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Blocos de rua destacam papel político e combate ao preconceito e inclusão social

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Em Teresina, durante o Carnaval, os blocos de rua animam foliões e arrastam milhares de pessoas para as ruas e bairros da capital. Mesmo sendo um momento de festa e folia, as organizações dos blocos buscam trazer temas e levar mensagens com teor político, social, além de destacar o respeito e a igualdade.

Durante os últimos anos, o tradicional bloco do Paçoca, do bairro Saci, zona sul de Teresina, foi à rua com diversos temas. De acordo com o presidente Messias Júnior, este ano, o bloco quer valorizar a cultura do samba e exaltar o gênero musical que representa a origem do Paçoca e uma história de resistência. 

“Esse ano nós estamos pautando o samba porque a origem do Paçoca é do batuque e a gente ver no Carnaval poucas rodas de samba, tem muito cover, muitas músicas Axé, música de outros Carnavais, no entanto, nós temos muito sambistas, com músicas autorais e a gente tem que incluir os sambistas e o tema deste ano é: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é”, explica o presidente.

Fotos: Rebeca Lima/Cidadeverde.com


 
Em 2020, última edição antes da pandemia de Covid-19, outro tema abordado pelo bloco foi a equidade de gênero e o respeito às etnias. Para Messias Júnior, a mensagem de ordem na folia é zero discriminação.

“Chegamos em 2020 com o tema "Por trás das fantasias todo mundo é igual", ou seja, homem e mulher são iguais, branco, preto, índio, são iguais, ricos e pobres são iguais, tem algumas diferenças, claro que tem, ou é biológica ou é de condição social, mas para nós, todos são iguais e precisam ser respeitados. Nós não admitimos, aqui no bloco do Paçoca, preconceito, racismo, não permitimos que as pessoas sejam intolerantes com as outras”, reforça.

Messias Júnior explica que ao longo dos anos, o bloco do Paçoca também foi evoluindo politicamente e socialmente. Apesar de ter sido criado por um grupo de homens e nascido em uma sociedade machista dos anos 80 e 90, o presidente ressalta que a preocupação com a inclusão social e o respeito foi fazendo com que o bloco pautasse os temas sociais.

“Foi sempre uma preocupação nossa, com a alegria, com a folia do povo do Saci, mas o compromisso social e político e nós vimos evoluindo com essa temática mais política que é da inclusão social, do respeito às pessoas, respeito à cidadania. É um bloco que nasceu numa sociedade machista estrutural como a nossa, só de ‘macho’, com o tempo nós incorporamos as mulheres”, conta.

Além disso, o presidente explica que o próprio nome do bloco vai trazer outras referências, como da gastronomia piauiense e que suas cores, laranja e verde, agora também irão chamar a atenção para a defesa da Natureza.  

“A origem, que era paçoca de sebo, bumbum de alho e porca que fuça nós estamos resgatando e queremos apresentar o Paçoca agora como paçoca de Campo Maior, paçoca da carne de sol, para referenciar nossa gastronomia que é uma das melhores do Brasil. E as cores, laranja e limão, que representava naquela época apenas o tira-gosto da cachaça e agora representa a defesa da Natureza, nós temos que defender a Natureza. Nós não vamos em medida nenhuma negar nossa origem, mas vamos evoluindo também”, conclui.

Na capital, um dos maiores blocos de responsabilidade política e social foi o Sanatório Geral, que teve seu fim divulgado no início deste ano por um dos seus fundadores. Em entrevista ao Cidadeverde.com, Arimatan Martins, explica que o bloco surgiu para contrapor o Carnaval oficial das escolas de samba e para trazer a participação popular.

Foto: Yala Sena/Cidadeverde.com


 
“Ele veio no momento de ocupar um espaço deixado vazio pela oficialidade, que já não existia mais os blocos, só existia as escolas de samba e não tinha participação popular, as pessoas iam como expectador, e o Carnaval de Teresina é um Carnaval tradicional pela participação popular, sempre foi, as classes populares, os negros, a questão de gênero sempre foi muito presente e o Sanatório Geral surge no eixo contrário ao Capote da Madrugada e o local escolhido foi justamente onde no passado havia a dispersão das escolas de samba, onde geralmente era formado por negros, as elites não participavam do Carnaval de rua e ele vinha para ocupar esse espaço do sábado de Carnaval que não havia nada”, explica Arimatan.

Arimatan Martins também destaca que o Carnaval sempre teve um compromisso político e era um espaço livre onde as pessoas podiam manifestar suas queixas e reclamações.  

Foto: ArquivoCidadeverde.com

“Carnaval é também um ato político e os blocos têm que ter esse compromisso. Carnaval não é só uma fantasia luxuosa e só fazer 'oba-oba' não, Carnaval tem um compromisso, sempre foi assim, samba é uma resistência, e o Carnaval era a hora que o povo ia para a rua e manifestava com permissão legal as suas queixas, as suas dores, as suas reclamações, então o Carnaval nunca vai perder isso como o samba não pode perder”, ressalta Arimatan.

Apesar de ter encerrado suas atividades e ter cumprido com seu objetivo, segundo Jorginho Medeiros, outro fundador do bloco, Arimatan relembra o significado e importância do Sanatório Geral com seu papel político, estético e ético.

“O Sanatório era um ato político tanto que você não cobrava ingresso, e livre, junta todo tipo de pessoa, não exclui ninguém, é um bloco inclusivo, o Sanatório é um bloco da alegria, da felicidade, das diferenças, mas é um bloco político, estético e ético”, conclui Arimatan. 

Foto: Arquivo/Cidadeverde.com

 

Rebeca Lima
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