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Brasileiros lutam para quebrar hegemonia africana na São Silvestre após 2020 sem prova

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Existe um provérbio africano, segundo o maratonista Daniel Nascimento, 23, que diz: quem deseja ir rápido, deve correr sozinho, mas quem deseja ir longe, deve ir em grupo. 

Para ele e Grazieli Zarry, 23, a máxima ajuda a explicar a hegemonia dos africanos na São Silvestre, corrida de rua mais famosa do Brasil que volta em sua 96ª edição na sexta-feira (31). Os dois atletas são as principais esperanças do Brasil de retomar o pódio.

"Seria legal se todo mundo se ajudasse", reflete Zarry. Ela diz, porém, que, no Brasil, é cada um por si.

O último vencedor brasileiro, Marilson Gomes dos Santos, levou o título em 2010. Dentre as brasileiras, a última foi Lucélia Peres, em 2006. Desde então, etíopes e quenianos dividem as últimas dez vitórias na competição.

O Quênia lidera a soma de edições vencidas -são 15 masculinas e 14 femininas. O Brasil vem na sequência no masculino, com 11 vitórias, e em terceiro no feminino, com 5 -duas a menos que Portugal, com 7 títulos entre as mulheres.

"O Brasil é o país do futebol, a África [o continente] do atletismo", diz Daniel em entrevista coletiva na quinta-feira (30). Ele diz que passou a treinar no Quênia para estar entre os melhores, mas não esquece da história brasileira no atletismo: "Eles aprenderam com a gente de 1995 a 2000. Agora temos que ir lá buscar [a excelência] para trazer de novo".

Tradicional a ponto de estar no calendário turístico de São Paulo, a São Silvestre volta às ruas do centro da cidade depois do primeiro cancelamento da história da competição, no ano passado.

O retorno oficial da corrida contará com nomes de peso dentre os atletas de elite. Além de Daniel e Grazieli, correm Elisha Rotich, queniano recordista da Maratona de Paris de 2021, Sandrafelis Chebet, também queniana e vencedora da prova de 2018, e o etíope Belay Bezabh, ganhador no masculino em 2018.

Alguns estrelados largam com o público geral, caso de Emerson Iser Bem, campeão em 1997, e Marílson dos Santos, tricampeão e último atleta nacional a vencer a competição, em 2010.

A alta nos casos de Covid-19 no Brasil, com aumento de 50% em relação às duas semanas anteriores, para cerca de 6.000 casos diários, não impediu a prefeitura de manter a corrida -e nem os atletas de desejar correr.

É o caso de Sandrafelis Chebet, que disse em entrevista coletiva na quinta-feira (30) que a vida não pode parar por causa da pandemia.

Para a segurança do evento, protocolos foram adotados, caso das máscaras, ainda obrigatórias em espaços abertos, que devem ser usadas nas concentrações de largada e de chegada. Durante a corrida o uso é facultativo, embora recomendado.

Outra adaptação à pandemia é a necessidade de comprovar ao menos uma dose da vacina contra o coronavírus -no caso da falta de uma das doses de vacinas duplas, é necessário apresentar um teste negativo para a doença. 

O regulamento do evento estipula que tanto o passaporte vacinal quanto os testes precisam ser apresentados no momento de retirada do kit do atleta, que inclui brindes de patrocinadores e a camiseta da edição.

A presença da plateia na avenida Paulista, que costuma oferecer água aos corredores em outro aspecto tradicional da competição, ficou suspensa para evitar aglomerações.

A prova começa com a largada dos corredores com deficiências, às 7h25, seguidos pela elite feminina, com 20 atletas, às 7h40. A elite masculina, com 21 atletas, e o pelotão geral, com 20 mil participantes, largam às 8h05.

Os inscritos foram limitados por causa da pandemia de Covid-19. Em 2019 foram 35 mil corredores, 15 mil a mais que em 2021.

No ano passado a corrida foi suspensa pela primeira vez na história. Desde a estreia, em 1925, nem a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Segunda Guerra Mundial foram capazes de impedir a realização da prova.

Para os brasileiros Daniel e Grazieli, a suspensão significou mais tempo de treino -feito, muitas vezes, com máscaras, seguindo os protocolos do lugar em que estivessem no momento. "Não parei na pandemia, o trabalho duro continuou", disse Grazieli, nesta quinta-feira (30).

A São Silvestre, batizada em homenagem ao santo do dia 31, data em que é realizada desde o início, é uma empreitada do jornalista e empresário aficionado por esportes Cásper Líbero.

Ao ver uma corrida noturna em que os corredores carregavam tochas para iluminar o trajeto em Paris, o comunicador decidiu implementar uma ideia similar no Brasil.

Assim nasceu o que é hoje a corrida de rua mais famosa do país: com participantes exclusivamente homens e brasileiros correndo por 8,8 km durante a noite paulistana.

Ao longo de suas 96 edições a competição sofreu uma série de mudanças. A partir de 1945 ficou permitida a participação de estrangeiros da América do Sul e, diante da popularidade da medida, em 1947 passou a valer para corredores do mundo todo.

A presença feminina começou só em 1975, na esteira do Ano da Mulher declarado pela ONU (Organização das Nações Unidas).

A maior mudança, porém, veio depois de 1988, quando a corrida passou a se adequar às normas da então IAAF (hoje, World Athletics, órgão que gere o atletismo mundialmente).

O trajeto passou a ter 15 km, mínimo estabelecido para figurar no calendário oficial, e a corrida passou a ser de dia -polêmica entre os fãs do evento, já que era considerado um dos marcos do Reveillon paulista.

Ante o cancelamento da corrida em 2020 em decorrência da pandemia -na época, vacinas ainda não estavam disponíveis- alguns corredores amadores organizaram a própria corrida, noturna, na qual viravam o ano correndo.

"Tem um resgate da São Silvestre que eu via na televisão quando criança", disse o corredor Demétrius Carvalho em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no ano passado.

Fonte: Folhapress

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