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De ponto turístico, Barragem vira “romaria das lamentações”

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Se antes era ponto de lazer, a área da Barragem de Algodões I, em Cocal, no Piauí, local do desastre que matou sete pessoas (até agora contabilizados pela Defesa Civil) e deixou 3 mil pessoas desabrigadas, virou “romaria das lamentações”.
 

 
Visitantes nunca vistos e de cidades da redondeza e até do Ceará, o local está atraindo pessoas para ver de perto a tragédia e se impressionam com a devastação deixada pelas águas. “Aqui tudo era uma área plana, tinha casas, coqueiros, bares e até um pesque pague”, conta a estudante Maria Siqueira Silva, 21 anos, que frequentava o local para tomar banho com a família. Neste sábado, ela voltou à barragem e tirava fotos no celular do que restou do local. “É impressionante o deserto que virou esse lugar. É assustador e inacreditável”, dizia a estudante que é de Cocal dos Alves, cidade a 40km de Cocal.

A incredulidade da estudante é compreensível. Num raio de três quilômetros (que leva mais de 1h30 a pé) o cenário é de total destruição. São pedras e mais pedras, algumas do tamanho até de um carro, misturadas a areia e árvores de mais de 15 metros caídas no leito do rio. O percurso até a barragem tem que ser feita a pé, o acesso a carro é impossível e proibido. São crateras gigantescas e paredões que parece mais um grande canyon.
 

No percurso se ver troncos de árvores, postes de energia quebrados ao meio e uma peregrinações de visitantes. No local, moravam cerca de 40 famílias, bem em frente à barragem e que foi totalmente arrastada pelas águas. Agora, só existem pedras e nenhum sinal de vida.

O agente de Saúde, Wladimir Machado de Albuquerque, 35 anos, morava a uns 500 metros do paredão da barragem se emociona ao falar do desastre. Ele e a mulher conseguiram sobreviver. “Mesmo com a orientação de voltar para casa, vi que a barragem iria encher e ‘pipocar’ a qualquer hora. Por isso tive tempo de sair”, disse o agente de saúde que condenou a obra por há sete anos estar com o sangradouro bloqueado.
 
 
A professora Conceição Soares de Macedo, 45 anos, veio de Viçosa para ver os estragos na barragem. “Meu Deus. A gente pensa que é um dilúvio passou aqui”, disse a docente.
 
Caminhando em trechos pontiagudos, a dona de casa, Maria Raimunda de Jesus Morais, 52 anos, feriu o pé e estava sangrando. “A dor não é no pé e no coração. Vim ver essa destruição e só tinha visto isso em filmes. É pavoroso”, disse.
 
Lamentando as mortes na região, Edmilsa Oliveira Araújo, 45 anos, que mora no povoado Campestre, em Cocal, para em frente a uma cruz colocada em meio às pedras e reza. “Peço a Deus pelos mortos e que dê esperança de viver aos sobreviventes”.
 

 
A barragem Algodões I foi concluída em 2001 no governo Mão Santa, atual senador pelo PMDB. A obra era para se transformar num reservatório para abastecer as famílias no período da seca. No entanto, ela nunca foi usada para esse fim. Virou ponto turístico da região. Ela acumulava 52 milhões de metros cúbicos de água e agora está praticamente vazia.
 

 
Por virar área nobre, devido à represa, existiam também casas de fazendas e até mansões, como a do ex-prefeito da cidade, José Maria Moção, que foi cassado e concluiu a obra há 15 dias. Ele investiu cerca de R$ 80 mil na residência que foi “mastigada” pela onda de água de mais de 10 m de altura na última quarta-feira.       
 
Yala Sena
Direto de Cocal (PI)

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