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Assis Brasil tentava concluir projeto Mandu Ladino antes de morrer no domingo

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Foto: arquivo Cidadeverde.com


O escritor e romancista piauiense Assis Brasil morreu aos 92 anos tentando concluir o projeto infanto-juvenil Mandu Ladino, herói injustiçado que se rebelou contra matança de índios no estado. O projeto, no entanto, estava parado há 8 anos. 

“Ele não conseguiu concluir esse projeto. Seu último livro escrito foi ‘O Menino Maluquinho que Amava Borboleta’. Agora, fica só seu legado e as boas lembranças”, disse Leonardo Dias, amigo que cuidava do acervo das obras de Assis Brasil. 

Assis Brasil foi um escritor que também se dedicou a literatura para crianças e adolescentes, segundo informou o escritor Dilson Lages Monteiro, membro da Academia Piauiense de Letras do Piauí. 

“Ele dizia sempre que quando escrevia literatura infantil voltava a ser criança. Nesses personagens, nós vamos encontrar um elemento determinante do sucesso de Assis Brasil, que é a preocupação em fazer com que as crianças aprendam a cultivar a amizade, a igualdade e principalmente o amor”, relembrou Dilson Lages Monteiro. 

O velório teve início por volta das 1h da manhã desta segunda-feira (29/11). Poucas pessoas acompanham a cerimônia. No salão onde o Assis Brasil está sendo velado, apenas o amigo Leonardo Dias e a cuidadora dele estão ao lado do caixão. Nenhum familiar apareceu. 

Morte

Assis Brasil morreu na noite deste domingo (28/11). O escritor teve dificuldade respiratória por volta das 20h. Chegou a ser socorrido por uma equipe do Samu, mas não resistiu. 

Na última quarta-feira, Assis Brasil sofreu um acidente doméstico que resultou em uma fratura no fêmur. Na sexta-feira, ele foi submetido a uma cirurgia ortopédica no Hospital de Urgência de Teresina (HUT), que foi realizada com sucesso. Ele estava em sua residência, na rua David Caldas, no Centro de Teresina, quando morreu. 

Fotos: Roberta Aline

Escritor Dilson Lages

Assis deu voz aos invisíveis

Dilson Lages Monteiro, professor, poeta, romancista, ressaltou ainda que Assis Brasil é sem sombra de dúvidas uma das grandes expressões da literatura brasileira do século 21. 

Para o escritor, os personagens escritos por Assis em suas obras são aqueles invisíveis pelas estruturas de poder. 

“Esses personagens ganham espaço e voz em toda a sua literatura. Seus romances funcionam como um grito de indignação e de resistência. E ele fica entre nós como essa voz muito singular do ponto de vista da estrutura narrativa contra o racismo. Ele modifica radicalmente o ponto de vista e o foco narrativo e promove mudanças na sociedade”, destacou Lages Monteiro. 

Escritor relembra 1º encontro com Assis Brasil

Dilson Lages conheceu Assis Brasil presencialmente na década de 90 durante uma palestra na Universidade Estadual do Piauí (Uespi).  Na época, Lages era estudante do curso de Letras naquela instituição. 

"Aquela palestra é muito viva [na minha mente]. Naquela tarde chovia muito. Até hoje eu tenho a palestra gravada", relembrou Dilson Lages. 

O membro da 21º cadeira da Academia de Letras do Piauí destacou ainda que quando Assis Brasil voltou a morar no Piauí, teve a satisfação de estar envolvido em alguns de seus livros. 

"Suas obras começaram a ser editadas aqui, sobretudo através do trabalho realizado pelo livreiro Leonardo Dias. Tive a satisfação de estar envolvido na edição inicial de alguns desses trabalho", completou Dilson Lages. 

Velório

Quatro cadeiras estão dispostas ao lado do caixão. Em uma delas está sentado Leonardo Dias, da livraria Entrelivros, o amigo, que se tornou filho. O escritor Dilson Lages também está ao lado do corpo de Assis Brasil com os olhos marejados. 

O velório acontece com pouca movimentação. O corpo de Assis está coberto por flores brancas e azuis. Ao lado do caixão, estão três coroas de flores: uma da Academia Piauiense de Letras, outra da Instituto Dom Barreto é uma terceira da Pax União. 

O sepultamento do corpo está marcado para acontecer às 16h no cemitério Jardim da Ressurreição, na zona Sudeste se Teresina.

 

Flash Nataniel Lima
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