coronel Alexandre Gomes Rodrigues, comandante da Operação Brumadinho.

As buscas serão concentradas em seis regiões prioritárias, em uma área próxima ao local onde ficava a pousada Nova Estância, zona em que se concentra a possibilidade de encontrar os corpos de todas as vítimas.

Pelos estudos dos bombeiros, Olímpio estava mais próximo ao local de rompimento, à jusante da barragem, nove ainda não localizados estavam na área do refeitório, e Maria de Lurdes, na pousada, ponto mais abaixo.

Com uma grande área a ser explorada, onde a profundidade dos rejeitos chega a três metros em alguns pontos e a dez em outros, e onde a força da lama foi capaz de carregar vagões de locomotivas e máquinas pesadas por quilômetros, o trabalho é baseado em possibilidades, lembra o coronel Alexandre.

Para o retorno, os 60 militares que irão trabalhar em turnos diários de 12 horas foram testados para a Covid-19; aspectos como transporte e locais de alimentação sofreram adaptações de acordo com medidas de prevenção ao contágio.

Os bombeiros, vindos de unidades de todo o estado, farão revezamento semanal e seguem sem poder passar mais de 21 dias no local, devido ao risco de contaminação pelos metais presentes na lama de rejeitos.

Durante o período de suspensão das buscas, quatro casos foram localizados na área da lama, por funcionários da Vale que trabalhavam nas obras de preparação do terreno. Três deles foram solucionados e um ainda aguarda conclusão da perícia, junto a outros 12 casos em análise.

Desde dezembro, quando foram divulgadas as duas últimas identificações, 37 laudos de conclusão foram emitidos pelo IML (Instituto Médico Legal) de Belo Horizonte. Entre os 13 casos ainda em análise, porém, avaliações preliminares não apontam para novas identificações.

A complexidade se deve à decomposição e à contaminação de grande parte dos casos encaminhados à perícia, especialmente aqueles que são dos chamados tecidos moles. Impressões digitais, por exemplo, que ajudaram em grande parte das identificações no início, agora são mais difíceis de recuperar.

Segundo o médico legista Ricardo Moreira Araújo, ainda assim, há probabilidades de identificação. Um caso encaminhado ao IML em julho, por exemplo, foi identificado, mesmo após um ano e meio desde o rompimento.

"É uma resposta positiva, mostra que o limite biológico não foi alcançado. A gente conta cada vez mais agora com a resposta dos ossos e dentes, materiais que a gente chama de tecidos não moles. Eles preservam melhor o DNA", explica ele.

Com duas datas previstas para retomada das buscas adiadas, as 11 famílias que ainda aguardam uma conclusão chegaram a temer que elas não retornassem.

Luciano de Oliveira, 49, espera por notícias da filha mais velha, Nathália de Oliveira Porto Araújo, 25, que trabalhava na Vale e deixou dois filhos pequenos, desde o dia 25 de janeiro de 2019.

Durante 15 dias, ele buscou pela filha em Brumadinho. A última vez que os dois se viram foi nas festas de fim de ano de 2018. No dia do rompimento, Nathália conversou com uma tia, empolgada com os materiais que estava comprando para a casa nova, em construção.

"Até hoje, eu não superei, não. Se tivesse algum final, talvez poderia ser diferente. Mas, como não encontrou, a gente fica naquela esperança...Sei lá. É inexplicável. Parece que o pesadelo não acabou ainda", conta ele. "É tão sufocante que a gente quer acordar".

Mãe de Renato Eustáquio de Sousa, 31, Eva de Sousa, diz que o tempo não sara a perda do filho, brincalhão e carinhoso, e que o desastre mudou a vida da família para sempre.

Localizar o corpo, diz ela, "fecharia o ciclo de uma coisa horrível que eu passei na vida". "Não gosto de falar sobre isso. Tem horas que dá vontade de ir lá, cavocar aquela terra com as próprias mãos e ver se ele está lá. Fantasia de mãe."

QUEM SÃO ALGUNS DOS 11 AINDA NÃO LOCALIZADOS EM BRUMADINHO
ANGELITA CRISTIANE FREITAS DE ASSIS

CRISTIANE ANTUNES CAMPOS, 34
trabalhava na Vale havia dez anos, onde começou dirigindo caminhão. Depois fez curso técnico em mineração e se tornou supervisora de mina. Deixou dois filhos pequenos, uma irmã e a mãe.

JULIANA CREIZIMAR DE RESENDE SILVA, 33
trabalhava na Vale havia dez anos. O marido dela, Dennis Augusto da Silva, também morreu no desastre. Os dois deixaram dois bebês de dez meses.

LECILDA DE OLIVEIRA, 49
trabalhava na Vale havia cerca de 30 anos. Tinha muitos conhecidos e amigos na empresa, era madrinha de casamento de Juliana. Deixou dois filhos, duas irmãs e a mãe.

LUIS FELIPE ALVES, 30
engenheiro de segurança do trabalho. Trabalhava havia três meses na Vale e estava havia 15 dias na mina Córrego do Feijão, local do rompimento. Deixou os pais e dois irmãos.

MARIA DE LURDES DA COSTA BUENO, 59
administradora de imóveis, estava na Pousada Nova Estância com o marido Adriano, os filhos dele, Camila e Luiz, e a noiva de Luiz, Fernanda, que estava grávida de cinco meses de Lorenzo. Todos morreram no desastre. Deixou dois filhos.

NATHALIA DE OLIVEIRA PORTO ARAUJO, 25
era estagiária na Vale, tinha feito curso de técnica em mineração e sonhava em trabalhar na empresa. Deixou o marido e dois filhos pequenos.

OLIMPIO GOMES PINTO
RENATO EUSTAQUIO DE SOUSA, 31, era funcionário da Vale, na parte de mecânica. Deixou duas filhas, a companheira, os pais e dois irmãos mais novos.

TIAGO TADEU MENDES DA SILVA, 34
trabalhava na Vale havia mais de 10 anos. Tinha acabado de se concluir o curso de Engenharia Mecânica, com colação de grau marcada para março de 2019. Deixou a mulher e dois filhos.

UBERLÂNDIO ANTONIO DA SILVA
prestava serviço em uma terceirizada

 

FERNANDA CANOFRE
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) 

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