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Novo presidente do PT-SP quer reerguer partido e replicar alianças de Lula

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Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados

Kiko Celeguim se apresentou como "a nova cara do PT" em sua campanha a deputado federal em 2022. Vitorioso, o petista de 38 anos assumiu ao mesmo tempo uma cadeira na Câmara por São Paulo e a presidência estadual do partido, no lugar de Luiz Marinho, que renunciou ao virar ministro do Trabalho.

Ex-prefeito de Franco da Rocha (região metropolitana da capital paulista), Kiko ?que deixou o nome de batismo, Francisco, ao entrar aos 20 anos na política? quer mostrar qual é "a nova cara" e trabalhar para restabelecer a legenda no estado, como ele diz em entrevista.

Vindo de uma sequência de resultados negativos, quebrada parcialmente com a votação recebida no ano passado, o partido vive uma fase de esvaziamento no estado onde foi fundado.

Líderes locais se deslocaram para Brasília para compor o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atuar no Congresso. Com menos prefeitos eleitos, a sigla tem renovação capenga e vê o PSOL avançar na raia da esquerda.

Celeguim é filho do também ex-prefeito de Franco da Rocha e atual deputado estadual, Mário Maurici (PT), e teve o apoio de Marinho para sucedê-lo, deixando contrariada a deputada estadual Professora Bebel (PT), que almejava o posto e cobrou um debate interno mais aprofundado antes da escolha.

O novo presidente do diretório contemporiza a influência do pai em sua trajetória e diz que os dois fizeram carreiras paralelas. "Eu não herdei nada", afirma ele, que se define como "um líder regional" e, para se aproximar das bases no estado, dividirá sua agenda entre Brasília e as cidades paulistas.

Com fala pausada e mais familiarizado com as redes sociais do que a geração de fundadores do PT que ora se distancia do comando paulista, Celeguim diz que "a vitória do Lula foi o primeiro ato da derrota do bolsonarismo" e que as eleições do ano que vem precisam continuar a tarefa.

ELEIÇÕES 2024

Para o dirigente, o PT deve replicar a lógica de alianças da corrida presidencial com partidos de esquerda e centro-esquerda, mas pode compor com quadros democráticos do PSDB e de outras forças da centro-direita, a depender da conjuntura em cada cidade. De 70 prefeitos eleitos no estado em 2012, os petistas caíram para 8 em 2016 e somente 4 em 2020 (Araraquara, Diadema, Matão e Mauá).

Celeguim comemora os resultados obtidos por petistas no ano passado e diz que 45% da população paulista não escolheu o bolsonarismo, mas acha difícil uma transferência automática desse desempenho para a próxima eleição.

"Agora, as forças de esquerda têm que estar unificadas, numa tática coesa, para a gente intensificar o enfrentamento institucional das forças antidemocráticas. A derrota do bolsonarismo não é uma disputa partidária simplesmente, mas uma derrota de uma visão de mundo que flerta com o autoritarismo."

No PT, candidaturas jovens serão buscadas para as vagas de vereador, e nomes experientes podem ser considerados para concorrer a prefeito. "Temos nas cidades figuras novas, mas também as que já foram testadas nas urnas."

APOIO A BOULOS

Celeguim diz se comprometer com o acordo com Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo. O apoio deixará o PT sem candidato próprio na cidade pela primeira vez em 40 anos e sofre resistência de setores internos, pela perda de protagonismo e risco para as campanhas de vereadores.

"Esse acordo vai ser construído ao longo do próximo ano, e o Boulos sabe disso, que as pessoas do PT têm opinião, que existe democracia interna e espaço para críticas", afirma.

"Neste momento, o mais importante é manter a frente de sustentação do presidente Lula e derrotar o bolsonarismo mais uma vez. Todos os partidos alinhados com essa tática têm que fazer o seu sacrifício."

INTERIOR BOLSONARISTA

No interior do estado, a profusão de fake news influenciou o apoio a candidatos de direita e a aversão ao PT, avalia o presidente estadual do partido. Ele minimiza a identificação de parte do eleitorado com o conservadorismo e aposta que o avanço do governo Lula ajudará a quebrar barreiras.

Celeguim considera que o bolsonarismo não se instalou em um nível extremo nas prefeituras, mas há "um perigo de isso acontecer", com Tarcísio de Freitas (Republicanos) como governador, trabalhando para filiar quadros aos partidos de sua base aliada. "Nosso papel é nos organizarmos para evitar essa institucionalização do bolsonarismo, que afeta as políticas públicas na ponta."

PAI POLÍTICO

Formado em relações públicas, Celeguim fez carreira em gabinetes políticos. Seu pai governou Franco da Rocha entre 1993 e 1996. O filho, então com 20 anos, foi eleito vereador em 2004. Virou prefeito em 2013 e se reelegeu, fazendo em 2020 o sucessor, Dr. Nivaldo (então no PTB, hoje sem partido).

Membro da CNB (Construindo um Novo Brasil), a corrente interna majoritária no partido, Celeguim menciona a distância de tempo entre a passagem do pai pela prefeitura e sua ascensão para rebater "a conotação que as pessoas tentam dar, de que virou deputado por ser filho de alguém".

"Claro, tem um estímulo [do pai], a gente construiu. O Maurici disputou a última eleição dele nos anos 2000 e voltou a ser candidato em 2018. Nessa janela, ele foi trabalhar com o [então prefeito de Santo André] Celso Daniel e se mudou para o ABC Paulista. Não atuava politicamente em Franco da Rocha."

COMANDO PARTIDÁRIO

Celeguim se vê como "um militante de uma outra geração, com experiência administrativa e que pode liderar o partido no momento em que ele precisa se restabelecer e voltar a ter os espaços de poder que já teve um dia". A unidade partidária será a principal meta de sua gestão, com duração até 2025.

"Vou levar à nossa militância o recado de que o PT está vivo, muito vivo em São Paulo", afirma, citando o "melhor resultado do partido no estado desde 2002", com o percentual de 44% de votos obtido no segundo turno tanto por Lula quanto por Fernando Haddad nas disputas de presidente e governador.

O próprio deputado se vê como exemplo da "nova safra" da legenda e se diz grato pela oportunidade de chegar ao Congresso tendo feito carreira em "uma região pequena, pobre e esquecida do estado".

CARTILHA DE LULA

Como deputado federal, Celeguim ecoa as bandeiras do governo. Defende diálogo irrestrito do Planalto com parlamentares de diferentes partidos, comprou a briga contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e, assim como Lula, se opõe à abertura de CPI sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

"CPI deve acontecer quando existe qualquer tipo de desconfiança de prevaricação dos órgãos competentes. Não é o que está acontecendo. O Parlamento precisa se preocupar em fazer reforma tributária, pactuar com a sociedade uma nova âncora fiscal, tem outros temas para se debruçar. Quem quer CPI neste momento quer desviar a atenção e transformá-la em palco."

RAIO-X | FRANCISCO (KIKO) DANIEL CELEGUIM DE MORAIS, 38

Filiado ao PT desde os 16 anos e formado em relações públicas, foi vereador (2005-2008) e prefeito (2013-2020) de Franco da Rocha (região metropolitana de São Paulo). Eleito deputado federal em 2022 com 167 mil votos, assumiu neste mês a presidência do diretório estadual do PT em São Paulo, no lugar de Luiz Marinho, que renunciou ao se tornar ministro do Trabalho do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É filho de Mário Maurici (PT), ex-vereador e ex-prefeito de Franco da Rocha e deputado estadual reeleito em 2022.

Fonte: Folhapress/Joelmir Tavares

 

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