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Explosão destrói parte de ponte estratégica que liga Rússia à Crimeia

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Foto: Reprodução/Redes Sociais 

Em momento delicado para as forças da Rússia, que acumulam derrotas nos campos de batalha da Guerra da Ucrânia, uma forte explosão destruiu neste sábado (8) parte da única ponte que conecta o território russo à península da Crimeia, anexada pelo Kremlin em 2014. A estrutura é considerada rota crucial de abastecimento para as tropas de Vladimir Putin no país invadido.

Autoridades russas afirmaram que um caminhão-bomba explodiu, o que provocou incêndio também em sete tanques de um trem que transportava combustível. Ao menos três pessoas morreram, segundo informações preliminares.

Trechos da ponte teriam desmoronado. Considerada um dos símbolos da anexação russa da Crimeia, a gigantesca estrutura rodoviária e ferroviária tem 19 km de extensão e é uma das maiores da Europa.

Após a queda do governo pró-Kremlin da Ucrânia, a Rússia capturou a Crimeia sem um único tiro em 2014. A ponte foi inaugurada com grande alarde pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin, quatro anos depois. A construção foi feita sobre o estreito de Kerch, que separa os mares Negro e de Azov.

Mais do que simbólica, a estrutura representa uma importante rota de abastecimento para as forças do Kremlin em Kherson, no sul da Ucrânia, e para o porto naval de Sebastopol, a principal cidade da Crimeia.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram partes das estruturas rodoviária e ferroviária destruídas, enquanto um trem é consumido pelas chamas. Uma câmera registrou o momento da explosão, que atingiu carros que passavam pelo local. Outras imagens capturadas à distância mostram fumaça espessa no horizonte.

Nos últimos dias, ataques contra alvos russos na Crimeia levaram pânico aos moradores da península. Os êxitos da contraofensiva ucraniana aumentaram a pressão sobre Putin, que determinou no mês passado a mobilização de 300 mil reservistas para lutar no conflito. Após a decisão, o mandatário russo registrou a primeira queda de sua popularidade desde a invasão do vizinho em fevereiro -a aprovação caiu de 83% para 77%, segundo o instituto de pesquisas Centro Levada, ainda independente na Rússia.

Neste sábado, Putin ordenou a criação de uma comissão para esclarecer a explosão. O Comitê de Investigação da Rússia informou ter identificado o proprietário do caminhão-bomba. Ele seria morador da região de Krasnodar, no sul da Rússia.

Autoridades ucranianas fizeram comentários irônicos sobre a explosão. O chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksii Danilov, publicou nas redes sociais um vídeo da ponte em chamas ao lado de outro vídeo de Marilyn Monroe cantando "Feliz aniversário, senhor presidente", em referência a Putin que completou 70 anos nesta sexta (7).

Autoridades ucranianas vinham expressando o desejo de destruir a ponte de Kerch. O serviço postal da Ucrânia informou neste sábado que imprimirá um selo especial para comemorar a explosão.

Várias ações de sabotagem foram atribuídas à Ucrânia desde o início do conflito. Após a explosão na ponte, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que a reação de Kiev à destruição da infraestrutura "testifica a sua natureza terrorista". Serguei Aksionov, governador russo da Crimeia, informou que o tráfego foi suspenso enquanto os danos eram avaliados.

A destruição da estrutura ocorre em um momento em que a Rússia vem sofrendo sucessivas derrotas no front. Após os reveses, Putin fez novas ameaças de guerra nuclear contra o Ocidente.

Nesta semana, o Ministério da Defesa russo passou a divulgar que parte dos reservistas mobilizados está sendo treinada para lutar num ambiente de guerra nuclear, química ou biológica.

Em meio ao crescente descontentamento na elite russa com o conflito, o Exército russo anunciou a nomeação do general Serguei Surovikin, 55, como comandante para o que ainda chama de "operação militar especial" na Ucrânia.

O general é um veterano da guerra civil no Tadjiquistão nos anos 1990, da segunda guerra da Tchetchênia (anos 2000) e da intervenção russa na Síria, lançada em 2015. Segundo relatório de julho do ministério da Defesa russo, Surovikin liderava agrupamento das forças ao Sul na Ucrânia.

O nome de seu antecessor nunca foi revelado oficialmente, mas de acordo com a mídia russa, era o general Alexander Dnornikov, outro veterano da segunda guerra tchechena e comandante das forças russas na Síria de 2015 a 2016.

Também neste sábado, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, acusou países do Ocidente de recorrer a "mentiras e manipulações" para elevar ainda mais a tensão no conflito. Segundo ele, os EUA e seus aliados tentam introduzir a retórica nuclear sobre a Ucrânia na agenda global.

"O Ocidente distorce tudo na tentativa de mostrar que é a Rússia que supostamente está expressando ameaças nucleares", disse Lavrov em entrevista ao jornal russo Argumenty i Fakty, segundo a agência de notícias Tass. "Várias manipulações e mentiras descaradas são exploradas [pelo Ocidente]. No entanto, estamos acostumados com isso."

Na quinta, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou que a Otan deveria atacar o território da Rússia "preventivamente" para que os russos "saibam o que acontecerá com eles se usarem" armas nucleares. A declaração atraiu críticas do Kremlin.

Na quarta (5), Putin finalizou a sanção das leis regulando a anexação do equivalente a cerca de 18% da Ucrânia, a maior tomada territorial à força na Europa desde a Segunda Guerra Mundial -Moscou já havia anexado a Crimeia, 4,5% do vizinho.

O Kremlin continuou sem definir exatamente quais fronteiras estão previstas na absorção denunciada como ilegal no exterior. O motivo são avanços de Kiev nas regiões de Donetsk (leste) e Kherson. Os ataques testam a retórica belicista de Putin, que prometeu usar até armas nucleares para defender o que considera novas partes da Rússia.
Numa tentativa de conter o avanço ucraniano, o Ministério da Defesa diz já ter alistado 200 mil dos 300 mil reservistas que deseja para combate, e que alguns poderão estar em ação já em novembro.

 

Fonte: Folhapress 

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