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Moro é visto como incógnita por partidos e é tratado com desconfiança

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Foto: Pedro França/Agência Senado

Dirigentes de partidos de centro e centro-direita que buscam alternativa em 2022 a Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizem que o ex-juiz Sergio Moro pode até ter mais visibilidade na chamada "terceira via", mas é uma incógnita, o que dificultaria alianças eleitorais.

O diagnóstico é que, após a eleição de Bolsonaro, as legendas estão receosas de apostar em nomes cuja trajetória política seja desconhecida.

Dois outros fatores aumentam a desconfiança desses dirigentes em torno do ex-magistrado: ter abandonado a carreira de juiz para se tornar ministro de Bolsonaro e entrar na política; e ter sido considerado parcial pelo STF (Supremo Tribunal Federal) à frente dos casos de Lula na Lava Jato.

Ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro era responsável pelos processos da Lava Jato e abandonou a carreira para se tornar ministro da Justiça.

Um ano e quatro meses após assumir o cargo, em abril de 2020, o ex-juiz pediu demissão por discordâncias com o presidente. Deixou o posto fazendo uma série de denúncias ao mandatário.

Moro afirmou que Bolsonaro queria trocar a direção da Polícia Federal, porque estava acuado com operações que miravam sua família. A acusação deu origem a uma investigação no Supremo a respeito da conduta do presidente.

Bolsonaro prestou depoimento à PF na quarta-feira (3) passada e afirmou que Moro havia concordado com a mudança no comando da corporação em troca de ser indicado ao STF. O ex-juiz negou as acusações de Bolsonaro e disse que não troca "princípios por cargos".

Neste ano, Moro já sofreu uma dura derrota no Supremo, que o considerou parcial nas ações em que atuou como juiz federal contra Lula. A decisão da corte terminou por anular as ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto Lula pela Lava Jato.

A defesa de Lula apontou uma série de atitudes do então juiz como justificativas para o pedido de parcialidade.

Dentre elas, a condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, parentes e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.

O fato de Moro ter aceitado convite de Bolsonaro para assumir o ministério também foi relevante para a decisão do STF.

Da mesma forma os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, como a Folha, que expuseram a proximidade entre Moro e os procuradores da Lava Jato.

Todos esses elementos colaboraram para que o ex-magistrado fosse execrado pela esquerda e detestado por políticos tradicionais, para quem Moro sempre agiu com intenções políticas. Para uma parte, Moro começa oficialmente a carreira política isolado e precisará mostrar muito traquejo político para reverter o cenário.

Nas palavras de um dirigente, se quiser aglutinar apoios, o ex-juiz terá de "descer do salto" e conversar de igual para igual com os outros pré-candidatos que disputam o espaço de terceira via em 2022.

Outra ala dos dirigentes avalia que, pelo Podemos, Moro não terá condição de ser viável eleitoralmente, porque se trata de um partido que tem pouco tempo de televisão e recursos para bancar uma campanha.

Há ainda quem aposte que, apesar da sinalização de se lançar na disputa pelo Planalto, o ex-juiz sairá candidato ao Senado pelo Paraná. O cenário pode mudar se Moro começar a pontuar muito bem em pesquisas.

Hoje, ao menos cinco nomes estão no tabuleiro que espera romper a polarização Lula-Bolsonaro: os governadores Eduardo Leite (PSDB-RS) e João Doria (PSDB-SP), que disputam as prévias no partido; a senadora Simone Tebet (MDB-MS); o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM); e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

A ideia dos presidentes de partidos é analisar qual o nome mais competitivo às vésperas da eleição de 2022 e se unir em torno dele. A aposta é que só assim vão conseguir tirar Bolsonaro do segundo turno.

Há ainda Ciro Gomes (PDT), que disputa esse espaço para romper a polarização.
Nenhum dos candidatos, porém, tem se mostrado competitivo. A última pesquisa Datafolha, divulgada em setembro, mostra Lula com 44% das intenções de voto contra 26% de Bolsonaro no primeiro turno. Já Ciro aparece com 9%, Doria, 4% e Mandetta, 3%.

Desta vez o levantamento não testou o nome de Moro, mas em maio, dois meses depois de o STF rever as sentenças que havia proferido nas ações contra Lula, o ex-juiz apareceu com 7% das intenções de voto, empatado tecnicamente com Ciro, que tinha 6%.

A expectativa de dirigentes políticos é que o ex-magistrado deverá tirar votos principalmente da direita, eleitorado de Bolsonaro, o que pode atrapalhar os planos do mandatário.

Enquanto não se filia, Moro tem buscado nomes para elaborar seu projeto de governo e conversou inclusive com estrategistas políticos que auxiliaram Michel Temer (MDB) quando ele foi presidente da República.

O ex-juiz também tem mandado mensagens e procurado individualmente militares, congressistas e dirigentes políticos.

Na semana passada, ele teve agenda esvaziada em Brasília após o cancelamento de um jantar com o PSL. A cúpula do partido não quer fazer gestos políticos antecipados e só cogita apoiar Moro caso ele se filie à União Brasil, partido que resultará da legenda com o DEM.

Moro também não teve encontro que estava agendado com Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, em Brasília, mas depois se reuniu com o general em São Paulo. A ideia é mostrar que há apoio de ala dos fardados que rejeita Jair Bolsonaro.

Antes disso, o ex-juiz esteve com o presidente do PSDB, Bruno Araújo (PE), para convidá-lo pessoalmente a ir a sua filiação ao Podemos, nesta quarta-feira (10). Araújo disse que não poderá ir porque estará em viagem, mas que o partido enviará representante ao evento.

"O Podemos tem sentado conosco na mesa e outros partidos de forma permanente e constante para dialogar fora dos extremos que estão polarizando o país", afirmou Araújo.

O presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), também foi convidado, mas ainda não sabe se irá porque pode ter outros compromissos. "Sempre que surge um nome e um partido disposto a construir uma alternativa é positivo", disse.

"E a Renata [Abreu, presidente do Podemos] tem conversado muito com os outros partidos. A saída da terceira via, de uma candidatura alternativa aos extremos, é que todos, até março do ano que vem, consigam sentar numa mesa e ter uma união para não dividir o campo", afirmou Baleia Rossi.

Folhapress

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