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Buscar diálogo deve ser prioridade com familiares tóxicos, mas se afastar é alternativa

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Foto: Freepik

 

Quando o isolamento social chegou ao fim, Pedro Henrique Lages, 24, sentiu que precisava se afastar da sua família. O professor do ensino básico percebeu que passou a ser criticado por tios e primos maternos sobre o peso que ganhou durante o isolamento.

Mesmo deixando claro que se sentia incomodado com os comentários, os parentes continuavam fazendo piadas, tocando seu corpo e dizendo que Pedro precisava "voltar a ficar bonito" -sugeriam, inclusive, cirurgias e procedimentos estéticos.

Em algumas situações, é necessário se afastar dos familiares, mas nem sempre cortar contato é a única solução Adobe Stock Mulher e homem brancos no sofá com expressões chateadas ** Mas será que o afastamento é sempre necessário? Para especialistas consultados pela Folha, a primeira tentativa deve ser sempre a comunicação. Eles ponderam, porém, que se distanciar pode ser necessário caso o familiar não esteja aberto ao diálogo.

O caso do professor apresenta características do chamado relacionamento tóxico. O termo se popularizou para descrever comportamentos desrespeitosos, invasivos e que causam sofrimento e desconforto, segundo Manuela Moura, psicóloga na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em terapia de casal e família. A profissional descreve como tóxicas as relações que são pautadas pela violência.

Para Moura, conflitos são necessários para que as expectativas dos indivíduos sejam alinhadas. Quando resolvidos na base do diálogo, fazem com que os laços familiares sejam estreitados, e que os membros se respeitem e se conheçam de maneira mais íntima.

Por outro lado, a falta de validação e segurança promovida por relações tóxicas faz com que os indivíduos se sintam negligenciados. O psicólogo especialista em terapia cognitivo comportamental Bruno Luiz Avelino Cardoso, professor adjunto da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que essas relações são perigosas pois podem interferir em outros aspectos da vida.

Segundo ele, a insegurança que esses relacionamentos podem causar, faz com que o indivíduo desenvolva baixa autoestima e espelhe o medo do abandono em relações futuras.

Para interromper o ciclo de violência, especialistas recomendam falar sobre o desconforto com os familiares.

Para que a comunicação funcione, os parentes precisam estar dispostos a resolver os conflitos. Isso pode ser mais fácil caso os envolvidos já tenham vivido, em algum momento, uma relação harmônica e o embate tenha surgido após um período de dificuldade como a adolescência ou um aperto financeiro, por exemplo..

Quando a falta de diálogo existe há mais tempo e a relação tóxica está mais enraizada, a ajuda de um profissional pode ser necessária. Uma alternativa é a terapia familiar, um processo que pode ser demorado e os indivíduos aprendem a identificar comportamentos prejudiciais e a respeitar opiniões e decisões do outro.

O afastamento, entretanto, pode ser necessário, diz a psicóloga e conselheira do CRP-SP (Conselho Regional de Psicologia de São Paulo), Valéria Braunstein. Isso acontece quando o familiar não está aberto ao diálogo ou quando a violência - mesmo que não for física - se torna insuportável.

Os psicólogos recomendam que, quando o distanciamento for indispensável, o indivíduo busque uma rede de apoio que possa proporcionar carinho e acolhimento.

Braunstein aponta, entretanto, que durante esse período é importante buscar autoconhecimento e autocuidado para evitar reproduzir os padrões tóxicos vividos em outras relações. A profissional afirma que esse afastamento não precisa ser absoluto e que deve ter, quando possível, o objetivo de abrir espaço para o diálogo futuro.

É o que Pedro decidiu fazer. Ele ainda visita a família no dia das mães, natal e aniversário da avó.

Essa não foi a primeira vez que ele e os parentes se distanciaram. Quando fez 15 anos, Pedro se descobriu gay e sofreu represálias das mesmas pessoas. Eles ficaram três anos sem se falar, até que a avó tomou a iniciativa de reunir a família e exigir que o neto fosse respeitado - hoje a homofobia entre eles não é mais um problema.

Apesar de ter o apoio da mãe, de um dos tios e de vários amigos, o professor diz esperar que seja possível se reaproximar dos outros familiares no futuro.

"Eu tenho esperança de aumentar esse grupo de pessoas que me fazem sentir acolhido", diz.


Fonte: Folhapress

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