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Conheça o único goleiro das quatro divisões nacionais que ainda não levou gol

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O goleiro Alex Alves, 35, aguça olhares curiosos nas arquibancadas a cada nova partida do São Bernardo na Série D do Campeonato Brasileiro.

Na última delas, na vitória por 1 a 0 diante do Santo André, rival local, era possível ouvir ainda no aquecimento os torcedores do Ramalhão o provocarem a cada bola chutada no gol pelo preparador de goleiros.
"É hoje, hein? Hoje a tua sorte acaba", gritavam.

Sem grande fama e bem distante das equipes de maior porte do país, ele é o responsável direto pelo time do ABC paulista ostentar um recorde considerável até aqui: o único que ainda não sofreu gols entre todos os 124 que compõem as quatro divisões nacionais -as séries A, B, C e D.

Contando, já são 1.175 minutos, 12 partidas ou 107 dias sem ver a bola entrar nas redes. E até pênalti ele defendeu no período.

"Claro que nunca planejei algo assim. Prefiro entender que são os planos inexplicáveis de Deus por tantas coisas que já passamos", completa.

Alex tem como principais referências Marcos, Rogério Ceni e Dida, mas sua carreira tem menos ligação com a fama dos ídolos e mais com a realidade de grande parte dos atletas do país.

"Minha vida sempre foi muito difícil. Nunca recebi bem, conseguia só manter as minhas contas, sem nenhuma estabilidade. Tudo sempre foi muito contado", relata.

A construção da nova fama começou, curiosamente, logo depois de uma goleada. Titular na campanha do São Bernardo no último Campeonato Paulista, a equipe se classificou às quartas de final, mas acabou eliminada para o São Paulo por 4 a 1, no Morumbi, em 22 de março deste ano.

"É a prova que sofro gols", brinca. "O grande mérito nosso foi mantermos a base daquela equipe, toda a nossa defesa ficou e isso ajudou muito na Série D".

"E quem fala que é mais fácil por ser Série D, não sabe o que diz. Já joguei todas as divisões e sei que essa é uma das mais complicadas. Os jogos são muito disputados, a bola chega muito no gol", acrescenta.

No período, a invencibilidade foi sustentada com alguns milagres. Ele defendeu um pênalti diante do Oeste, na 4ª rodada, e viu o Cianorte chutar para fora uma penalidade nos minutos finais do jogo do último dia 19.

"Ouvi alguém gritando: 'caramba, tá difícil mesmo com esse cara'", relata.

Diante do Paraná, o milagreiro foi outro. Após Alex sair errado em um cruzamento, a bola foi salva de cabeça pelo zagueiro Islan, em cima da linha.

ANDARILHO

O goleiro que não sofre gols é um dos muitos andarilhos do esporte. Alex acumula passagens por 17 equipes do país e nunca teve espaço efetivo na Série A, apesar de ter jogado pelo Red Bull Bragantino entre 2017 e 2020.

Ele chegou ao clube indicado pelo técnico Marcelo Veiga e foi um dos protagonistas na conquista da Série C daquele ano, mas acabou perdendo espaço com a compra do clube pela Red Bull.

"Quando compraram, eu fui um dos poucos que permaneci. Perdi espaço depois, mas pelo menos consegui o meu primeiro apartamento", explica.

Alex conta ter iniciado no futebol quase sem planejar. Sem aula na escola em que estudava em Araçatuba (518 km de SP), em 2002, decidiu sair para correr pelo estádio municipal. Quando chegou, viu que a equipe profissional da cidade estava treinando e pediu por uma oportunidade.

Formado profissionalmente pelo clube do interior paulista, começou em 2007 a busca pelo sonho de poder efetivamente jogar.

Passou por Sertãozinho, Atlético-GO e Santa Cruz-RS até chegar ao Mogi Mirim, em 2010, onde alcançou a primeira grande sequência da carreira. Voltaria ao clube entre 2012 e 2014 e ainda passaria por outras equipes do país.

"Rodei bastante pelas dificuldades que os próprios clubes apresentavam. Quando você chega a um clube estruturado, quem quer sair? É assim aqui no São Bernardo, tive propostas, mas fiquei pela estrutura de trabalho e a seriedade", relata.

O futebol para o goleiro recordista quase precisou ser interrompido precocemente, em 2016, aos 30 anos -idade considerada ainda baixa para um goleiro.

Rebaixado com o XV de Piracicaba para a última divisão estadual, ficou três meses desempregado. Sem mais reservas financeiras, a esposa Mariana Alves precisou trabalhar em um call center, com salário de R$ 1.200, para sustentar os custos da casa.

"Foi um primo dela fazer uma instalação elétrica em casa e indicou para que ela trabalhasse nesse call center. Meses depois ela engravidou, e eu consegui retomar minha carreira", conta.

A carreira que acreditava já ter chegado ao fim recomeçou no Grêmio Prudente, onde foi contratado recebendo R$ 2.500 para disputar os últimos jogos da quarta divisão de São Paulo.

"Por isso tenho os meus pés bem fincados no chão. Muitas coisas passam e uma hora esse recorde, e até o futebol, também passará", conta. Até lá, contudo, ele será o alvo a ser batido.

Na Série D, os times que mais se aproximam são o Retrô-PE e o América-RN, com cinco gols sofridos cada. Já na elite o Palmeiras é o time que sofreu menos gols: 12 em 15 rodadas disputadas.

Na Premier League, o maior recorde reconhecido é o do holandês Edwin van der Sar, que ficou 1.311 minutos sem ser batido pelo Manchester United entre 2008 e 2009. Outra marca que pode ser quebrada por ele tão logo.

Ceni ficou 988 minutos sem sofrer gols na Série A de 2007, pelo São Paulo. A sequência entre 2 de agosto e 16 de setembro só foi interrompida pelo gol do meia Rodrigo Tabata, então no Santos.

O próximo desafio de Alex será contra o Paraná, neste sábado (9), no estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo. Pelo menos até lá, ele ainda será um goleiro imbatível.

Fonte: FOLHAPRESS

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