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Estados menos populosos concentram praias limpas no Nordeste

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Foto: Reprodução /Google Maps

Estados menos populosos do Nordeste concentram a maioria das praias da região que estiveram próprias para banho em 100% das medições ao longo do ano, aponta levantamento realizado pela Folha de S.Paulo.

Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba registraram 112 das 125 praias do Nordeste consideradas boa, ou seja, avaliadas como próprias para banho em todas as medições entre 1ª de novembro de 2021 e 31 de outubro de 2022.

Os dados de balneabilidade são monitorados pela Folha de S.Paulo há seis anos, seguindo as normas federais sobre balneabilidade. Um trecho é considerado próprio para banho se não tiver registrado mais de 1.000 coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Para a avaliação anual, é adotado o método da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que classifica as praias, a partir dos testes semanais, em boas, regulares, ruins ou péssimas. Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele.

Ao longo dos últimos 12 meses, o Nordeste registrou uma queda no número de praias boas comparado ao mesmo período em 2021.

Dos 462 dos pontos de medição de balneabilidade da região, a qualidade das águas foi considerada boa em 27%. No mesmo período em 2021, eram 39% das praias próprias ao longo do período pesquisado.

Entre as demais praias do Nordeste avaliadas neste ano, 25% foram consideradas regulares, 10% ruins e 15% péssimas. Os dados são referentes a sete estados -Piauí e Ceará não disponibilizaram os dados de avaliação de balneabilidade.

O estado de Sergipe foi o que mais se destacou em relação à qualidade da água do mar. Todas as 19 praias que tiveram medição de balneabilidade ao longo de 2022 estavam próprias em todas as avaliações, incluindo as nove praias com medições na capital Aracaju.

Superintendente da Adema, órgão estadual de Meio Ambiente, Gilvan Dias explica que as medições são realizadas semanalmente, com especial atenção para áreas onde desembocam rios ou onde desaguam galerias pluviais.

"Essas áreas são monitoradas dentro dos pontos em que há emissários. É feita uma análise mais detalhada e criteriosa", afirma Dias.

Desde 2019, ano em que o litoral dos estados do Nordeste foi atingido por grandes extensões de manchas de óleo, o órgão também faz monitoramento semanal de possíveis novos casos de poluição por combustíveis fósseis.

Alagoas e Paraíba também registraram a maioria de suas praias consideradas boas no período entre novembro de 2021 e outubro deste ano.

Nos cerca de 230 quilômetros do litoral alagoano, 31 dos 59 pontos de medição estiveram próprios para banho em todas as avaliações.

Entre elas, estão as famosas praias do Francês e do Saco, em Marechal Deodoro, além das praias de Barra de São Miguel -as duas cidades ficam no entorno de Maceió. Na capital, as praias de Pajuçara, bairro nobre da cidade, estão entre os pontos considerados próprios para banho.

Por outro lado, a paradisíaca Maragogi tem três pontos que ficaram impróprios durante a maior parte do ano, localizados nas praias onde desembocam os rios Persinunga, Salgado e Maragogi.

Na Paraíba, 40 dos 61 pontos de medição estavam próprios em 100% das medições. Outros 12 foram considerados regulares, dois ruins e dez péssimos.

O destaque fica por conta do litoral norte do estado, onde as praias das cidades de Mataraca, Baía da Traição, Rio Tinto e Lucena estavam próprias em todas as medições entre novembro de 2021 e outubro deste ano.

Em áreas mais densamente povoadas da Paraíba, contudo, o número de praias limpas o ano todo é menor. Em João Pessoa, por exemplo, apenas três pontos de medição estavam nesta situação: Barra do Gramame, além de trechos das praias do Bessa e Cabo Branco.

No Rio Grande do Norte, 22 praias foram consideradas boas, incluindo destinos turísticos como Pipa, Genipabu e Baía Formosa.

Na contramão dos estados menos populosos da região, Pernambuco e Maranhão não registraram praias consideradas boas neste período.

Em Pernambuco, a maioria das praias manteve o mesmo patamar de avaliação do levantamento de 2021. Longe do nível ideal para banho, as praias do Carmo e de Milagres, em Olinda, saíram de péssimo para ruim e foram as duas únicas que melhoraram.

Um dos destinos turísticos mais procurados do verão, a Praia de Carneiros, em Tamandaré, no litoral sul pernambucano, teve a classificação regular, com apenas uma semana do ano classificada como imprópria. Em 2021, o local teve 100% das semanas com classificação própria.

O balneário de Porto de Galinhas, em Ipojuca, tem índice regular pelo segundo ano seguido. A última vez que ficou com classificação boa foi em 2016.

No litoral norte de Pernambuco, 3 das 6 praias averiguadas estão péssimas, outras duas estão ruins e uma, regular. Cidades como Paulista e a Ilha de Itamaracá têm buscado se reinventar diante da preferência majoritária do público pelo litoral sul. Com a qualidade da água das praias em xeque para banhistas, enfrentam mais um obstáculo na corrida pela atração de turistas.

A Bahia, maior estado em população do Nordeste, teve 13 praias próprias em 100% das medições. O número representa uma queda vertiginosa em comparação ao mesmo período de 2021, quando 34 praias estavam limpas em todas as avaliações.

Entre as que eram boas e agora são classificadas como regulares estão algumas das mais famosas de Porto Seguro, como Mundaí, Mucugê e Nativos. Estão na mesma situação praias do litoral norte como Juá, Arembepe, Guarajuba, impróprias pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.

Em Salvador, nenhuma praia foi considerada boa nesse período. É a primeira vez que isso acontece em seis anos de monitoramento da Folha de S.Paulo.

O biólogo Clemente Coelho Júnior, da UPE (Universidade de Pernambuco), avalia que os dados não são mera coincidência e revelam a necessidade de planejamento urbano e de um crescimento ordenado, com preservação da biodiversidade, ocupação de solo adequada e respeito ao meio ambiente nas grandes cidades.

"Patinamos em coisas básicas, como o recolhimento de água servida e o destino do tratamento de 100% da água, o que ainda não evoluiu no Brasil. Poderíamos ter uma cidade com população maior e, com todo o planejamento, certamente teríamos uma qualidade boa da água", diz o biólogo.

 

Fonte: Folhapress (João Pedro Pitomo e José Matheus Santos) 

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