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Novas pesquisas associam ultraprocessados a câncer e mortalidade

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Foto: Freepik

 


Duas novas pesquisas vêm reforçar o papel deletério à saúde humana de dietas com elevada participação de ultraprocessados. Os novos estudos, publicados na revista científica BMJ nesta quarta-feira (31), mostram maiores riscos de câncer colorretal e de mortes em populações com alto grau de consumo desse tipo de alimento.

Um dos estudos foi feito nos Estados Unidos, com acompanhamento por mais de 20 anos. Os pesquisadores analisaram como a qualidade da alimentação pode impactar casos de câncer colorretal, segunda maior causa de morte por câncer no mundo.

Nos EUA esse tema é especialmente importante, considerando que cerca de 57% das calorias consumidas por dia pelos adultos do país é derivada de alimentos ultraprocessados, que são ricos em aditivos. O resultado do consumo desses produtos é a alteração da microbiota, maiores riscos de ganho de peso e aumento do risco de câncer colorretal.

Os cientistas usaram grandes bases de dados de profissionais de saúde americanos. As informações começam em 1986 (em um dos repositórios, em 1991). Ao todo, foram analisados dados de 159.907 mulheres e de 46.341 homens.

Segundo os dados levantados, foram documentados 1.294 casos de câncer colorretal entre os homens e 1.922 entre mulheres.

Após ajustar os resultados para diversas variáveis (buscando, assim, evitar efeitos de confusão), os pesquisadores concluíram que, entre os homens observados, a fatia com o maior consumo de ultraprocessados tinha um risco cerca de 29% maior de desenvolvimento de câncer colorretal, em comparação com a fatia que menos consumia esses produtos.

Os cientistas foram capazes de observar esses dados por causa de detalhados questionários bianuais que eram aplicados a profissionais de saúde.

Concluindo, dizem os pesquisadores, "o estudo observou que o elevado consumo de ultraprocessados em homens e certos grupos de ultraprocessados em homens e mulheres está associado a um aumento de risco de câncer colorretal".

O outro estudo, também publicado nesta quarta na BMJ, observou dados de 22.895 pessoas (com média de idade de 55 anos), obtidos como parte de uma pesquisa realizada na região de Molise, na Itália. Além disso, foram coletados dados de mortalidade de março de 2005 até dezembro de 2019.

Segundo os pesquisadores, o consumo elevado de ultraprocessados foi associado a maiores riscos de mortalidade por quaisquer causas, além de maior risco para mortes relacionadas a problemas cardiovasculares.

Um texto editorial da revista BMJ, assinado pelo professor da USP Carlos Augusto Monteiro -pesquisador que cunhou o termo ultraprocessado- e pelo cientista Geoffrey Cannon, acompanha os dois estudos.

Segundo Monteiro e Cannon, que citam diversos estudos que mostram o risco trazido por ultraprocessados, simples reformulações e trocas de ingredientes nesses produtos não são a solução para o impacto negativo deles na saúde das pessoas.

"Ultraprocessados reformulados seriam especialmente problemáticos caso fossem propagandeados como 'produtos saudáveis'. Eles permaneceriam parcialmente, principalmente ou totalmente como formulações químicas", dizem os especialistas.

Os cientistas fazem um paralelo dos ultraprocessados com o tabaco e ressaltam que ninguém sensato pode querer comida que traga prejuízos à saúde. "Todo mundo precisa de comida, mas ninguém precisa de ultraprocessados", afirmam Monteiro e Cannon.

A solução, segundo os pesquisadores, seriam ações de política pública, inclusive com guias alimentares, para reduzir a produção e o consumo de ultraprocessados, além da regulação da promoção desse tipo de produto.

No Brasil, em 2020, uma nota técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, encaminhada ao Ministério da Saúde, buscou desqualificar e reformular o Guia Alimentar para a População Brasileira.

O guia, em linhas gerais, traz orientações de que a escolha dos alimentos seja baseada na classificação Nova, que agrupa os produtos pelo grau de processamento. Segundo o guia, quanto mais processados foram os alimentos, mais eles devem ser evitados, ou seja, trata-se de um documento que orienta o consumo de alimentos saudáveis.

Uma pesquisa recente brasileira mostrou que a aquisição de ultraprocessados tem aumentado no Brasil.

 

Fonte: Folhapress

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