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Políticos repudiam agressões a jornalistas em caminhada de Bolsonaro em Roma

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Foto: Roberta Aline

Políticos repudiaram as agressões a jornalistas por seguranças que escoltavam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante passeio em Roma, na Itália, onde ele participou de encontro de líderes do G20, neste domingo (31).

Conforme relatou a repórter Ana Estela de Sousa Pinto, do jornal Folha de S.Paulo, também alvo de violência na ocasião, Bolsonaro não deu atenção aos acontecimentos, olhando fixamente para a frente durante todo o trajeto. Assessores do presidente em nenhum momento pediram calma ou intercederam.

"Bolsonaro estimula agressões a jornalistas dentro e fora do Brasil. Indesejado aqui e desprezado lá. Um verdadeiro pária. Ninguém quer ficar perto", disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), à reportagem.

"Nada mais me surpreende em relação à postura desse governo. Respeito a pessoas e à imprensa é premissa de respeito às liberdades. Para bom entendedor", afirmou Gilberto Kassab, presidente do PSD.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), se manifestou nas redes sociais. "Minha solidariedade aos jornalistas agredidos em Roma por uma comitiva de arruaceiros que está, mais uma vez, envergonhando o Brasil perante o mundo. Nosso país está cheio de problemas enquanto tal comitiva se dedica a passeios e arruaças de rua em capital de outro país. Absurdo", escreveu.

 

 

 

O jornalista Leonardo Monteiro, correspondente da TV Globo, contou ter levado um soco na barriga, desferido por um agente italiano, após ter feito uma pergunta ao presidente.

"Perguntei ao presidente Bolsonaro por que ele não tinha ido aos eventos do G20 de manhã. Aí veio um segurança, me empurrou com tanta força que até perdi um pé de sapato. Depois, me prensou contra a lateral de um carro e me deu um soco na barriga. Se não fosse o André [Miguel, repórter cinematográfico da emissora] e dois colegas, Ana Estela, da Folha, e Lucas Ferraz, do Globo, que vieram filmando e argumentaram com outro policial, seria pior", disse Monteiro.

"Foi uma violência desproporcional. A gente espera o 'cercadinho da imprensa' para proteger o presidente, mas não para inviabilizar o trabalho da imprensa", disse Monteiro.

No corso Vitorio Emanuelle 2º, em meio à correria e ao empurra-empurra, ao menos uma manifestante ficou ferida ao ser derrubada, e um grupo de pessoas que tentou se aproximar dela também foi empurrado.

Quando a repórter da Folha de S.Paulo começou a filmar a agressão contra Monteiro, um agente tentou arrancar o celular dela repórter e a ameaçou. O repórter do UOL Jamil Chade também teve o celular tomado enquanto tentava filmar, e os repórteres Lucas Ferraz, do jornal O Globo, e Matheus Magenta, da BBC Brasil, também foram agredidos verbalmente, empurrados e levaram socos nas costas.

Seguranças brasileiros e italianos ignoraram as credenciais e a informação de que os jornalistas estavam a trabalho e gritaram com colegas que diziam ser inaceitável o contato físico com brutalidade.

Durante todo o trajeto, Bolsonaro não deu atenção aos acontecimentos, olhando fixamente para a frente. Quando a repórter da Folha de S.Paulo lhe perguntou por que a segurança estava agredindo os jornalistas, ele parou, ouviu o que um assessor lhe disse ao ouvido e decidiu interromper o passeio e voltar à embaixada. As agressões dos agentes continuaram no caminho de volta -ao todo, o passeio durou cerca de dez minutos.

A repórter da Folha de S.Paulo se dirigiu a um homem uniformizado, o único que tinha um escudo que indicava que era um funcionário público. Ele disse ser da polícia, mas, quando questionado sobre o motivo de os seguranças italianos estarem impedindo a imprensa brasileira de trabalhar, afirmou que isso não acontecera e caminhou em direção à porta dos fundos da embaixada, onde passou a impedir a passagem dos repórteres.

Os seguranças disseram ainda que não poderiam ser filmados e se negaram a fornecer suas identificações e a dizerem se eram parte regular da polícia italiana. Assessores de Bolsonaro em nenhum momento pediram calma ou intercederam.

A Folha de S.Paulo perguntou à Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República quem são os responsáveis pela segurança de Bolsonaro em Roma, mas não obteve resposta.

Em nota sobre o episódio, o jornal Folha de S.Paulo afirmou: "A Folha repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional."

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse, em nota, que "repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente".

"A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística."

A nota ainda afirma que ANJ espera que os atos sejam apurados e os culpados, punidos. "A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária."

A Globo também se manifestou sobre o episódio. Em nota, a empresa afirmou que "condena de forma veemente a agressão ao seu correspondente Leonardo Monteiro e a outros colegas em Roma e exige uma apuração completa de responsabilidades.

"Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas", continua o documento.

"No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente."

A Comissão de Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também divulgou nota de repúdio aos ataques contra os jornalistas. "É lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa."


Fonte: Folhapress

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