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Pelé se revelou ao mundo aos 17 anos, na Copa de 1958

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Foto: Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo 


De repente, aconteceu Pelé. Foi assim -de repente.

Mais exatamente no dia 26 de fevereiro de 1958, num América x Santos, no Maracanã, pelo Torneio Rio-São Paulo, competição que ninguém levava muito a sério -talvez porque se fizessem substituições durante as partidas, coisa impensável em jogos oficiais. O América tinha o goleiro Pompéia, o "Fantasma Voador"; Canário, futuro ponta do Real Madrid; e Romeiro, que depois faria carreira no Palmeiras. Mas o ataque do Santos era Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe.

Deu Santos, 5 a 3, com quatro gols de Pelé. Ao apito final, Nelson Rodrigues foi para a redação da Manchete Esportiva e escreveu uma crônica em que, seis meses antes da revista francesa France Football, chamou Pelé de Rei.

Aquele Rio-São Paulo, sim, seria para valer, porque a então CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) avisou que faria dele laboratório para a escolha dos jogadores que iriam à Copa do Mundo na Suécia, em junho. Pelé, aos 17 anos, não era um segredo em São Paulo. Aliás, até já atuara uma vez pela seleção no Maracanã, contra a Argentina, em 1957. Mas só a partir do Torneio Rio-São Paulo é que se revelaria ao Brasil inteiro.

Geraldo Borges, repórter de campo da principal emissora de esportes do Rio, a Continental, comandada por Waldir Amaral, o chamava de "Pelê" -ecoando, quem sabe, o nome mais familiar de Telê, do Fluminense. Ou seja, até para os radialistas mais cascudos, Pelé era uma novidade. Um mês depois, ao fim do torneio -vencido pelo Vasco de Bellini, Orlando e Vavá-, ninguém no Brasil se atrevia a desconhecer Pelé.

Assim como, hoje, ninguém desconhece o que ele representou para a seleção em 1958. Jogou as quatro últimas partidas, marcou seis gols (alguns, de placa) e só não foi o maior jogador do time porque nele havia Didi, sem falar em Garrincha. Mas um episódio acontecido pouco antes da Copa é que reflete a sua importância -e desmoraliza uma história que vive sendo repetida.

Às vésperas do embarque para a Europa, a seleção brasileira fez um jogo-treino contra o Corinthians no Pacaembu. Venceu por 5 a 0, mas perdeu Pelé, tirado de campo pelo duro zagueiro corintiano Ary Clemente -e virtualmente fora da Copa porque parecia não haver tempo para a sua recuperação. Se fosse verdade que aquela seleção dava preferência a jogadores brancos sobre os negros, ali estava a oportunidade para se trocar Pelé por Almir, do Vasco, que fora cortado e também era craque. Mas a CBD preferiu apostar em Pelé -e rezar para que ele tivesse condições de jogo em algum momento da Copa.

O que só aconteceu na terceira partida, contra a então URSS. E, a partir dali, tudo seria história.


Fonte: Folhapress (Ruy Castro)

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