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Brasil tem 3,5 mi de crianças hipertensas

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O foco das atenções neste domingo é a hipertensão arterial, já que 26 de abril é considerado Dia Nacional de Combate à doença. Muitos acreditam que o problema está relacionado apenas aos adultos. Sério engano. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), cerca de 3,5 milhões (5%) de crianças e adolescentes do País são portadores de pressão alta.

Segundo dados parciais de uma pesquisa conduzida pela nefropediatra Denise Saraiva, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), 15% das pessoas de 11 a 18 anos avaliadas em uma escola pública da cidade de Campinas, São Paulo, são consideradas pré-hipertensas ou hipertensas. Dados semelhantes foram observados pelo núcleo de atendimento ambulatorial da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo. A orientadora dos dois estudos é a cardiologista Fernanda Consolim-Colombo, médica-assistente do Instituto do Coração e membro das Sociedades Brasileiras de Cardiologia e de Hipertensão.

A obesidade infantil é o principal fator de risco para desenvolver a patologia nos pequenos. E o número de jovens do País com sobrepeso ou obesidade tem aumentado nas últimas décadas, principalmente por causa dos hábitos alimentares inadequados e pelo sedentarismo. A estimativa atual é de 16%, segundo a SBH. É o caso de Diego Alaminos Garcia Silva, 13 anos, que foi ¿fofinho¿ desde bebê, como conta sua mãe, Adriana Alaminos Garcia Silva. A hipertensão do garoto foi descoberta por acaso com 11 anos, quando precisou fazer exames médicos para iniciar aulas de futebol. Ela conta que o filho começou a tomar remédios contra a doença e entrou num tratamento multidisciplinar, com cardiologista, nutricionista, psicólogo e professor de condicionamento físico. "Ele emagreceu 10 kg em três meses", lembra.

Doença
A doença é caracterizada pelo aumento dos níveis de pressão arterial. "Para ser considerado hipertenso, é preciso fazer várias medidas em dias e horários diferentes, e a maior parte delas tem de ser considerada alta", diz José Luís Aziz, professor de cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da regional ABCDM da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

É importante ressaltar que a pressão ideal de uma criança ou adolescente depende de sua altura, sexo e peso. A de um adulto acima de 18 anos, por sua vez, é a de 120/80 mmHg, sendo que valores até 130/80 podem ser considerados satisfatórios.

Há dois tipos de hipertensão. A primária é a mais comum e não tem uma causa específica, mas muitos fatores associados. "São: componente genético, já que filhos de hipertensos têm 30% mais chance de virem a ser também hipertensos; dieta desequilibrada, com muito carboidrato e sal; obesidade, sedentarismo, estresse", enumera a cardiologista Fernanda Consolim-Colombo.

A secundária, por sua vez, é uma resposta a algum problema, como alteração nos rins ou artérias renais, na tireóide ou nas glândulas supra-renais, por exemplo. "No caso da primária, pedimos para que as crianças mudem os hábitos inadequados. Se não resolver ou se a pressão for muito alta, é preciso associar tratamento medicamentoso. No segundo tipo, tem de solucionar o que desencadeou a hipertensão", explica Fernanda.

Alguns estudos apontam que bebês que nascem com baixo peso, por exemplo, estão mais suscetíveis à hipertensão. "Pesquisas também relacionam a alimentação não balanceada da grávida, principalmente com muita ingestão de sódio, à maior predisposição do filho de desenvolver o problema", acrescenta a cardiologista Fernanda.

Risco
Um dos perigos da patologia é o fato de ser silenciosa. A maior parte dos pacientes não apresenta sintomas e, por isso, é importante que os jovens visitem o médico regularmente para detectá-la no princípio. "Algumas crianças podem mostrar indícios da doença, como serem irrequietas, terem insônia e reclamarem de dor no peito e cansaço", conta o professor de cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo a pediatra e homeopata Márcia Picolli, é preciso medir a pressão da criança pelo menos três vezes ao ano durante as consultas ao médico. "Se for detectada alguma alteração, o quadro deve ser investigado mais a fundo com exames de dosagens hormonais e avaliação cardiológica", afirma Márcia.

O risco da pressão alta é que, mantida por longo tempo, pode causar danos nos vasos. Quando isso acontece, a irrigação de sangue para os órgãos (principalmente coração, cérebro e rins) diminui, aumentando as chances de ter acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio, insuficiência renal ou cardíaca, entre outras complicações graves.

Prevenção
Como prevenir é sempre o melhor, basta mudar os hábitos. Não deixe seus filhos passarem muitas horas em frente à TV ou jogando videogame enquanto comem salgadinhos e doces. Incentive a prática de esportes e a alimentação saudável, com variedade de frutas, verduras e legumes. Foi o que fez o menino Diego assim que descobriu a doença. Ao lado do tratamento multidisciplinar, ele aderiu à natação, hidroginástica e futebol, o que o ajuda a manter o peso ideal e, conseqüentemente, a controlar a pressão.

Adultos
Os adultos são os mais atingidos pela doença, cerca de 30%, como informa a SBH. Mais de 50% das pessoas na faixa da terceira idade têm pressão alta. No Brasil, a hipertensão é responsável por 40% dos infartos, 80% dos acidentes vasculares cerebrais e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.

Apesar dos números preocupantes, uma pesquisa divulgada neste mês pela Socesp aponta que apenas 6% dos paulistas conhecem a taxa ideal para a pressão arterial e 38% dos entrevistados não souberam ao menos responder a questão. O estudo foi realizado em 2008, com 2.096 pessoas, entre 14 e 70 anos, em 85 cidades do Estado de São Paulo.

Assim como as crianças e adolescentes, as pessoas acima de 18 anos também têm de ficar de olho na alimentação e evitar a obesidade e o sedentarismo. Outras dicas de prevenção e controle da doença são medir a pressão pelo menos uma vez por ano, reduzir o consumo de álcool (se possível, abandoná-lo), deixar de lado o tabagismo e não se estressar. Vale lembrar que os hipertensos não podem parar o tratamento, que é para a vida toda.

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